4 fevereiro 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao
(Angola)
Adalberto
Ceita
Integrante do “Processo dos 50”, José Diogo
Ventura, à semelhança de outros companheiros de luta na clandestinidade,
encontrava-se preso quando foi desencadeado o ataque às cadeias dos
colonialistas na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961.
Em
declarações ao Jornal de Angola, disse que aquele acto conduziu à Proclamação
da Independência Nacional a 11 de Novembro de 1975. Depois daquele acto de
heroísmo e outros que se seguiram em períodos relativamente próximos, o regime
colonial foi forçado a alterar a sua política em relação a Angola.
Aos 85 anos, e grande parte da vida dedicada à luta anti-colonial, o que levou a passar dez anos na prisão, divididos entre a Casa da Reclusão e o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, José Diogo Ventura não hesita em considerar que o regime colonial
“Em finais dos anos 50 o regime colonial estava no auge. Possuía um sistema administrativo bem organizado, económica e militarmente forte, e em 1961, com o 4 de Fevereiro, e posteriormente o duro golpe de 15 de Março no Norte de Angola, foi forçado a alterar a sua política em relação a Angola”, lembrou.
Conta que na época os angolanos estavam privados de direitos essenciais: “os angolanos estavam no cultivo do café, mediante a figura eufemística de contrato, no fundo, uma forma de encobrir ao mundo a subjugação que vigorava”.
José Diogo Ventura explica que o fim da II Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações Unidas proporcionou mudanças a nível mundial e continental, que acabaram por pôr fim ao jugo colonial num conjunto vasto de países africanos e aumentar a vontade dos angolanos pela liberdade e autodeterminação.
A luta política clandestina foi intensificada com a publicação e distribuição de panfletos, a divulgação da luta que era desencadeava em Angola junto dos movimentos de países africanos e de outros continentes.
Grupos como o Movimento para a Independência de Angola, o Exército de Libertação de Angola, e a Associação Espalha Brasas, onde militava, alertavam os angolanos para a mudança, mas havia a convicção que era preciso fazer mais. E foi em consequência da participação na luta anti-colonial que veio a ser preso e condenado juntamente com outros companheiros da clandestinidade, entre os quais, Agostinho Mendes de Carvalho, Ilídio Machado, José Manuel Lisboa, Manuel Bernardo de Sousa, Aniceto Viera Dias, António Jacinto e António Cardoso.
Condenado pelo Tribunal Militar Territorial de Angola, em Dezembro de 1960, José Diogo Ventura cumpria a pena na Casa da Reclusão quando se deu o 4 de Fevereiro.
A sequência de situações de injustiça, exploração e as prisões arbitrárias contra todos os que afrontavam o poder colonial, fizeram aumentar o número de revoltosos e tiveram impacto para a consumação do ataque. Mas desconhecia os contornos do plano armado.
“Em vez de se amedrontarem com as prisões e os maus tratos, os movimentos de angolanos que lutavam pela Independência Nacional aumentaram a vontade de pôr fim ao colonialismo”, afirmou.
As lembranças da morte dos companheiros em defesa da dignidade deixam-no triste, mas José Diogo Ventura não esconde o orgulho por viver num país livre da dominação estrangeira. O início da luta armada sucede a situações que marcaram os piores momentos da História de Angola. Vivia-se o período em que o regime colonial usava o seu poderio militar para travar toda a tentativa de reivindicação.
Aponta como exemplo, o massacre da revolta dos camponeses na Baixa de Cassanje, no dia 4 de Janeiro de 1961 onde foram mortos milhares de angolanos.
Diogo Ventura dá a sua opinião sobre esse acontecimento: “Penso que foi a partir daí que a luta política na clandestinidade deixou de ter efeito e se dru início à luta armada, também precipitada pela presença em Angola de dezenas de jornalistas com a missão de difundir a chegada do navio Santa Maria, desviado pelo capitão Henrique Galvão, uim opositor ao ditador Salazar, para reivindicar a insatisfação dos portugueses contra o regime colonial fascista”.
Coragem e mudança
Os acontecimentos da madrugada do 4 de Fevereiro de 1961 apanharam de surpresa as autoridades coloniais em Angola. José Diogo Ventura destaca a bravura e coragem demonstrada pelos combatentes, aquele acto de heroísmo e a forma organizada como escolheram os alvos a atacar.
