11 fevereiro 2015, Redecastorphoto
http://redecastorphoto.blogspot.com.br (Brasil)
6/2/2015, F. William Engdahl* – New
Eastern Outlook, NEO
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Depois de anos de
descaso, a Washington de Obama resolveu tentar a agressividade, para seduzir a
segunda nação mais populosa da Terra, a Índia. Por que agora? Para responder,
nem é preciso olhar além de Moscou e Pequim e da dinâmica recente que cerca a
cooperação para o desenvolvimento dos países BRICS, que já têm um Banco dos
BRICS para a Infraestrutura, que pode rivalizar com o Banco Mundial-FMI
controlado pelos EUA. A Índia é a principal peça no Grande Tabuleiro de Xadrez
Eurasiano. E o Primeiro-Ministro Modi já fez saber ao mundo, que ele está no
jogo.
O presidente Barack Obama dos EUA
fez uma visita de estado à Índia dia 27 /1/2015 acompanhado de comitiva de
empresários norte-americanos, para seduzir o novo Primeiro-Ministro Narendra
Modi, homem que, quando não passava de reles governador de estado, foi impedido
de entrar nos EUA. Agora, com Modi Primeiro-Ministro, parece que Obama mudou de
opinião. Mais provavelmente, não sobre Modi, mas sobre o perigo de que Rússia e
China consigam integrar a Índia de Modi àquela esfera eurasiana de prosperidade
econômica e à respectiva Organização de Cooperação de Xangai. Desde 2006 e os
dias Bush-Cheney, Washington sempre esforçou-se vigorosamente para seduzir a
Índia e prendê-la numa aliança militar com os EUA contra a China, mas com
sucesso muito limitado.
Modi devolveu o feitiço sobre o
Presidente dos EUA, convidando-o para participar do Dia da República, honra
jamais oferecida a nenhum presidente norte-americano. A conferência de imprensa
da dupla, televisionada, foi festival de “Barack, isso é para você”, amigos
chamando-se pelo primeiro nome. Falaram de um “compromisso duradouro”.
Mas ao final, Obama voltou para casa
com bem pouco. Modi assinou documento leve repreendendo o governo chinês por
provocar conflitos com os vizinhos sobre o Mar do Sul da China; discutiu a
possibilidade de reviverem uma rede de segurança com EUA, Japão e Austrália; e
mostrou-se interessado em desempenhar maior papel do fórum Econômico
Ásia-Pacífico de Cooperação. Por seu lado, apesar dos sorrisos e abraços com o
Presidente dos EUA, Modi recusou-se a assinar a prioridade favorita de Obama,
um acordo para limitar as emissões de CO2, como a China ano passado. Também não
houve qualquer avanço significativo no acordo nuclear EUA-Índia negociado em
2006 com Bush, mas bloqueado por causa da legislação indiana muito rigorosa no
campo nuclear. Na sequência, Obama, o pregador moralizante – devo dizer que
estou convencido de que é doença norte-americana – sacudiu o dedo no nariz dos
indianos por conta de “direitos humanos” e “tolerância religiosa” – acintosa
interferência em assuntos internos de estado soberano, coisa que Putin ou Xi jamais
nem pensariam em fazer.
Por fim, na parte concreta dos
assuntos e questões, investimentos e projetos conjuntos, Obama estava de bolsos
vazios. O máximo que pôde fazer foi uma “promessa” nebulosa de que os bancos
norte-americanos podem emprestar até US$ 4 bilhões para projetos não
especificados de infraestrutura indiana, pontes e estradas.
Pode bem ser o caso de Modi estar se
fazendo de amigo de Obama para obter dele o melhor negócio; indianos são bons
nesses jogos. Mas o que Obama tem a oferecer simplesmente desaparece, se
comparado ao que Vladimir Putin oferecera apenas poucos dias antes, em visita
de estado à Índia.
Rússia renova velhos laços com a
Índia
Um mês antes da visita de Obama à
Índia o presidente Putin esteve em New Delhi, e com bolsos cheios,
o que ninguém esperaria de país atacado furiosamente com sanções econômicas
pela União Europeia e por Washington.
Em meados de dezembro, numa viagem
que provocou erguimento de mais de uma sobrancelha na Washington de Obama,
Putin e Modi assinaram 20 negócios de alta envergadura no valor de US$ 100
bilhões, com US$ 40 bilhões de energia nuclear, US$ 50 bilhões de petróleo cru
e gás, e US$ 10 bilhões em vários setores, incluindo defesa, fertilizantes e
espaço sideral. Num avanço importante para a indústria de processamento de
diamantes da Índia, e revés para o monopólio da Oppenheimer South
Africa, a russa Alrosa, maior empresa mineradora de diamantes do mundo,
passará a vender diamantes brutos
diretamente para a Índia.
Nos termos do pacto nuclear, a
Rússia construirá 12 novos reatores nucleares ao longo dos próximos 20 anos em
Kudankulam, Tamil Nadu e outro local ainda não decidido. A Rússia, diferente
dos EUA, é a primeira nação a aceitar as duras condições da legislação indiana
no campo nuclear – apesar de essas leis elevarem em US$ 3 bilhões o custo de
construção de cada reator. Também importante para a Índia, o país será
autorizado a fabricar equipamento e componentes na própria Índia. A Rússia
também reiterou o apoio aos esforços da Índia para obter condições de membro
pleno no Grupo de Fornecedores Nucleares e no Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis.
