sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Brasil/ DOROTHY STANG, VÍTIMA DO LATIFÚNDIO -- Frei Betto

12 fevereiro 2015, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra--MST http://www.mst.org.br (Brasil)

Por Frei Betto


Quem de fato matou Dorothy Stang foi o latifúndio, conforme denúncia dos bispos católicos brasileiros reunidos em Aparecida, em abril de 2013.

Eram 7h30 da manhã de 12 de fevereiro de 2005. Irmã Dorothy Stang, religiosa estadunidense naturalizada brasileira, 73, se dirigia à área do Projeto Esperança de Desenvolvimento Sustentável, em Anapu (PA).

No caminho, Rayfran das Neves a abordou. Perguntou se estava armada. Dorothy exibiu a Bíblia: “Eis a minha arma.” E leu trechos em voz alta.

O rapaz não se intimidou. A recompensa pelo crime importava mais que a vida da missionária que defendia pequenos agricultores, posseiros e sem-terras. Sacou a arma e descarregou nela sete tiros, sendo um na cabeça.


Há tempos, Dorothy sofria ameaças. Poucos dias antes havia escrito: “Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar.”

Rayfran, condenado a 27 anos de prisão, teve como mandante o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado, em 2013, a 30 anos. Passou por três julgamentos. O primeiro, em
2007, deu-lhe igual penalidade. Por receber pena superior a 20 anos, teve direito, em 2008, a novo júri. Foi absolvido! O Ministério Público recorreu, anulou-se a sentença, e o júri de 2013 confirmou a pena de 30 anos de prisão.

Dorothy Stang mereceu prêmio de direitos humanos da OAB, em 2004. Homenageou-a, em 2005, o documentário-livro “Amazônia revelada”, patrocinado pelo CNPq e o Ministério dos Transportes.

O documentário de Daniel Junge, “Mataram irmã Dorothy”, produzido nos EUA e narrado por Wagner Moura, retrata a trajetória da religiosa. O artista Cláudio Pastro incluiu o perfil dela no painel, em azulejos, “As mulheres santas”, na basílica de Aparecida (SP).

Quem de fato matou Dorothy Stang foi o latifúndio, conforme denúncia dos bispos católicos brasileiros reunidos em Aparecida, em abril de 2013.

Reza o documento por eles aprovado: “A sempre prometida reforma agrária não foi prioridade de nenhum dos governos democráticos. As decisões governamentais, nestas três décadas, foram, quase sempre, tomadas para favorecer o latifúndio e o agronegócio: financiamentos altíssimos, subvenções, e até anistia para os endividados, impunidade e regularização da grilagem, legislação favorável aos interesses da bancada ruralista.

É injustificável que os índices de produtividade, essenciais para provar a função social da propriedade, ainda sejam os do tempo da ditadura militar.”

Outros assassinatos ocorrerão se o governo não promover a reforma agrária e defender os direitos de índios, quilombolas, atingidos por barragens, posseiros e sem-terra.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, de 1985 a 2011,  registros revelam que 1.610 pessoas foram assassinadas no campo, julgadas apenas 96 ocorrências e condenados 21 mandantes e 75 executores. A impunidade faz do Brasil uma nação violenta.

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22 abril 2009, …aula de história: dorothy stang https://dorothystang.wordpress.com (Brasil)
Naquela conversa com o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin Krautler, em 1982, começava a luta da missionária Dorothy Stang por uma das áreas mais pobres e necessitadas da região Amazônica. Cortada pela rodovia Transamazônica, a pequena Anapu, cidade abandonada após uma colonização fracassada durante a ditadura militar, foi indicada à missionária como uma das mais carentes da região.

