1º. fevereiro 2015, Rede Brasil Atual http://www.redebrasilatual.com.br
(Brasil)
Emir Sader
Quando se procura no dicionário o significado da palavra ‘spread’, lá no
final, como uma das alternativas, aparece um provável sentido real: “banquete”
Spread é uma expressão – mantida em inglês
para facilitar a camuflagem do seu significado –, que indica o ganho líquido
dos bancos, a diferença entre o que pagam pelo dinheiro que captam e o que
recebem pelo que emprestam. Leve R$ 100 reais ao banco para uma aplicação, e no
mês seguinte retire R$ 100,50. Dê a volta no balcão e consulte o mesmo
funcionário sobre quanto pagará se quiser tomar emprestado a mesma nota de R$
100. Ele provavelmente dirá que você terá de devolver, no mês seguinte, algo
próximo R$ 110. A diferença é o spread, o ganho improdutivo, à custa do
suor alheio.
Quando
se procura no dicionário o significado da palavra, lá no final, como uma das
alternativas, aparece um provável sentido real: “banquete”. Porque disso se
trata, de um banquete especulativo. O capital financeiro nasceu como
apêndice,
apoio do capital produtivo. O proprietário de terras tomava dinheiro emprestado
para comprar sementes e devolvia uma parte do ganho na colheita para pagar o
empréstimo. Na era de hegemonia do capital industrial continuou assim.
Na
passagem para a era neoliberal, o lema dominante foi “desregulamentar” (regras
impostas pelo Estado ao mercado), porque o capital deixa de investir quando há
muitas travas para sua circulação. O capital, livre dessas travas, voltaria a
investir, as economias voltariam a crescer e todos ganhariam.
Não
foi o que aconteceu porque, como lembrava sempre Marx, o capital não foi feito
para produzir, mas para acumular. Livre de travas, gozando de taxas de juros
altas, de baixa tributação sobre os ganhos nas Bolsas de Valores e com liquidez
total, os capitais se transferiram, maciçamente, para a especulação financeira.
Um fenômeno gigantesco que se deu em escala mundial, fazendo do capital
financeiro, na sua modalidade especulativa, o setor hegemônico nas economias.
Um capital que não gera bens, nem empregos, que não financia a produção, nem a pesquisa,
nem o consumo, mas vive da compra e venda de papéis. Mais de 90% dos movimentos
econômicos no mundo são compra e venda de papeis.
Neoliberalismo
e hegemonia do capital financeiro são assim almas gêmeas, um não existe sem o
outro. Por isso, as crises neoliberais começam no sistema bancário, antes de se
alastrar para o resto da economia. E são imediatamente atendidas porque, dizem
os economistas neoliberais, se os bancos quebrarem, as telhas caem nas cabeças
de todo mundo.
Na
atual crise internacional do capitalismo, iniciada em 2007/08, o risco de
quebra generalizada dos bancos, que haviam absolutamente afrouxado o controle
sobre créditos – especialmente imobiliários –, fez com que o objetivo geral
fosse “salvar os bancos”. Os bancos foram salvos, mas quebraram Grécia,
Portugal, Espanha, Itália...
No
Brasil, a presidenta Dilma se deu conta, na campanha de 2010, de que não
haveria um novo ciclo expansivo da economia com as taxas escorchantes de juros
reinantes. E se comprometeu a baixá-las, no seu mandato, a uma taxa em torno de
5%, ao padrão médio internacional e do nível interno de inflação. Assim,
deixariam de acorrer os capitais especulativos de fora e os capitais nacionais
não teriam as justificativas para serem canalizados à especulação, em vez da
produção.
O
governo começou a diminuir a taxa de juros, como resposta sofreu ataque de
terrorismo econômico da mídia a serviço dos bancos, e voltou a subi-las. Já no
começo do segundo mandato, a tendência parece se reiterar: defender-se do
terrorismo econômico elevando as taxas de juros. Não haverá novo ciclo
expansivo da economia incentivando-se a especulação com juros escorchantes. Os
juros do cartão de crédito chegam aos patamares da crise de 1999. A taxa mensal
chega a passar de 10%, mesmo com taxas de inflação anual na casa de 6%.
Imaginem o tamanho do tal do spread.
Isso, sim, é um banquete às custas do país.
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