16 fevereiro 2015, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com
(Brasil)
11/2/2015, F. William Engdahl*, New Eastern Outlook, NEO
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Em 1949, Washington criou uma coisa
chamada OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, para fundir firmemente
a Europa Ocidental na própria massa das políticas futuras de Washington, por
mais destrutivas que se viessem e venham a comprovar-se contra os interesses
genuínos de Alemanha, França, Itália e outras nações europeias. Em 1986, as 12
nações da então Comunidade Econômica Europeia modificaram o Tratado de Roma de
1957 e assinaram o AEU−Ato Europeu Único [orig. SEA−Single European Act]. Esse
AEU ordenava que se criasse um único mercado da Comunidade Econômica Europeia
ao final de 1992 e definia as regras para a Cooperação Política Europeia,
antecessora da Política de Segurança Externa Comum da União Europeia [orig. European Union’s Common Foreign and
Security Policy].
Então, dia 9/11/1989, um evento de
dimensão histórica interveio para atrapalhar a estratégia da Comunidade Econômica
Europeia para criar um mercado único. A URSS de Gorbachev
entregou, rendida ao
ocidente, a República Democrática Alemã [no Brasil conhecida como “Alemanha
Oriental”]. A Guerra Fria estava acabada de
facto. A Alemanha seria unificada. Aparentemente, o ocidente vencera a
guerra. Muitos europeus festejavam. Muitos acreditaram que estariam acabadas
para sempre aquelas décadas de viver sempre a um passo de uma guerra nuclear. A
Europa emergente parecia orgulhosa, confiante no futuro.
A OTAN foi a entidade criada por
Washington, nas palavras do primeiro Secretário-Geral, Lord Ismay, para “manter
os russos fora, os norte-americanos dentro, e a Alemanha por baixo”.
Pilar de Defesa Europeia ou a OTAN
dos EUA?
O Tratado de Maastricht, documento
com falhas e brechas fatais, foi apresentado numa reunião da Comunidade
Econômica Europeia, em dezembro de 1991. Um Helmut Kohl chocado foi informado
por Mitterand da França e Tatcher da Grã-Bretanha de que tinha de concordar com
a criação de uma única moeda para controlar o Bundesbank.
Daí nasceria o Euro e um Banco Central Europeu supranacional e independente.
Foi chantagem, a precondição para que eles aceitassem a unificação da Alemanha.
Os alemães engoliram em seco e assinaram.
O que foi pouco discutido naquele
momento foi que o Tratado de Maastricht também incluía uma sessão que obrigava
que se constituísse, pela primeira vez, uma Política de Segurança Externa
Comum. As 12 nações assinaram o tratado e estavam em andamento intensas
discussões para estabelecer um pilar de defesa europeia independente da OTAN.
Com o colapso da União Soviética, desaparecera a raison d’être da OTAN. O Pacto de Varsóvia
acabara. Washington garantira a Gorbachev que a OTAN jamais seria estendida na
direção leste.
Bush destrói o Pilar de Defesa da
União Europeia
George H. Bush é homem que deixou,
de sua passagem pelo poder dos EUA, um legado que pinga sangue, desde seus
primeiros anos em Washington – e o qual provavelmente incluiu a participação
chave de um agente da CIA em Dallas Texas, dia 22/11/1963, no assassinato de
JFK. Bush-pai foi diretor da CIA nos anos 1970s, o que incluiu empurrar Saddam
Hussein para que ocupasse o Kuwait em 1990, para gerar um pretexto para a
sangrenta “Operação Tempestade no Deserto” contra o Iraque.
Na presidência, Bush-pai também pôs
em movimento eventos que resultariam na destruição da Iugoslávia, iniciada nos
anos 1990 – em processo muito parecido ao que se vê hoje, com Washington
destruindo a Ucrânia.
O objetivo central da guerra
induzida pelos EUA que varreu os Bálcãs durante uma década era deixar
perfeitamente claro para as nações da União Europeia que a OTAN, sob controle
do Pentágono−EUA, permaneceria onde estava e, além disso, avançaria na direção
leste. Bush-pai usou a guerra na Iugoslávia para destruir a nascente ameaça de
qualquer capacidade de defesa independente dentro da União Europeia – o chamado
Pilar de Defesa da União Europeia.