A decisão de produzir helicópteros
multitarefa russos de última geração em fábricas indianas também foi ponto
importante para a campanha de Modi, de promover mais projetos “Make in Índia”
com empresas estrangeiras. A Rússia deu à Índia, também, o direito de exportar
aqueles helicópteros para terceiros países. A Rússia pode, também, aceitar o
pedido dos indianos que querem fabricar na Índia peças de reposição e componentes
para a indústria russa de defesa. E grandes projetos de petróleo e gás foram
assinados, incluindo exploração e produção, pelos indianos, em novos campos de
petróleo e gás na Federação Russa, bem como em terceiros países. A Índia
receberá gás natural liquefeito da Rússia, e está sendo explorada com muita
atenção a viabilidade de se construir um gasoduto até a Índia.
A Rússia, mais que a China, que há
décadas enfrenta conflitos com a Índia em questões como o Tibete, é o parceiro
ideal na Organização de Cooperação de Xangai para construir essa abordagem com
a Índia, e fazer avançar o emergente espaço econômico eurasiano. Os dois países
mantêm relações positivas e estáveis desde agosto de 1971, quando foi assinado
o Tratado Indo-Soviético de Paz, Amizade e Cooperação.
A era Yeltsin foi caótica para a
Rússia, para dizer o mínimo, mas a visita de Putin, em dezembro, ao novo
Primeiro-Ministro indiano confirma que uma nova arquitetura está sendo
formatada pela Rússia de Putin. Inclui apoio ao novo Banco de Desenvolvimento
dos BRICS que envolve Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Inclui
também novos acordos-gigantes de petróleo e gás entre Rússia e China em meses
recentes, que conectam muito intimamente as duas grandes potências eurasianas.
Ano passado, fontes diplomáticas
noticiaram que a China, depois da eleição de Modi, recolhera as objeções que
tivera à admissão da Índia como membro da Organização de Cooperação de Xangai.
O antecessor de Modi no cargo de Primeiro-Ministro, Manmohan Singh era visto na
Índia como notoriamente pró-americano, não como defensor do tradicional status da
Índia como estado não alinhado; e Pequim, obviamente, temia deixar entrar um
Cavalo de Troia de Washington, na intimidade da Organização de Cooperação de
Xangai. Resta saber se o próximo encontro anual da OCX, no verão, incluindo a
China, abre a porta para convidar Índia, Paquistão, Irã e Mongólia como novos
membros.
Se afinal acontecer bem assim, não
apenas será a realização de desejo que a Rússia acalenta há muito tempo, como,
também, implicará sobressalto tectônico nas placas da geopolítica eurasiana – e
nada que caminhe na direção que privilegiaria Obama e Washington.
As reuniões de Modi, à margem da
cúpula de julho de 2014 dos BRICS em Fortaleza, Brasil, com o Presidente Putin
da Rússia e com o Presidente Xi Jinping da China, segundo todos os noticiários,
foram notavelmente calorosas e cordiais. Ali, Modi aprovou entusiasticamente a
ideia de o Banco de Desenvolvimento dos BRICS terem sede em Xangai, com um
indiano na presidência. Modi também se recusou a seguir Washington, nas sanções
contra a Rússia; disse que sanções econômicas são assunto que têm de ser decididos
no Conselho de Segurança da ONU – ideia que Washington absolutamente não gostou
de ouvir. E Modi também melhorou dramaticamente as relações há muito tempo
tensas com o Paquistão, aliado muito íntimo da China.
Vão tomando forma material,
concreta, os contornos de um genuíno novo ordenamento do velho e muito
desordenado “Século Americano” que conhecemos, triunfantemente proclamado por
Henry Luce, do grupo Time-Life, em 1941 [“O homem que inspirou a
Abril e a Globo” (NTs)]. E
a nova forma, hoje, lá está, na Eurásia, de Moscou a Pequim e, talvez, dali
adiante, com Teerã e New Delhi. Faz perfeito sentido. Afinal, aí vivem mais de
quatro bilhões dos seres humanos que povoam a Terra.
----------
*Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos
estratégicos. É graduado em política pela Princeton University;
autor consagrado e especialista em questõesenergéticas e
geopolítica da revista online New Eastern Outlook.
Nascido em Minneapolis, Minnesota,
Estados Unidos, é filho de F. William Engdahl e Ruth Aalund (nascida Rishoff).
F.W. Engdahl cresceu no Texas, e depois de se formar em engenharia e
jurisprudência naPrinceton University em 1966 (bacharelado), e
pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm 1969-1970.
Trabalhou como economista e jornalista free-lance em Nova York e na Europa.
Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro choque do
petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento LaRouche.
Seu primeiro livro foi A
Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, onde
discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada
do xá do Irã em 1979, que se destinava a manipular os preços do petróleo e
impedir a expansão soviética. Engdahl afirma que Brzezinski e Ball usaram o
modelo de balcanização do mundo islâmico proposto por Bernard Lewis.Em 2007,
completou seu livro Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic
Manipulation. Seu último livro foi: Gods
of Money: Wall Street and the Death of the American Century (2010).
Engdahl é autor frequente do sítio
do Centre for Research on Globalization. É casado desde 1987 e vive
há mais de duas décadas perto de Frankfurt am Main, na Alemanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário