quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Angola/UM ALIADO DA INTEGRAÇÃO ECONÓMICA

15 fevereiro 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Filomeno Manaças

O momento mais esperado dos trabalhos de reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela aconteceu ontem, na província do Moxico.

Os Presidentes José Eduardo dos Santos, Joseph Kabila (RDC) e Edgar Lungu (Zâmbia) foram à vila fronteiriça do Luau para assinalar historicamente o recomeço da circulação dos comboios do CFB, que assim está pronto a retomar as ligações ferroviárias com aqueles países e desse modo dar corpo ao velho sonho de integração económica na região. O CFB é
esse grande aliado que vai facilitar todo o processo.

A circulação ferroviária entre os três países está interrompida há 30 anos devido à guerra que assolou Angola e levou à destruição das infra-estruturas do CFB e sua paralisação completa. Uma acção concertada pelas potências coloniais que visava fragilizar as economias dos países da África Austral recém independentes, com o fito de torná-los cada vez mais dependentes e sobretudo enfraquecer o combate ao regime racista de apartheid que então vigorava na África do Sul.

Angola, Zâmbia e RDC deixaram assim de ter uma das suas vias principais de interligação rodoviária e ferroviária que permitia realizar consideráveis economias no que aos custos de transportação de mercadorias diz respeito, tendo em conta os incontestáveis ganhos que, nesse aspecto, os caminhos-de-ferro passaram a representar em todo o mundo. A procura de alternativas tornou mais onerosas as exportações zambianas e congolesas e Angola deixou de contar com receitas que eram uma contribuição significativa para o seu orçamento. Mas os prejuízos não foram apenas a esse nível. Os caminhos-de-ferro têm uma forte vocação para criar externalidades, nomeadamente empregos indirectos que surgem por força da sua existência como meio de transporte capaz de promover o progresso económico e social ao longo do raio de acção em que é construído. Do Lobito ao Luau chegam-nos notícias de que as populações voltaram a instalar-se nas localidades por onde os comboios passam, para beneficiar precisamente das múltiplas vantagens que o seu funcionamento proporciona. Atento a esses detalhes o Executivo fez investimentos avultados. Quer na recuperação e/ou construção de novas estações, de pontes, quer na reabilitação do aeroporto do Luena e na edificação de um hospital geral moderno capaz de atender a demanda de serviços, que sabemos vai crescer exponencialmente com o “sopro económico” que o CFB vai levar à região.

A população do Moxico não podia estar mais exultante com as novas perspectivas que se abrem para o desenvolvimento da província e para, em particular, o incremento das trocas comerciais fronteiriças com a Zâmbia.

Iniciados em 2009 depois de concluído o processo de remoção de engenhos explosivos, os trabalhos de reabilitação do CFB terminaram ao fim de seis anos de intenso labor, 13 anos após o fim do conflito armado no país.

E a diversificação da economia nacional vai ganhando pontos, pois o CFB é um contribuinte de peso que vai se encarregar, em pouco tempo, de dar cartas e mostrar que há muito mais, além do petróleo, que Angola pode explorar para continuar a manter um crescimento robusto e a necessária estabilidade macroeconómica.

Imprescindível é que, a nível de outros sectores, se assegure a gestão que falta para impedir que fenómenos especulativos ditem as regras do jogo, criando conjunturas que induzem o público a inferir a existência de uma falsa situação de caos, mas que afinal tem objectivos claros.

A campanha lançada quinta-feira pelo Ministério do Comércio, a Polícia Económica e o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), destinada a detectar casos de especulação e a travar a vertiginosa subida dos preços dos produtos alimentares, é uma das medidas que concorrem para dissuadir a tendência para se empolar a situação. No plano cambial, é óbvio que mais do que declarações e contra-declarações, impõe-se uma actuação que não deixe margens para dúvidas sobre o caminho que o país está a seguir em termos de controlo da inflação, tendo em conta os compromissos assumidos.


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