Como conselheiro do Presidente dos
EUA e fundador da Comissão Trilateral, Zbigniew Brzezinski descreveu sem meias
palavras o modo como Washington via a Alemanha: não passava de estado “vassalo”
do poder imperial dos EUA; não era nação soberana.
Em 1999, Hungria, Polônia e
República Tcheca foram oficialmente convidadas em Washington a unir-se à OTAN,
enquanto o desmembramento da Iugoslávia estava sendo coroado pelo Presidente
Bill Clinton, que desavergonhadamente e ilegalmente bombardeava a Sérvia, na
chamada “Guerra do Kosovo”, aquele ano, com a ainda mais desavergonhada
participação do Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, filho do
carniceiro da Hungria, Joschka Fischer.
Em 2004, Washington já estava
chegando festivamente com a OTAN à Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia,
Romênia, Eslováquia, Eslovênia. Também estava secretamente preparando as, hoje,
já infames “Guerras Coloridas”, de fato, golpes de estado na Georgia e na
Ucrânia, que poriam no poder os candidatos que EUA escolheram a dedo: o
corrupto Viktor Yushchenko em Kiev, na chamada “Revolução Cor-de-Laranja”; e
Mikhail Saakashvili, na chamada “Revolução Cor-de-Rosa” na Geórgia. Os dois
presidentes prometeram unir-se à OTAN, como parte da campanha eleitoral.
Quase ninguém se surpreendeu quando,
em 2007, como Secretário da Defesa dos EUA, Don Rumsfeld anunciou que o
Pentágono instalaria equipamentos para lançamento de mísseis balísticos na
Polônia e na República Checa, voltados contra a Rússia. Moscou já dava sinais
de grave incômodo com a presença da OTAN em seu perímetro estratégico – a tal
aliança militar que, na prática, só fizera levar a única potência mundial até
as portas de Moscou.
Uma intervenção
germano-franco-ucraniana
Quando os Ministros de Relações
Exteriores de Alemanha e França intervieram, num esforço de último minuto para
construir algum acordo em Kiev, dia 21/2/2014, para evitar uma guerra civil,
eles explicitada e claramente deixaram de fora uma das partes interessadas nas
conversações: o governo dos EUA. E obtiveram um compromisso, que durou menos de
48 horas, até que atiradores apoiados pela CIA, em Kiev, mataram a sangue frio
manifestantes desarmados na Praça Maidan, geraram pânico e desencadearam
tumultos que obrigaram o presidente eleito (ponto que a versão em alemão da
imprensa-empresa insistentemente omite do “noticiário”) Viktor Yanukovich, a
fugir e esconder-se para não ser assassinado.
Dia seguinte, o governo Obama,
liderado por Victoria “Foda-se a UE” Nuland; pelo Embaixador dos EUA, Geoffrey
Pyatt e com legiões de agentes da CIA dentro dos protestos da Praça Maidan,
instalaram no poder o seu próprio fantoche, servindo-se, como tropas de
assalto, dos neonazistas dos partidos Setor Direita e Svoboda. George Friedman,
diretor de Stratfor, think-tank de consultoria estratégica que presta
serviços ao Pentágono e à CIA, e também a agências israelenses, disse em
entrevista a Russian
Kommersant, em dezembro, que o golpe de estado montado pelos EUA na Ucrânia
foi “o mais descarado golpe de estado de toda a história”.
Quando Washington cuspiu na cara não
só da Alemanha e França e União Europeia, mas também na cara da Rússia e da
própria Ucrânia, ao determinar quem governaria o novo regime do golpe em Kiev,
a ser chefiado pelo inefável, alto-comendador da Cientologia, Arseniy
Yatsenyuk, a Alemanha e França engoliram em seco. Mas se agacharam e obedeceram
aos falcões que governam o governo Obama em Washington. A UE aprovou
unanimemente sanções ordenadas pelos EUA, repetidamente, contra a Rússia,
depois do referendo de março-2014, sobre a Crimeia. A indústria alemã protestou
abertamente. Mas o governo de Merkel agachou-se à frente da OTAN e de
Washington, e a economia alemã começou a afundar-se em recessão, assim como o
resto da União Europeia.
