15 fevereiro 2015, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Beto Almeida*
Batalhão
de mulheres nas Forças Armadas do Irã
Os iranianos, herdeiros dos persas, povo altivo e forte,
construíram nação mediante palavra de ordem nacionalista, para se salvarem do
jugo imperialista anglo-saxão há 35 anos. Desde então, têm sofrido ataques
imperialistas que tentam reverter o curso da história traçado pela consciência
transformadora do povo. Mas, a determinação política dada pelo nacionalismo no
Irã ergueu-se como barreira intransponível para aqueles desejosos de uma volta
ao passado. Hoje, a indústria nacional iraniana é fonte de formação de mão de
obra altamente especializada engajada na defesa de estrutura produtiva
competitiva a partir da transformação da riqueza nacional, o petróleo, em
agregação de valor diferenciado, tornando o Irã fonte de transformações
quantitativas e qualitativas capazes de colocar o País no cenário internacional
como ator de primeira grandeza responsável por impor sua própria agenda
desenvolvimentista ancorada no interesse nacional. A revolução foi fundo, dotou
os iranianos de uma autoestima e uma autoconsciencia que resistiram e
continuarão a resistir a todas as tentativas de subjugá-los. Por conta dessa
postura independente, o Irã virou o jogo a seu favor e colocou os Estados
Unidos diante da necessidade de mudar seu discurso e sua postura na tentativa
de fazer com que os iranianos se subordinassem aos ditames de jogo de poder das
potências imperiais no sentido de impedir o país de alcançar sua
autosuficiência energética e seu desenvolvimento do ciclo nuclear. O Irã hoje
completa o ciclo do processo industrial, culminando com a produção bélica e
espacial sem a qual as inovações de ponta não se realizam, para
serem
posteriormente transformadas em bens e serviços no mercado de consumo, com
patentes próprias, dotando o país de fonte de recursos advindos das conquistas
científicas e tecnológicas. Tamanha desenvoltura e firmeza política, conquistada
por meio de determinação política que somente a revolução nacionalista
confere, representa exemplo significativos para os povos que lutam pela
sua independência como, por exemplo, os da América do Sul.
Já que estamos todos falando, diuturnamente, de petróleo
e Petrobras, falemos hoje de um país petroleiro, o Irã, que neste dia 11
de fevereiro festeja os 35 anos de sua Revolução, comemorada com gesto de
resistência daquele povo na defesa de sua soberania, que envia mensagens
importantes a todos os países, mas muito especialmente ao Brasil, também
ameaçado, em razão, entre outras, da grandeza dos mananciais petrolíferos
que possui e da importante, eficiente e potente empresa estatal petroleira que
construiu.
Tal como o Irã , em 1953, alvo de um golpe de estado
patrocinado pelo imperialismo inglês que veio a derrubar o presidente Mossadeg,
um nacionalista que corajosamente havia nacionalizado o petróleo iraniano,
também o Brasil veio a sofrer, em 1954, um ano após a criação da Petrobras, um
processo de desestabilização golpista que levou à morte o igualmente
nacionalista e popular presidente Getúlio Vargas. Tal como ocorreu no Irã, o
imperialismo também não aceitou, nem respeitou a soberana decisão do povo
brasileiro que, por meio de uma campanha popular “O petróleo é
nosso!”, que uniu militares, trabalhadores, estudantes e donas de
casa, e, nas ruas, conquistou a criação da Petrobras, sancionada por Vargas em
outubro de 1953. Essa mesma mídia que hoje afirma que a Petrobrás precisa ser
privatizada, que não tem sentido a presença da estatal na exploração e produção
do petróleo pré-sal, é a mesma mídia que dizia, em 1953, que Vargas era louco
por “criar uma empresa de petróleo num país que não o possui”.
