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fevereiro 2015, Mauro Santayanah ttp://www.maurosantayana.com (Brasil)
(Jornal
do Brasil) - O adiamento do balanço da Petrobras do terceiro trimestre do ano
passado foi um equívoco estratégico da direção da companhia, cada vez mais
vulnerável à pressão que vem recebendo de todos os lados, que deveria, desde o
início do processo, ter afirmado que só faria a baixa contábil dos eventuais
prejuízos com a corrupção, depois que eles tivessem, um a um, sua apuração
concluída, com o avanço das investigações.
A
divulgação do balanço há poucos dias, sem números que não deveriam ter sido
prometidos, levou a nova queda no preço das ações.
E,
naturalmente, a novas reações iradas e estapafúrdias, com mais especulação
sobre qual seria o valor — subjetivo, sujeito a flutuação, como o de toda
empresa de capital aberto presente em bolsa — da Petrobras, e o aumento dos
ataques por parte dos que pretendem aproveitar o que está ocorrendo para
destruir a empresa — incluindo hienas de outros países, vide as últimas
idiotices do Financial Times
– que adorariam estraçalhar e dividir, entre baba
e dentes, os eventuais despojos de uma das maiores empresas petrolíferas do
mundo.
O
que importa mais na Petrobras?
O
valor das ações, espremido também por uma campanha que vai muito além da
intenção de sanear a empresa e combater eventuais casos de corrupção e que
inclui de apelos, nas redes sociais, para que consumidores deixem de abastecer
seus carros nos postos BR; à aberta torcida para que “ela quebre, para acabar
com o governo”; ou para que seja privatizada, de preferência, com a entrega de
seu controle para estrangeiros, para que se possa — como afirmou um internauta
— “pagar um real por litro de gasolina, como nos EUA”?
Para
quem investe em bolsa, o valor da Petrobras se mede em dólares, ou em reais,
pela cotação do momento, e muitos especuladores estão fazendo fortunas, dentro
e fora do Brasil, da noite para o dia, com a flutuação dos títulos derivada,
também, da campanha antinacional em curso, refletida no clima de “terrorismo” e
no desejo de “jogar gasolina na fogueira”, que tomou conta dos espaços mais
conservadores — para não dizer golpistas, fascistas, até mesmo por conivência —
da internet.
Para
os patriotas - e ainda os há, graças a Deus - o que importa mais, na Petrobras,
é seu valor intrínseco, simbólico, permanente, e intangível, e o seu papel
estratégico para o desenvolvimento e o fortalecimento do Brasil.
Quanto
vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, em nossa geração, foram
para as ruas e para a prisão, e apanharam de cassetete e bombas de gás, para
exigir a criação de uma empresa nacional voltada para a exploração de uma das
maiores riquezas econômicas e estratégicas da época, em um momento em que todos
diziam que não havia petróleo no Brasil, e que, se houvesse, não teríamos,
atrasados e subdesenvolvidos que “somos”, condições técnicas de explorá-lo?
Quanto
vale a formação, ao longo de décadas, de uma equipe de 86.000 funcionários,
trabalhadores, técnicos e engenheiros, em um dos segmentos mais complexos da
atuação humana?
Quanto
vale a luta, o trabalho, a coragem, a determinação daqueles, que, não tendo
achado petróleo em grande quantidade em terra, foram buscá-lo no mar, batendo
sucessivos recordes de poços mais profundos do planeta; criaram soluções,
“know-how”, conhecimento; transformaram a Petrobras na primeira referência no
campo da exploração de petróleo a centenas, milhares de metros de profundidade;
a dezenas, centenas de quilômetros da costa; e na mais premiada empresa da
história da OTC – Offshore Technology Conferences, o “Oscar” tecnológico da
exploração de petróleo em alto mar, que se realiza a cada dois anos, na cidade
de Houston, no Texas, nos Estados Unidos?
Quanto
vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, ao longo da história da
maior empresa brasileira — condição que ultrapassa em muito, seu eventual valor
de “mercado” — enfrentaram todas as ameaças à sua desnacionalização, incluindo
a ignominiosa tentativa de alterar seu nome, retirando-lhe a condição de
brasileira, mudando-o para “Petrobrax”, durante a tragédia privatista e
“entreguista” dos anos 1990?
Quanto
vale uma companhia presente em 17 países, que provou o seu valor, na descoberta
e exploração de óleo e gás, dos campos do Oriente Médio ao Mar Cáspio, da costa
africana às águas norte-americanas do Golfo do México?
Quanto
vale uma empresa que reuniu à sua volta, no Brasil, uma das maiores estruturas
do mundo em Pesquisa e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, trazendo para cá os
principais laboratórios, fora de seus países de origem, de algumas das mais
avançadas empresas do planeta?
Por
que enquanto virou moda — nas redes sociais e fora da internet — mostrar
desprezo, ódio e descrédito pela Petrobras, as mais importantes empresas
mundiais de tecnologia seguem acreditando nela, e querem desenvolver e
desbravar, junto com a maior empresa brasileira, as novas fronteiras da
tecnologia de exploração de óleo e gás em águas profundas?
Por
que em novembro de 2014, há apenas pouco mais de três meses, portanto, a
General Electric inaugurou, no Rio de Janeiro, com um investimento de 1 bilhão
de reais, o seu Centro Global de Inovação, junto a outras empresas que já
trouxeram seus principais laboratórios para perto da Petrobras, como a BG, a
Schlumberger, a Halliburton, a FMC, a Siemens, a Baker Hughes, a Tenaris
Confab, a EMC2 a V&M e a Statoil?
