25 fevereiro 2015, Rede Brasil Atual http://www.redebrasilatual.com.br
(Brasil)
Participantes de ato em defesa da estatal são unânimes no
apoio às investigações, julgamento e punição a culpados por corrupção, mas
afirmam que é preciso preservar a presença da sanha privatista
Rio de Janeiro – "Somos 200 milhões de
petroleiros." A frase estampada na faixa aberta por militantes da
Federação Única dos Petroleiros (FUP) retrata o espírito que animou o ato em
defesa da Petrobras realizado na noite de ontem (24) na sede da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio de Janeiro. Com a participação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, auditório lotado e cerca de mil
manifestantes na rua, em frente ao prédio da ABI, o ato, organizado pela FUP e
pela CUT, contou com expressiva presença de representantes de sindicatos,
movimentos sociais e entidades de classe, além de estudantes, artistas e
jornalistas.
Acompanhado pela
executiva da CUT, o presidente da central, Vágner Freitas, também convocou as
forças democráticas para o ato marcado para o dia 13 de março: "Essa
campanha para vender a Petrobras a preço de banana para o capitalismo
internacional não é um ato isolado dessa direita golpista brasileira. Esse é um
enfrentamento de classes, é a luta de classes", disse.
Freitas também elencou
outros pontos da agenda política da CUT, como a reforma política e
a criação de
um novo marco regulatório para a mídia: "Se queremos acabar com a
corrupção, vamos fazer a reforma política no Brasil através de um plebiscito,
porque esse Congresso que está aí não tem condições de conduzi-la, pois muitos
deputados foram eleitos com o dinheiro daqueles que os escravizam. Vamos acabar
com o financiamento empresarial de campanha já e construir a possibilidade de
que todos possam se eleger, e não sempre a mesma meia-dúzia".
O presidente da CUT
também criticou o papel das grandes empresas de mídia: "Para o Brasil ser
passado a limpo, temos de fazer urgente uma reforma democrática da mídia
brasileira. A mídia no Brasil não é um espaço de debate de ideias e transmissão
de informação. Desde a época de Getúlio Vargas, o que a mídia conservadora faz
é oposição aos projetos dos trabalhadores. Mentiras são ditas diariamente por
uma mídia golpista, por uma direita golpista que não aceita o resultado das
urnas".
Lula
Recebido aos gritos de
"guerreiro do povo brasileiro", o ex-presidente Lula também fez uma
comparação entre o atual momento político brasileiro e as campanhas de
desestabilização contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e
ele próprio (em 2005, na época das denúncias sobre o mensalão): “Querem punir a
Petrobras e criminalizar a política. Essa empresa é motivo de orgulho para mim
e para todos os brasileiros. A gente não pode jogar a Petrobras fora por causa
de meia dúzia de pessoas em uma família de 86 mil trabalhadores”.
"O que estamos
vendo é a criminalização da ascensão social de uma parte da sociedade
brasileira. Como vimos na campanha eleitoral, para eles é ofensivo as pessoas
receberem Bolsa-Família, é ofensivo as pessoas participarem do Pro-Uni. A elite
não se conforma com a ascensão social dos pobres que está acontecendo neste
país", completou o ex-presidente.
Lula defendeu a reforma
política: "Qual a regra da democracia? Querem mudar, vamos mudar. Podemos
começar transformando o financiamento privado de campanha em crime
inafiançável", disse.
Lula disse que a
presidenta Dilma Rousseff tem que "levantar a cabeça e dizer: eu ganhei as
eleições e vou governar. A Dilma não pode e não deve ficar dando trela, senão o
país fica paralisado". Outro recado foi dirigido à militância: "Em
vez de ficarmos chorando, vamos lutar para dar continuidade ao processo de
revolução social neste país. Estamos começando uma luta. Eu quero paz e
democracia, mas, se eles não querem, nós sabemos brigar também".
Democracia sob risco
Todos os discursos
convergiram para a necessidade de se separar o joio do trigo. Investigação e,
se for o caso, condenação e punição sim. Enfraquecimento de uma empresa que é
orgulho nacional e foi construída graças à luta do povo brasileiro não. Por isso,
o ato da ABI é encarado como o pontapé inicial de uma ampla mobilização em
defesa da Petrobras que terá seu ápice em 13 de março, dia nacional de luta
convocado pelas centrais sindicais e movimentos sociais.