É esta mesma mídia, teleguiada pelas grandes corporações
internacionais, que busca desconstituir a imagem da grande Nação Persa que ora,
sob vento e tempestade , envia ao mundo a suprema mensagem de ter sido
capaz de resistir por 35 anos às mais sórdidas agressões, sabotagens, sanções e
boicotes praticados pelos países imperiais derrotados com a
nacionalização do petróleo iraniano, uma das primeiras decisões da Revolução de
11 de fevereiro de 1979.
Mesquitas e revolução
Aquela revolução surpreendeu o mundo por seu enraizamento popular,
convocando homens, mulheres, transformando criativa e inteligentemente as
mesquitas, além de local sagrado para as preces, também em sagrado local para
cultuar a libertação, para projetar a transformação, para sonhar e organizar a
independência. Tal como Chávez e seu movimento bolivariano e os Capitães da
Revolução dos Cravos em Portugal transformaram os quartéis em espaços
libertários, também o povo persa enriqueceu as mesquitas com o local de
conquistar o futuro.
Hoje o futuro chegou para a Nação Persa. A indústria petroleira
iraniana é totalmente nacionalizada. Aqui começam as mensagens que a Revolução
Iraniana, nos seus 35 anos de edificação e resistência, envia ao mundo,
particularmente ao Brasil, que viu tenebrosa transação para desnacionalizar boa
parte das ações da Petrobras, a preços indecentemente desvalorizados, na
Bolsa de Nova York, em 1997. O Irã prova que é possível resistir e que mesmo
agredido, cercado, sabotado, sancionado, pode-se avançar, progredir e ter uma
indústria de petróleo sem um único técnico que não seja iraniano (antes de
1979, os técnicos eram ingleses em sua maioria), além de possuir uma
importantíssima capacidade de refino.
Como esta mídia que está tentando demolir a Petrobras e também
o governo que ampliou sua presença na economia petroleira não informa,
vale dizer que a refinaria de Shazand, próxima à cidade de Arak, será a
primeira no Iran com capacidade processar 4 mil barris diários, convertendo
mais de 90 por cento do óleo cru que recebe em gasolina, gás liquefeito,
propano, querosene, diesel , óleo e alcatrão. A maior do mundo! É impossível
não notar o contraste desta informação com declaração da
ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, de que a estatal brasileira não
teria condições de construir sozinha, ou seja, sem capital externo, novas
refinarias, propagando com isto uma nuvem de dúvidas e interrogações. Se o
Brasil é a quinta ou sexta economia do mundo e não tem capacidade para
construir novas refinarias, como é que o Iran que nacionalizou praticamente
toda sua economia petroleira tem? Esta seria apenas um delas, claro…
Quem é ameaça?
Nestes 35 anos, o Iran realizou regularmente 8 eleições
presidenciais pelo voto direto. Os EUA, nenhuma! O Iran não atacou, não
agrediu, não invadiu nenhum país em todo este período. Já os EUA intervieram
militarmente em Granada, Panamá, Somália, Irak, Afeganistão, Líbia, apoiam
oficialmente a agressão contra a Síria, a ação imperialista da França contra o
Mali, as sanguinárias intervenções militares de Israel contra a Palestina,
contra o Líbano (onde foi derrotado), instalaram prisões e centros de tortura
em 54 países do mundo e mantiveram o bloqueio ilegal contra Cuba. Mas, graças
ao controle do fluxo midiático internacional, uma avalanche diária de mentiras
apregoa que o Iran seria supostamente uma ditadura, um perigo para a
humanidade, inclusive por pretender ter acesso pleno ao desenvolvimento da
tecnologia nuclear. Afinal, os EUA não têm tecnologia nuclear e não foi o único
país a usar a bomba atômica contra o povo japonês, no maior atentado terrorista
registrado na era moderna?
