14 fevereiro 2015, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com
(Brasil)
12/2/2015,
MK Bhadrakumar*, Indian
Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
A
maratona de 16 horas de conversas durante uma noite inteira e até na manhã
seguinte em Minsk sobre a solução do conflito na Ucrânia pelos líderes dos
países envolvidos no chamado “formato Normandia” – Alemanha, França, Rússia e
Ucrânia – terminou em acordo. Os 13 principais pontos do novo acordo fazem avançar os 12 pontos do acordo de Minsk de setembro
passado. Mas há “adicionalidade”, até aqui: criou-se um cronograma para que os
lados em guerra e outros protagonistas cumpram o que o tratado determina.
Os
termos do tratado anterior confirmam que a Rússia negociou de uma posição de
força – bem diferente do que a venenosa propaganda jornalística ocidental nos
quis fazer crer. A “adicionalidade” relacionada ao futuro das regiões do leste,
a ser decidido ao final do ano é, sem dúvida, grande avanço e significativa vitória
para a Rússia, uma vez que a inclusão da Ucrânia na Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) ficará virtualmente descartada para sempre, se
a reforma
constitucional for adiante. Esse era o item central crucial do que os russos
queriam obter.
Contudo,
continuará a ser o ponto mais difícil de negociar, porque o lobby nacionalista
em Kiev, fortemente representando no atual formato, resistirá muito contra
qualquer concessão relacionada a devolver poderes às regiões do leste. O
presidente Petro Poroshenko ver-se-á colhido entre a cruz e a caldeirinha nessa
questão; ele, que já está sob fogo do campo nacionalista que faz e acontece em
Kiev. Mais uma vez, se Washington quiser fazer desandar todo o processo de paz,
nem precisará procurar muito para encontrar o caminho mais curto.
Não
surpreendentemente, portanto, a Rússia condicionou o fechamento da fronteira da
Ucrânia com a Rússia à reforma constitucional que deverá vir. O que significa
dizer que, com todas as fichas já jogadas, Moscou garantiu que é “tudo ou
nada”.
Em
segundo lugar, o cessar-fogo só passa a ser vigente no sábado, e daqui até lá é perfeitamente concebível que as partes em guerra farão esforços para obter ganhos
táticos em campo. Debaltseve, sobretudo, é problema, porque Kiev sequer
reconheceu que vários milhares de soldados seus estão naquela cidade que está
cercada por forças da resistência armada anti-Kiev.
De
fato, o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, em seus comentários, tocou indiretamente na questão de
Debaltseve. Pode-se supor que a resistência anti-Kiev permita – sob pressão dos
russos – que as tropas ucranianas sitiadas sejam evacuadas em segurança.
Mas
no geral, embora não faltem previsões cataclísmicas de que o recente acordo
dará em nada (como aconteceu ao acordo de setembro 2014), há boas
probabilidades de que esse acordo germano-franco-russo mantenha-se e os
combates parem – no mínimo, em termos imediatos. Os separatistas estão com as
melhores cartas e quererão consolidar seus ganhos; e as forças pró-Kiev, que apanharam
até perder a noção das coisas, também quererão tentar alguma recuperação.
Como
já disse acima, a questão é se Kiev está disposta a conceder a autonomia das
regiões do leste. A cinética do conflito na Ucrânia dependerá, afinal, da
questão da reforma constitucional.
Não
há dúvidas de que Putin sai-se muito bem, com a comprovação de que, como as
autoridades russas sempre disseram, Moscou nunca teve ambições territoriais.
Por outro lado, comprova-se que a Rússia quer preservar a integridade
territorial da Ucrânia e está disposta a contribuir para essa meta – desde que,
evidentemente, seja preservado o interesse legítimo que a Rússia tem numa
Ucrânia que se entende igualmente bem com a Rússia e com o ocidente. A líder
alemã e o líder francês parecem tem compreendido muito bem esse ponto.
Mas
e quanto ao parceiro deles, do outro lado do Atlântico? O presidente Barack
Obama está quase no mesmo bote que Poroshenko. O acordo para a Ucrânia será
reduzido a cacos pelos críticos neoconservadores, que querem que os EUA partam
logo para mais guerra, se for necessário, para deter “a agressão” russa. Já
começam a aparecer pela imprensa-empresa norte-americana alguns “comentários” muito
duros. O lobby ucraniano é muito influente também na política
canadense.
*MK Bhadrakumar foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Oriente Médio, Afeganistão
e Paquistão e escreve sobre temas de geopolítica, de energia e de segurança
para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Ásia Times
Online, Al Jazeera, Counterpunch, Information Clearing House, e muita
outras. Anima o blog Indian Punchline no sítio Rediff BLOGS. É o
filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala, Índia.
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