"Espero que esse
ato signifique que as forças democráticas saiam da letargia e defendam a ordem
jurídica", disse à RBA o advogado Wadih Damous, presidente da Comissão da
Verdade do Rio de Janeiro e representante da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) no ato da ABI. Damous exigiu que "seja obedecido o devido processo
legal" nas investigações sobre a Petrobras: "O que está acontecendo
no Brasil hoje é uma articulação – que só tem paralelo em 1964 – da grande
mídia, de setores oposicionistas conservadores de direita, do Judiciário e do
Ministério Público, numa afronta sem precedentes à ordem jurídica, com prisões
ilegais, manutenção de prisões sem necessidade e a irresponsabilidade de
pretender quebrar a Petrobras".
Coordenador do MST,
João Pedro Stédile disse esperar que um novo ciclo de mobilizações sociais se
inicie no Brasil. "Hoje demos uma demonstração de força da sociedade
brasileira. Estamos aqui as mais diferentes representações para dizer em alto e
bom som que a Petrobras é uma empresa do povo brasileiro."
Stédile apontou os
poderosos interesses que estão por trás da campanha de desmoralização da
Petrobras. "Quando nós descobrimos o pré-sal, atraímos a atenção de todas
as aves de rapina do capital internacional, das sete irmãs inglesas e
norte-americanas que querem se apoderar do nosso petróleo. Essas denúncias de
corrupção, que devem ser apuradas e julgadas, é apenas a ponta do iceberg. Na
verdade, eles querem acabar com a lei de partilha e privatizar o acesso ao
pré-sal."
Para o dirigente do
movimento sem-terra, só há um jeito de reagir ao ataque conservador, que é
"o povo sair pra rua" em defesa de suas conquistas: "Eu espero
que daqui nós saiamos com a motivação política de organizar comitês populares
em todas as cidades e fazer uma campanha igual àquela que criou a Petrobras.
Cinquenta anos depois, temos que refundar a Petrobras para que ela permaneça
apenas a serviço do povo", disse.
O físico Luiz Pinguelli
Rosa, que durante o ato anunciou o abaixo-assinado "Puna-se, mas deixem a
Petrobras em paz", feito pela comunidade científica e que já conta com 1,3
mil assinaturas, cobrou rapidez na reação à especulação conservadora. "Eu
acho que nós devemos cobrar uma punição para os corruptos e a defesa da
Petrobras. Precisamos fazer isso com rapidez para não deixar rendendo uma
pressão que, no fundo, é para acabar com a Petrobras", disse.
Dirigente do PSB,
Roberto Amaral também cobrou pressa: "Esse ato poderia ter vários nomes.
Eu o chamaria de Acorda Brasil, Acorda Governo, Acordem Partidos de Esquerda,
Acorda Movimento Social, Acordem Sindicatos, Acordem Petroleiros. Essa é a
forma de salvarmos a Petrobras e garantirmos a continuidade do regime
democrático e do governo da presidente Dilma. É a sociedade, os estudantes e os
trabalhadores nas ruas. Fora disso, será uma tragédia".
Vice-presidente do PT,
Alberto Cantalice apontou o PSDB como grande interessado na campanha de
desmoralização da Petrobras. "Já defendemos a Petrobras há muito tempo,
desde a época do tucanato, quando eles tentaram transformar a Petrobras em
Petrobrax e iniciaram um processo de privatização da empresa. Agora resolveram
fazer diferente: atacar a empresa para criar uma situação em que ela possa ser
desnacionalizada. Mas, isso não vai acontecer", prometeu.
O produtor
cinematográfico Luiz Carlos Barreto disse que o processo que estamos vivendo
não é novo, mais sim uma reprise de muitas coisas: "Do alto dos meus 87
anos, eu posso dizer que já vi esse filme várias vezes. A derrubada do Perón e
o suicídio do Getúlio em 1954 correspondem ao que eles estão hoje, tentando dar
o golpe na Dilma e na Cristina Kirchner. A diferença é que agora, o golpe não é
militar, é judicial. Esse é mais perigoso porque tem uma capa de legalidade
aparente, argumentos jurídicos. O objetivo não é só Brasil e Argentina, é
também Equador, Bolívia, Venezuela, Uruguai. Tudo isso está em jogo, e as
camadas populares brasileiras não podem se colocar ingenuamente nesse
processo". Barreto também criticou a imprensa: "Quem é delator não
merece crédito, a não ser que prove o que diz. Até agora, nenhum delator
apresentou documento sobre nada, mas isso é publicado na imprensa como se fosse
verdade".