“Ela queria dedicar a vida às famílias isoladas que estão na miséria. Daí eu indiquei a Transamazônica leste, o trecho entre Altamira e Marabá. E para lá ela foi”, contou o bispo. O nome Anapu vem do tupi-guarani e quer dizer “ruído forte”. Segundo habitantes da região, o nome “provavelmente faz referência ao barulho produzido pelo volume de água do rio Anapu”. Com uma área de 11.895 quilômetros quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes, a cidade se tornaria anos mais tarde um dos principais pontos de conflito na luta pela terra.

A partir da década de 80, a região de Anapu, o centro do estado, mais conhecido como Terra do Meio, e o sul e sudeste passaram a formar a área de maior pressão de desmatamento da floresta, o que gerava conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros. Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras. “Ela começou a trabalhar pela criação das reservas. Dorothy é o símbolo de luta defensora das reservas e das unidades de conservação. Os moradores que estavam nesses lugares sempre eram retirados porque chegava alguém e dizia que já era dono daquela terra”, explica Antonia Melo, a “Toinha”, do Grupo de Trabalho Amazônico em Altamira, uma antiga companheira da missionária assassinada.

Em junho de 2004, Dorothy esteve presente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade agravou os conflitos. Para ela, os grileiros não respeitam as terras já demarcadas, uma vez que as promessas de ações no estado não vêm sendo cumpridas. A audiência contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e o próprio relator da Comissão, o deputado federal João Alfredo (PT-CE), pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

Segundo aqueles que conheciam Dorothy Stang, seu maior sonho – que em parte estava materializado na luta pelos projetos de desenvolvimento sustentável – era que os trabalhadores rurais conquistassem o direito a um pedaço de terra para cultivar. Os amigos a viam como uma mulher destemida. Toinha define Dorothy como “uma força de mulher comprometida com a justiça, com as causas sociais, com o meio ambiente e com um desenvolvimento responsável”.

Nascida em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Irmãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua primeira experiência foi em Coroatá (MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores nas comunidades eclesiais de base. Com o passar do tempo, o povo já não tinha onde plantar e precisava se submeter aos mandos e desmandos dos latifundiários. Diante da situação, muitos migraram para o Pará e Dorothy acompanhou esse movimento.

Aos 73 anos, voz baixa e mansa, andava sempre sorridente e determinada. “Ela levou até o fim aquilo que acreditava, que era a solução para aquela terra. Defendeu e lutou para a criação de um modelo de assentamento que respeitasse a floresta”, diz o senador Sibá Machado (PT-AC).

O engajamento para a criação dos PDSs – novo modelo de assentamento baseado na produção agrícola familiar, atividades extrativistas de subsistência e baixo impacto ambiental – alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares para Dorothy. “Quando se levanta a voz contra aqueles que se dizem donos do poder, certas coisas acontecem. O projeto de desenvolvimento sustentável veio de encontro aos interesses dos grandões. O PDS era uma ameaça para eles”, afirma padre Amaro. “Muitos atribuíam a idéia do projeto a Dorothy. Aí, deu no que deu”, acrescenta Toinha, referindo-se à morte da amiga.

Segundo a irmã Maria Alice, também da congregação das irmãs de Notre Dame em Anapu, pouco tempo depois da destinação de uma área para o PDS, os grileiros se apossaram do lugar. “Eles chegam com um testa-de-ferro, chamado de varredor, dizem que as famílias têm que sair e fazem diversas ameaças. Com isso, afastaram muita gente de áreas de PDS”, conta.

Da mesma forma que morreu Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros, grileiros e madeireiros ilegais calaram vários líderes brasileiros, como Chico Mendes, irmã Adelaide e Padre Josimo. A luta da freira pelo direito dos pequenos agricultores na Amazônia foi interrompida por seis tiros à queima roupa no dia 12 de fevereiro.Naquela conversa com o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin Krautler, em 1982, começava a luta da missionária Dorothy Stang por uma das áreas mais pobres e necessitadas da região Amazônica. Cortada pela rodovia Transamazônica, a pequena Anapu, cidade abandonada após uma colonização fracassada durante a ditadura militar, foi indicada à missionária como uma das mais carentes da região.

“Ela queria dedicar a vida às famílias isoladas que estão na miséria. Daí eu indiquei a Transamazônica leste, o trecho entre Altamira e Marabá. E para lá ela foi”, contou o bispo. O nome Anapu vem do tupi-guarani e quer dizer “ruído forte”. Segundo habitantes da região, o nome “provavelmente faz referência ao barulho produzido pelo volume de água do rio Anapu”. Com uma área de 11.895 quilômetros quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes, a cidade se tornaria anos mais tarde um dos principais pontos de conflito na luta pela terra.

A partir da década de 80, a região de Anapu, o centro do estado, mais conhecido como Terra do Meio, e o sul e sudeste passaram a formar a área de maior pressão de desmatamento da floresta, o que gerava conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros. Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras. “Ela começou a trabalhar pela criação das reservas. Dorothy é o símbolo de luta defensora das reservas e das unidades de conservação. Os moradores que estavam nesses lugares sempre eram retirados porque chegava alguém e dizia que já era dono daquela terra”, explica Antonia Melo, a “Toinha”, do Grupo de Trabalho Amazônico em Altamira, uma antiga companheira da missionária assassinada.

Em junho de 2004, Dorothy esteve presente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade agravou os conflitos. Para ela, os grileiros não respeitam as terras já demarcadas, uma vez que as promessas de ações no estado não vêm sendo cumpridas. A audiência contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e o próprio relator da Comissão, o deputado federal João Alfredo (PT-CE), pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

Segundo aqueles que conheciam Dorothy Stang, seu maior sonho – que em parte estava materializado na luta pelos projetos de desenvolvimento sustentável – era que os trabalhadores rurais conquistassem o direito a um pedaço de terra para cultivar. Os amigos a viam como uma mulher destemida. Toinha define Dorothy como “uma força de mulher comprometida com a justiça, com as causas sociais, com o meio ambiente e com um desenvolvimento responsável”.

Nascida em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Irmãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua primeira experiência foi em Coroatá (MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores nas comunidades eclesiais de base. Com o passar do tempo, o povo já não tinha onde plantar e precisava se submeter aos mandos e desmandos dos latifundiários. Diante da situação, muitos migraram para o Pará e Dorothy acompanhou esse movimento.

Aos 73 anos, voz baixa e mansa, andava sempre sorridente e determinada. “Ela levou até o fim aquilo que acreditava, que era a solução para aquela terra. Defendeu e lutou para a criação de um modelo de assentamento que respeitasse a floresta”, diz o senador Sibá Machado (PT-AC).

O engajamento para a criação dos PDSs – novo modelo de assentamento baseado na produção agrícola familiar, atividades extrativistas de subsistência e baixo impacto ambiental – alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares para Dorothy. “Quando se levanta a voz contra aqueles que se dizem donos do poder, certas coisas acontecem. O projeto de desenvolvimento sustentável veio de encontro aos interesses dos grandões. O PDS era uma ameaça para eles”, afirma padre Amaro. “Muitos atribuíam a idéia do projeto a Dorothy. Aí, deu no que deu”, acrescenta Toinha, referindo-se à morte da amiga.

Segundo a irmã Maria Alice, também da congregação das irmãs de Notre Dame em Anapu, pouco tempo depois da destinação de uma área para o PDS, os grileiros se apossaram do lugar. “Eles chegam com um testa-de-ferro, chamado de varredor, dizem que as famílias têm que sair e fazem diversas ameaças. Com isso, afastaram muita gente de áreas de PDS”, conta.

Da mesma forma que morreu Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros, grileiros e madeireiros ilegais calaram vários líderes brasileiros, como Chico Mendes, irmã Adelaide e Padre Josimo. A luta da freira pelo direito dos pequenos agricultores na Amazônia foi interrompida por seis tiros à queima roupa no dia 12 de fevereiro.



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