As mensagens iranianas ao mundo, e ao Brasil, não param por
aí. A primeira reação dos EUA ante a Revolução Iraniana foi bloquear os
depósitos bancários do Irã, de 100 bilhões de dólares, nos bancos
internacionais. Obviamente, uma ilegalidade. Os EUA são, porém, apresentados
como “democráticos”, enquanto o Irã estaria fora da legalidade por nacionalizar
seu petróleo, escolher seu próprio caminho, realizar eleições diretas em todos
os níveis, algo proibido na ditadura do Xá Reza Pahlevi, apoiado pelo
imperialismo anglo-saxônico.
Comparemos: desde os anos 50, na Era Vargas, o Brasil possui um
programa nuclear, pelo qual teve sequestradas, por comandos militares dos EUA ,
em pleno porto de Hamburgo, as centrífugas que importara da Alemanha. O Irã, na
época do Xá, recebia apoio para desenvolver seu programa nuclear, com apoio da
Inglaterra e dos EUA. Após a Revolução Iraniana, estes países imperiais
comandaram a imposição de sanções contra o Irã por pretender ter pleno acesso a
esta tecnologia nuclear. Hipocrisia sem limites, com apoio da mídia que rotula
a nação persa como ameaça, quando na realidade, quem sempre esteve e continua
envolvido em guerras e em intervenções militares ilegais sobre outros povos são
os EUA e a Inglaterra.
Sabotagens
Desde os anos 60 o Brasil possui um Programa Espacial, mas ele
andou muito devagar nestas 5 décadas, apesar das enormes vantagens comparativas
para desenvolvermos, na base de Alcântara, intensa atividade espacial.
Para esta lentidão concorre, conforme já denunciou o Wikelikis, sabotagens
especialmente organizadas pelos EUA contra o nosso programa espacial. Assim,
enquanto até hoje estamos sem um esclarecimento cabal acerca da
estranhíssima explosão em Alcântara que, no primeiro ano do governo Lula,
matou os mais experimentados técnicos do Programa Espacial Brasileiro, o Irã já
lançou sua primeira nave tripulada ao espaço sideral. Toda tecnologia é
nacional, apesar do boicote imposto, das agressões militares constantes, das
sanções econômicas, que proíbem aos persas, por exemplo, acesso a peças de
reposição para sua indústria aeronáutica, ferroviária etc
Qualquer discussão em torno da experiência iraniana é sempre motivo
para um dilúvio de preconceitos e desinformações, além de acusações
completamente estapafúrdias. As mulheres iranianas são apresentadas pela
mídia ocidental como se fossem culturalmente atrasadas, reprimidas, sem
protagonismo social, quando as estatísticas indicam que elas ocupam
posição majoritária nas profissões mais especializadas, tais como medicina,
engenharia espacial, indústria de medicamentos. Mas isso nunca é revelado,
tampouco que a decisão de manter o uso do chador (véu), foi adotada em
plebiscito nacional por mais de 90 por cento dos votos. Trata-se de
uma cultura, um costume milenar.
Intolerância
Tenta-se apresentar o regime iraniano como o mais brutal, o mais
cruel, o mais intolerante, sobretudo com relação às mulheres e aos
homossexuais. Mas, aqui mesmo no Brasil há estatísticas estarrecedoras indicando
o assassinato de pelo menos um homossexual por dia, mulheres idem, e de
mais de 50 mil jovens negros e pobres por ano, uma estatística de guerra.
Reflitamos, também, sobre o assassinato e violação aos direitos dos
negros e hispânicos nos EUA, país possuidor da maior população carcerária do
mundo. Reflitamos sobre a brutalidade, a crueldade, a intolerância dos EUA
contra o povo vietnamita, iraquiano, panamenho. Reflitamos sobre a brutalidade
e a intolerância da “democrática” França contra o povo da Argélia, onde deixou
pelo menos 1 milhão de mortos! Reflitamos sobre crueldade e intolerância à luz
das estatísticas que apontam que quase metade da população carcerária na França
é de emigrantes, dos quais, metade é de muçulmanos!
