sábado, 14 de fevereiro de 2015

BRICS, БРИКС/ÍNDIA: MODI, VLAD, XI E OS BOLSOS VAZIOS DE OBAMA

11 fevereiro 2015, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com.br (Brasil)

6/2/2015, F. William Engdahl* – New Eastern Outlook, NEO
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Depois de anos de descaso, a Washington de Obama resolveu tentar a agressividade, para seduzir a segunda nação mais populosa da Terra, a Índia. Por que agora? Para responder, nem é preciso olhar além de Moscou e Pequim e da dinâmica recente que cerca a cooperação para o desenvolvimento dos países BRICS, que já têm um Banco dos BRICS para a Infraestrutura, que pode rivalizar com o Banco Mundial-FMI controlado pelos EUA. A Índia é a principal peça no Grande Tabuleiro de Xadrez Eurasiano. E o Primeiro-Ministro Modi já fez saber ao mundo, que ele está no jogo.

O presidente Barack Obama dos EUA fez uma visita de estado à Índia dia 27 /1/2015 acompanhado de comitiva de empresários norte-americanos, para seduzir o novo Primeiro-Ministro Narendra Modi, homem que, quando não passava de reles governador de estado, foi impedido de entrar nos EUA. Agora, com Modi Primeiro-Ministro, parece que Obama mudou de opinião. Mais provavelmente, não sobre Modi, mas sobre o perigo de que Rússia e China consigam integrar a Índia de Modi àquela esfera eurasiana de prosperidade econômica e à respectiva Organização de Cooperação de Xangai. Desde 2006 e os dias Bush-Cheney, Washington sempre esforçou-se vigorosamente para seduzir a Índia e prendê-la numa aliança militar com os EUA contra a China, mas com sucesso muito limitado.


Modi devolveu o feitiço sobre o Presidente dos EUA, convidando-o para participar do Dia da República, honra jamais oferecida a nenhum presidente norte-americano. A conferência de imprensa da dupla, televisionada, foi festival de “Barack, isso é para você”, amigos chamando-se pelo primeiro nome. Falaram de um “compromisso duradouro”.

Mas ao final, Obama voltou para casa com bem pouco. Modi assinou documento leve repreendendo o governo chinês por provocar conflitos com os vizinhos sobre o Mar do Sul da China; discutiu a possibilidade de reviverem uma rede de segurança com EUA, Japão e Austrália; e mostrou-se interessado em desempenhar maior papel do fórum Econômico Ásia-Pacífico de Cooperação. Por seu lado, apesar dos sorrisos e abraços com o Presidente dos EUA, Modi recusou-se a assinar a prioridade favorita de Obama, um acordo para limitar as emissões de CO2, como a China ano passado. Também não houve qualquer avanço significativo no acordo nuclear EUA-Índia negociado em 2006 com Bush, mas bloqueado por causa da legislação indiana muito rigorosa no campo nuclear. Na sequência, Obama, o pregador moralizante – devo dizer que estou convencido de que é doença norte-americana – sacudiu o dedo no nariz dos indianos por conta de “direitos humanos” e “tolerância religiosa” – acintosa interferência em assuntos internos de estado soberano, coisa que Putin ou Xi jamais nem pensariam em fazer.

Por fim, na parte concreta dos assuntos e questões, investimentos e projetos conjuntos, Obama estava de bolsos vazios. O máximo que pôde fazer foi uma “promessa” nebulosa de que os bancos norte-americanos podem emprestar até US$ 4 bilhões para projetos não especificados de infraestrutura indiana, pontes e estradas.

Pode bem ser o caso de Modi estar se fazendo de amigo de Obama para obter dele o melhor negócio; indianos são bons nesses jogos. Mas o que Obama tem a oferecer simplesmente desaparece, se comparado ao que Vladimir Putin oferecera apenas poucos dias antes, em visita de estado à Índia.

Rússia renova velhos laços com a Índia
Um mês antes da visita de Obama à Índia o presidente Putin esteve em New Delhi, e com bolsos cheios, o que ninguém esperaria de país atacado furiosamente com sanções econômicas pela União Europeia e por Washington.

Em meados de dezembro, numa viagem que provocou erguimento de mais de uma sobrancelha na Washington de Obama, Putin e Modi assinaram 20 negócios de alta envergadura no valor de US$ 100 bilhões, com US$ 40 bilhões de energia nuclear, US$ 50 bilhões de petróleo cru e gás, e US$ 10 bilhões em vários setores, incluindo defesa, fertilizantes e espaço sideral. Num avanço importante para a indústria de processamento de diamantes da Índia, e revés para o monopólio da Oppenheimer South Africa, a russa Alrosa, maior empresa mineradora de diamantes do mundo, passará a vender diamantes brutos diretamente para a Índia.

Nos termos do pacto nuclear, a Rússia construirá 12 novos reatores nucleares ao longo dos próximos 20 anos em Kudankulam, Tamil Nadu e outro local ainda não decidido. A Rússia, diferente dos EUA, é a primeira nação a aceitar as duras condições da legislação indiana no campo nuclear – apesar de essas leis elevarem em US$ 3 bilhões o custo de construção de cada reator. Também importante para a Índia, o país será autorizado a fabricar equipamento e componentes na própria Índia. A Rússia também reiterou o apoio aos esforços da Índia para obter condições de membro pleno no Grupo de Fornecedores Nucleares e no Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis.