Quanto
vale o fato de a Petrobras ser a maior empresa da América Latina, e a de maior
lucro em 2013 — mais de 10 bilhões de dólares — enquanto a PEMEX mexicana, por
exemplo, teve um prejuízo de mais de 12 bilhões de dólares no mesmo período?
Quanto
vale o fato de a Petrobras ter ultrapassado, no terceiro trimestre de 2014, a
EXXON norte-americana como a maior produtora de petróleo do mundo, entre as
maiores companhias petrolíferas mundiais de capital aberto?
É
preciso tomar cuidado com a desconstrução artificial, rasteira, e odiosa, da
Petrobras e com a especulação com suas potenciais perdas no âmbito da corrupção,
especulação esta que não é apenas econômica, mas também política.
A
PETROBRAS teve um faturamento de 305 bilhões de reais em 2013, investe mais de
100 bilhões de reais por ano, opera uma frota de 326 navios, tem 35.000
quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e
134 plataformas de produção de gás e de petróleo.
É
óbvio que uma empresa de energia com essa dimensão e complexidade, que, além
dessas áreas, atua também com termoeletricidade, biodiesel, fertilizantes e
etanol, só poderia lançar em balanço eventuais prejuízos com o desvio de
recursos por corrupção, à medida que esses desvios ou prejuízos fossem
“quantificados” sem sombra de dúvida, para depois ser — como diz o “mercado” —
“precificados”, um por um, e não por atacado, com números aleatórios,
multiplicados até quase o infinito, como tem ocorrido até agora.
As
cifras estratosféricas (de 10 a dezenas de bilhões de reais), que contrastam
com o dinheiro efetivamente descoberto e desviado para o exterior até agora, e
enchem a boca de “analistas”, ao falar dos prejuízos, sem citar fatos ou
documentos que as justifiquem, lembram o caso do “Mensalão”.
Naquela
época, adversários dos envolvidos cansaram-se de repetir, na imprensa e fora
dela, ao longo de meses a fio, tratar-se a denúncia de Roberto Jefferson,
depois de ter um apaniguado filmado roubando nos Correios, de o “maior
escândalo da história da República”, bordão esse que voltou a ser utilizado
maciçamente, agora, no caso da Petrobras.
Em
dezembro de 2014, um estudo feito pelo instituto Avante Brasil, que, com
certeza não defende a “situação”, levantou os 31 maiores escândalos de
corrupção dos últimos 20 anos.
Nesse
estudo, o “mensalão” — o nacional, não o “mineiro” — acabou ficando em
décimo-oitavo lugar no ranking, tendo envolvido menos da metade dos recursos do
“trensalão” tucano de São Paulo e uma parcela duzentas vezes menor que a cifra
relacionada ao escândalo do Banestado, ocorrido durante o mandato de Fernando
Henrique Cardoso, que, em primeiríssimo lugar, envolveu, segundo o
levantamento, em valores atualizados, aproximadamente 60 bilhões de reais.
E
ninguém, absolutamente ninguém, que dizia ser o mensalão o maior dos escândalos
da história do Brasil, tomou a iniciativa de tocar, sequer, no tema — apesar do
“doleiro” do caso Petrobras, Alberto Youssef, ser o mesmo do caso Banestado —
até agora.
Os
problemas derivados da queda da cotação do preço internacional do petróleo não
são de responsabilidade da Petrobras e afetam igualmente suas principais concorrentes.
Eles
advém da decisão tomada pela Arábia Saudita de tentar quebrar a indústria de
extração de óleo de xisto nos Estados Unidos, aumentando a oferta saudita e
diminuindo a cotação do produto no mercado global.
Como
o petróleo extraído pela Petrobras destina-se à produção de combustíveis para o
próprio mercado brasileiro, que deve aumentar com a entrada em produção de
novas refinarias, como a Abreu e Lima; ou para a “troca” por petróleo de outra
graduação, com outros países, a empresa deverá ser menos prejudicada por esse
processo.
A
produção de petróleo da companhia está aumentando, e também as descobertas, que
já somam várias depois da eclosão do escândalo.
E,
mesmo que houvesse prejuízo — e não há — na extração de petróleo do pré-sal,
que já passa de 500.000 barris por dia, ainda assim valeria a pena para o país,
pelo efeito multiplicador das atividades da empresa, que garante, com a
política de conteúdo nacional mínimo, milhares de empregos qualificados na
construção naval, na indústria de equipamentos, na siderurgia, na metalurgia,
na tecnologia.
A
Petrobras foi, é e será, com todos os seus problemas, um instrumento de
fundamental importância estratégica para o desenvolvimento nacional, e
especialmente para os estados onde tem maior atuação, como é o caso do Rio de
Janeiro.
Em
vez de acabar com ela, como muitos gostariam, o que o Brasil precisaria é ter
duas, três, quatro, cinco Petrobras.
É
necessário punir os ladrões que a assaltaram?
Ninguém
duvida disso.
Mas
é preciso lembrar, também, uma verdade cristalina.
A
Petrobras não é apenas uma empresa.
Ela
é uma Nação.
Um
conceito.
Uma
bandeira.
E
por isso, seu valor é tão grande, incomensurável, insubstituível.
Esta
é a crença que impulsiona os que a defendem.
E,
sem dúvida alguma, também, a abjeta motivação que está por trás dos canalhas
que pretendem destruí-la.
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