Também marcaram presença no ato em defesa da Petrobras
os jornalistas Eric Nepomuceno, Hildegard Angel e Luís Nassif, o advogado
Modesto da Silveira, o ator Antônio Pitanga, o economista Márcio Pochmann
(presidente da Fundação Perseu Abramo), o ex-ministro Carlos Minc e a
presidente da UNE, Vicky Barros.
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Brasil/'QUEREM
AS RIQUEZAS DO SOLO BRASILEIRO E SACRIFICAR DILMA E LULA', afirma cineasta
24 fevereiro 2015, Rede Brasil Atual http://www.redebrasilatual.com.br
(Brasil)
Luiz Carlos Barreto acredita que campanha contra a
Petrobras tem por objetivo a privatização do pré-sal
São Paulo – O país não
pode abrir mão da Petrobras e de empreiteiras brasileiras que têm não só
mercado nacional como internacional, dada a qualidade dos serviços, know-how
técnico dessas empresas, “hoje patrimônio nacional”, afirma o cineasta Luiz
Carlos Barreto em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
“Punam-se os
responsáveis, as pessoas que praticaram os malfeitos, como diz a presidenta
Dilma”, diz o cineasta, acrescentando que é preciso preservar a existência das
empresas. Tanto a Petrobras quanto as empreiteiras foram vítimas de maus
gestores, de aventureiros, na opinião do cineasta.
“Se a gente fosse punir
o Congresso Nacional por cada malfeito que os deputados e os senadores fazem
através dos tempos, os escândalos que aparecem envolvendo parlamentares, se
você fosse culpar e fechar o Congresso, nós viveríamos em permanente regime de
ditadura.”
E continua: “Você não
pode pedir o fechamento do Congresso porque um deputado ou senador ou ambos
cometeram atos irregulares; a mesma coisa se aplica à Petrobras e empreiteiras.
Você não pode querer liquidar com as empresas ou privatizar a Petrobras porque
alguns dirigentes ou funcionários cometeram atos ilegais”.
Para o cineasta, a
delação não é aceitável, porque quem delata, segundo ele, não merece
credibilidade. Ele pondera que todas as acusações estão sujeitas a prova, mas a
mídia já incriminou e julgou de maneira acabada. “Hoje o noticiário não é
apenas informativo, ele é conceitual; o noticiário virou algo opinativo, a
notícia já é redigida de uma maneira contra os manuais de redação. A reportagem
deve ser informativa, não pode ser opinativa.”
O que existe na verdade
é uma luta de posse pelo pré-sal, segundo o cineasta. “O pré-sal, que é a maior
reserva de petróleo do mundo, porque ele vai de Porto Alegre a Belém, segundo
os estudos e as prospecções, então, isso é um patrimônio nacional e hoje a
Petrobras é igual à Amazônia. Querem privatizar a Petrobras como
internacionalizar a Amazônia, quer dizer, são interesses econômicos de se apossar
de uma riqueza nitidamente nacional”, afirma.
“A desgraça da
Petrobras é ela ter descoberto o pré-sal, isso despertou toda a ambição da
banca internacional, do capital financeiro internacional, isso é o que está na
cara. Nós estamos vendo o filme se repetir: o Getúlio (Vargas) foi levado ao
suicídio por causa da Petrobras; no mesmo ano de sua morte, foi derrubado Perón
(na Argentina). Hoje estão tentando derrubar a Dilma e a presidenta da
Argentina (Cristina Kirchner).”
"Tudo isso ocorre
porque não conseguiram derrotar a presidenta Dilma nas urnas", destaca o
cineasta. “Através das urnas, as camadas populares entenderam que esses
governos são a favor da população pobre, que hoje em dia está fidelizada com os
partidos de tendência de esquerda. Não é só o problema da corrupção, porque
quanto a isso você pune a pessoa e acabou. O problema é se apossar das riquezas
que estão no solo brasileiro. Isso sacrificou Getúlio, João Goulart, e agora
querem sacrificar a Dilma, o Lula e todos os líderes populares que surjam ou
venham a surgir terão esse tipo de combate.”
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