A decisão de produzir helicópteros multitarefa russos de última geração em fábricas indianas também foi ponto importante para a campanha de Modi, de promover mais projetos “Make in Índia” com empresas estrangeiras. A Rússia deu à Índia, também, o direito de exportar aqueles helicópteros para terceiros países. A Rússia pode, também, aceitar o pedido dos indianos que querem fabricar na Índia peças de reposição e componentes para a indústria russa de defesa. E grandes projetos de petróleo e gás foram assinados, incluindo exploração e produção, pelos indianos, em novos campos de petróleo e gás na Federação Russa, bem como em terceiros países. A Índia receberá gás natural liquefeito da Rússia, e está sendo explorada com muita atenção a viabilidade de se construir um gasoduto até a Índia.

A Rússia, mais que a China, que há décadas enfrenta conflitos com a Índia em questões como o Tibete, é o parceiro ideal na Organização de Cooperação de Xangai para construir essa abordagem com a Índia, e fazer avançar o emergente espaço econômico eurasiano. Os dois países mantêm relações positivas e estáveis desde agosto de 1971, quando foi assinado o Tratado Indo-Soviético de Paz, Amizade e Cooperação.

A era Yeltsin foi caótica para a Rússia, para dizer o mínimo, mas a visita de Putin, em dezembro, ao novo Primeiro-Ministro indiano confirma que uma nova arquitetura está sendo formatada pela Rússia de Putin. Inclui apoio ao novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS que envolve Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Inclui também novos acordos-gigantes de petróleo e gás entre Rússia e China em meses recentes, que conectam muito intimamente as duas grandes potências eurasianas.

Ano passado, fontes diplomáticas noticiaram que a China, depois da eleição de Modi, recolhera as objeções que tivera à admissão da Índia como membro da Organização de Cooperação de Xangai. O antecessor de Modi no cargo de Primeiro-Ministro, Manmohan Singh era visto na Índia como notoriamente pró-americano, não como defensor do tradicional status da Índia como estado não alinhado; e Pequim, obviamente, temia deixar entrar um Cavalo de Troia de Washington, na intimidade da Organização de Cooperação de Xangai. Resta saber se o próximo encontro anual da OCX, no verão, incluindo a China, abre a porta para convidar Índia, Paquistão, Irã e Mongólia como novos membros.

Se afinal acontecer bem assim, não apenas será a realização de desejo que a Rússia acalenta há muito tempo, como, também, implicará sobressalto tectônico nas placas da geopolítica eurasiana – e nada que caminhe na direção que privilegiaria Obama e Washington.

As reuniões de Modi, à margem da cúpula de julho de 2014 dos BRICS em Fortaleza, Brasil, com o Presidente Putin da Rússia e com o Presidente Xi Jinping da China, segundo todos os noticiários, foram notavelmente calorosas e cordiais. Ali, Modi aprovou entusiasticamente a ideia de o Banco de Desenvolvimento dos BRICS terem sede em Xangai, com um indiano na presidência. Modi também se recusou a seguir Washington, nas sanções contra a Rússia; disse que sanções econômicas são assunto que têm de ser decididos no Conselho de Segurança da ONU – ideia que Washington absolutamente não gostou de ouvir. E Modi também melhorou dramaticamente as relações há muito tempo tensas com o Paquistão, aliado muito íntimo da China.

Vão tomando forma material, concreta, os contornos de um genuíno novo ordenamento do velho e muito desordenado “Século Americano” que conhecemos, triunfantemente proclamado por Henry Luce, do grupo Time-Life, em 1941 [“O homem que inspirou a Abril e a Globo” (NTs)]. E a nova forma, hoje, lá está, na Eurásia, de Moscou a Pequim e, talvez, dali adiante, com Teerã e New Delhi. Faz perfeito sentido. Afinal, aí vivem mais de quatro bilhões dos seres humanos que povoam a Terra.

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*Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos estratégicos. É graduado em política pela Princeton University; autor consagrado e especialista em questõesenergéticas e geopolítica da revista online New Eastern Outlook.
Nascido em Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos, é filho de F. William Engdahl e Ruth Aalund (nascida Rishoff). F.W. Engdahl cresceu no Texas, e depois de se formar em engenharia e jurisprudência naPrinceton University em 1966 (bacharelado), e pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm 1969-1970. Trabalhou como economista e jornalista free-lance em Nova York e na Europa. Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro choque do petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento LaRouche.

Seu primeiro livro foi A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, onde discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada do xá do Irã em 1979, que se destinava a manipular os preços do petróleo e impedir a expansão soviética. Engdahl afirma que Brzezinski e Ball usaram o modelo de balcanização do mundo islâmico proposto por Bernard Lewis.Em 2007, completou seu livro Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century (2010).

Engdahl é autor frequente do sítio do Centre for Research on Globalization. É casado desde 1987 e vive há mais de duas décadas perto de Frankfurt am Main, na Alemanha.

    

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