Crescer sob ataque e sanções
O que não se informa é sobre o reduzido índice de analfabetos no
Iran, sobre indicadores muito baixos de mortalidade infantil, além de ser
possuidor de um cinema de altíssima qualidade, premiado no mundo inteiro,
cinema estatal que reflete sobre os principais problemas da sociedade persa,
dotado de tocante grau de humanismo na abordagem dos temas, sem concessões
apelativas ao sensacionalismo rebaixado que se nota em outras partes. Assim
como tem intensa atividade cinematográfica nacional, possui também indústria
bélica moderníssima, com tecnologia totalmente nacional, única opção que lhe
restou quando o país sofreu o boicote imperial e, depois, teve que defender-se
da guerra lançada pelo Irak, por 8 anos, quando Sadam era manipulado por Donald
Rumsfeld., ex-secretário de defesa de Bush, aquele que depois disse que era
preciso invadir o Irak porque lá havia armas de destruição em massa, jamais
comprovado. O Irã venceu a guerra. O Iraque foi invadido pelo seu antigo
apoiador….
Imagine se um país como o Irã, com a tremenda riqueza
petroleira que possui, não tivesse sido capaz --
graças ao impulso de sua revolução, que mobilizou o melhor da energia de sua
juventude -- de desenvolver uma extraordinária capacidade de
defesa que, além de defender o povo persa, defende como política de estado a
Causa Palestina, tendo se transformado em um dos principais aliados da Síria? A
reflexão é desconcertante para o Brasil que viu sua indústria bélica ser
desmantelada sem resistência, juntamente com a internacionalização de sua
telefonia, mineração, indústria de seguros e resseguros, medicamentos,
fertilizantes, além da indústria naval e aeronáutica. Só agora, graças à
mudança de rumo dos últimos 12 anos, com Lula, a indústria naval retoma
novamente o caminho do desenvolvimento para voltar ocupar, em breve, a posição
de ser uma das maiores do mundo.
Aposentando o dólar
Finalmente, a mensagem da política econômica e financeira do Irã. O
País tem desenvolvido intensos e expansivos acordos econômicos e militares com
a Rússia e a China, com a qual já comercializa petróleo e gás sem a presença de
dólar, o que fortalece a soberania financeira da nação persa. O Irã é um
verdadeiro eixo na região e tanto o Irak como a Síria mantêm com os
persas relações econômicas, políticas e militares de alto nível.
Certamente, o processo sofre tensões internas, sabotagens externas,
registra avanços e detenções, linhas políticas por vezes
injustificavelmente esperançosas, como a tentativa de um acordo nuclear com os
países que são potências nucleares e, simplesmente, não querem admitir que o
seleto e fechado clube abra suas portas para uma Nação com tamanha
independência frente aos ditames imperiais de qualquer tipo.
Unidade anti-imperialista
Nesses 35 anos, o desfile de comemoração, que normalmente registra
presença de mais de 6 milhões de pessoas em Teerã, foi precedido de uma
inesperada tentativa do prefeito da capital persa de vetar a sua realização.. O
que teria levado o ex-presidente Mahmud Ahmadinejad, amigo de Chávez, de Lula
e de Evo Morales, a publicar um contundente artigo intitulado “Por que
fizemos a revolução?”
Não sem tensões, a manifestação foi convocada e liberada,
apesar de intenções e vontades contrárias à sua realização. Uma tensão que pode
estar sinalizando que mudanças políticas podem estar em curso. Não sendo
cogitada nenhuma medida que não seja para consolidar o ideal
revolucionário vitorioso há 35 anos, sob a liderança do Aiatolá Khomeini, que
continua a lançar mensagens instigantes e encorajadoras ao mundo, especialmente
às nações que percebem a urgente necessidade de formar uma ampla aliança
de povos e países que comungam do ideal anti-imperialista, já que são visíveis
as ações imperiais montadas como ameaças a humanidade e seu futuro!
*Beto Almeida, Jornalista,
membro do Diretório da TeleSUR
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