No momento, está acontecendo algo
absolutamente raro. França e Alemanha estão outra vez desafiando abertamente a
Washington de Obama. Na noite de 4/2/2015, Merkel e o Presidente francês
Hollande rapidamente decidiram voar até Moscou para reunir-se com o Presidente
Putin. O objetivo, como disse o porta-voz de Putin era que:
(...) líderes dos três estados discutirão
o que especificamente os países podem fazer para contribuir para acelerar o fim
da guerra no sudeste da Ucrânia, que escalou nos últimos dias e resultou
em muitas mortes.
A parte mais interessante da viagem
às pressas é que chefes vassalos de estados vassalos, Angela Merkel e François
Hollande, não pediram permissão a Washington, a acreditar-se no que informam
fontes francesas. Ao anunciar a viagem espontânea a Moscou, Hollande disse à
imprensa que:
(...) com Angela Merkel, decidimos tomar
uma nova iniciativa.
Ainda mais interessante, a “nova
iniciativa” deles acontecia bem quando o Secretário de Estado dos EUA, John
Kerry, estava em Kiev, reunido com o Presidente Poroschenko, discutindo
possíveis entregas de armamento dos EUA a Kiev – o tipo de “diplomacia” que
Washington tem preferido a todos os demais, nos últimos tempos. As conversas em
Moscou entre Putin, Merkel e Hollande, como se sabe, aconteceram na sequência
de conversações “secretas” entre Paris, Berlin e Moscou.
No início de dezembro, Hollande fez
uma visita surpresa a Moscou para falar com Putin sobre a Ucrânia. Naquele
momento, o presidente francês declarou:
Creio que temos de evitar mais e
mais “muros” a nos separar. Nesse momento, temos de ser capazes de superar os
obstáculos e encontrar soluções.
Washington absolutamente não gostou.
Há fortes suspeitas em alguns círculos de que o ataque de falsa bandeira (orig.false
flag attack), dia 7/1/2015, contra o semanário francês Charlie Hebdo tenha sido a resposta do
bloco-da-guerra Washington-Telavive, contra a diplomacia de Hollande.
O recente movimento diplomático
franco-alemão coincide com a estadia de John Kerry, em Kiev, para discutir
armamento norte-americano a ser entregue na Ucrânia.
O jornalista Vincent Jauvert, do Nouvel Observateur, diz que:
(...) a repentina decisão de Hollande e
Merkel, de falar com Putin em Moscou, aparece como tentativa para sair à frente
dos norte-americanos, que tentam impor a solução deles aos demais países
ocidentais: transferir mais armas para os neonazistas na Ucrânia.
Lembra que:
(...) os dois líderes foram a Kiev
imediatamente depois de Kerry, como se “não confiassem no governo dos EUA”,
para “apresentarem a solução diplomática de Alemanha e França, antes que o
vice-presidente dos EUA Joe Biden apresentasse o plano dos EUA de enviar
armamento letal a Kiev, na Conferência de Segurança de Munique no sábado”.
As próximas semanas serão claramente
decisivas para a paz mundial. Para parodiar uma velha canção que eu cantava na
minha infância, a Ponte Atlântica está caindo, está caindo, está caindo... Cantar com a melodia de London Bridge is falling down;
vídeo a seguir:
É tempo de construir-se ponte nova,
estável, no lugar da velha, mas não é solução que virá da mensagem de Joe Biden
à Conferência de Segurança de Munique.
*Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos
estratégicos. É graduado em política pela Princeton University;
autor consagrado e especialista em questões energéticas e geopolítica da revistaonline New Eastern Outlook.
Nascido em Minneapolis, Minnesota,
Estados Unidos, é filho de F. William Engdahl e Ruth Aalund (nascida Rishoff).
F.W. Engdahl cresceu no Texas, e depois de se formar em engenharia e
jurisprudência na Princeton University em 1966 (bacharelado),
e pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm 1969-1970.
Trabalhou como economista e jornalista free-lance em Nova York e na Europa.
Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro choque do
petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento
LaRouche.
Seu primeiro livro foi A
Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, onde
discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada
do xá do Irã em 1979, que se destinava a manipular os preços do petróleo e
impedir a expansão soviética. Engdahl afirma que Brzezinski e Ball usaram o
modelo de balcanização do mundo islâmico proposto por Bernard Lewis.Em 2007,
completou seu livro Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic
Manipulation. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall Street and the
Death of the American Century (2010).
Engdahl é autor frequente do sítio
do Centre for Research on Globalization. É casado desde 1987 e vive
há mais de duas décadas perto de Frankfurt am Main, na Alemanha.
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