7 fevereiro 2015, Contexto Livre http://www.contextolivre.com.br
(Brasil)
Identificado com a política econômica que permitiu a Lula-Dilma acumular vitórias eleitorais, novo presidente da Petrobras recebe críticas já esperadas dos porta-vozes do mercado
A indicação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras é
mais positiva do que parece.
Bendine representa uma novidade na melodia exibida pela equipe
econômica de Joaquim Levy. Não tem uma história ligada ao mercado, mas à
política econômica que permitiu ao Brasil resistir ao colapso do capitalismo na
crise de 2008-2009.
Na época, ele assumiu o Banco do Brasil para realizar uma bem
sucedida política de ampliação do crédito, redução de juros e
conquista de
clientes que o setor privado decidira abandonar para não rebaixar seus lucros.
Nos telejornais, fala-se da queda dos papéis da Petrobras, após a
nomeação de Bendine. como se este movimento, de caráter essencialmente
especulativo, fosse diminuir a quantidade de arroz e feijão na mesa dos
brasileiros.
É uma tentativa de despolitizar um debate importante.
A indicação do presidente da Petrobras, ainda mais numa conjuntura
como a atual, tem um componente político inevitável. É um posto que define
rumos, fortalece determinadas opções e pode enfraquecer outras.
Do ponto de vista dos mercados, só interessava um presidente capaz
de encaminhar medidas privatizantes no futuro da empresa — e até a mudança no
controle, se fosse possível.
Para este ponto de vista, essa mudança seria — e é — a chave de
ouro para a Lava Jato, investigação que, muito além de qualquer desvio, propina
ou irregularidade, criou um ambiente artificial de catástrofe e inquisição na
maior empresa brasileira. Foi isso o que ocorreu com a ENI, estatal italiana de
petróleo, no capítulo final da Operação Mãos Limpas, assumida fonte inspiradora
do juiz Sergio Moro.
Imagine que, em oposição a Bendine, os jornais até noticiaram que o
economista Paulo Leme chegou a ser incluído entre os possíveis candidatos a
dirigir a empresa.
Era uma proposta apenas risível. Não há objeção à formação de Leme,
um brasileiro que fez carreira como executivo do Goldman Sachs, e tem uma experiência
profissional reconhecida. A questão é que se trata de um adversário agressivo
do governo desde 2002, quando Lula tornou-se favorito na sucessão de Fernando
Henrique Cardoso.
Sob sua guarda, um economista do Goldman Sachs chegou a produzir
uma peça de campanha antipetista chamada Lulômetro. Tratando Lula com um
candidato que merecia usar o chapéu de bôbo entre os concorrentes, o Lulômetro
fazia previsões apocalípticas sobre a inflação e cambio que, com o passar dos
anos, tornaram-se pura anedota.
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