Diogo Ventura recorda essa data gloriosa: “Tomei conhecimento no mesmo dia. Estava preso e pela intensidade do tiroteio que vinha de fora compreendi que alguma coisa de muito grave tinha começado e que o fim estava próximo”.
José Diogo Ventura diz que a notícia era de todo sigilosa para não levantar suspeitas uma vez que a PIDE possuía homens infiltrados nos diferentes bairros de Luanda. Justifica que em qualquer associação composta por homens existem os traiçoeiros e o mínimo descuido podia ser fatal. “Tivemos uma acção quase semelhante que visava o ataque à Cadeia de São Paulo e que foi abortada por traição de alguém que avisou a PIDE”.
Em resposta “cercaram os bairros dos indígenas e mataram muita gente”, lamenta. O 4 de Fevereiro trouxe inúmeras mortes e detenções, mas também ganhos. José Diogo Ventura destaca que mais adiante, e também por força dos grandes movimentos de angolanos a política repressiva reduziu e emergiu a facilidade no acesso ao ensino e emprego para os angolanos.
Decorridos 54 anos, José Diogo Ventura é de opinião que a matriz do 4 de Fevereiro está presente na vida dos angolanos, embora se verifique a tendência de algumas pessoas em diminuir a sua importância, no contexto da luta de libertação nacional.
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Angola/A LUTA PELA LIBERDADE
4 fevereiro 2015, Jornal de Angola EDITORIAL http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)
Há 54 anos, revolucionários angolanos deram
início a uma das mais corajosas realizações que marcaram a História de
resistência e luta contra a dominação colonial portuguesa.
No dia 4
de Fevereiro de 1961, o acto heróico de um punhado de revolucionários serviu
para abalar o poder colonial e dizer ao mundo que os angolanos estavam
decididos a lutar pela Independência Nacional. O amadurecimento
revolucionário das populações, ao qual estavam totalmente alheias as
autoridades coloniais portuguesas, permitiu ao Povo Angolano realizar o sonho
de que era possível o derrube do colonialismo.
O primeiro trimestre do ano de 1961, fruto de antecedentes e factos que ocorriam em todo o continente e no mundo, os angolanos e angolanas não pretendiam deixar passar tão importante fase de emancipação em vários pontos do globo. Consequência da gesta heróica do dia 4 de Fevereiro, a repressão colonial foi redobrada na mesma dimensão em que se multiplicaram os anseios pela autodeterminação e independência total. Os ventos de mudança estavam do lado dos revolucionários, numa altura em que o lema era a conquista da Independência Nacional. O tempo não tardou a dar razão aos líderes revolucionários, uma vez que 14 anos mais tarde a Independência Nacional foi uma realidade. E não há dúvidas de que os angolanos estão orgulhosos dos feitos protagonizados pelos combatentes do 4 de Fevereiro de 1961.
A melhor forma de honrar a memória daqueles que deram o melhor de si e perderam a vida na luta pela Independência Nacional é o ensino e preservação dos feitos de todos os nacionalistas angolanos conhecidos e anónimos. Mais de três décadas depois de Angola alcançar a Independência nacional, a data histórica prevalece como um farol que ajuda a lembrar o quanto custou a liberdade. Foram momentos dolorosos para a muitas famílias e para a Pátria angolana que perdeu milhares dos seus filhos e filhas, massacrados pela máquina colonial. Outros milhares tiveram que fugir para os países vizinhos, situação que levou ao esvaziamento de numerosas aldeias. Milhares de angolanos e angolanas, velhos e crianças, perderam a vida na sequência dos acontecimentos ocorridos no primeiro trimestre do ano de 1961, sobretudo a 4 de Fevereiro, razão pela qual se trata de uma importante data nos anais da revolução liderada por figuras excepcionais como Agostinho Neto e Lúcio Lara. Hoje vivemos em paz e uma das estratégias do Executivo é honrar os feitos do dia 4 de Fevereiro de 1961 como forma de dignificar o Homem Angolano.
Com o processo de reconstrução e desenvolvimento de Angola, em que a bandeira da inclusão passou a ser uma realidade em todo o país, os angolanos estão a honrar os heróis do 4 de Fevereiro de 1961. Em tempo de estabilidade, os angolanos empreendem inúmeras realizações como a desminagem, a reabilitação das infra-estruturas, a preparação das condições para o alojamento das populações deslocadas e vindas do estrangeiro. Milhares de quilómetros minados estão livres de minas e disponibilizados para os mais variados fins, numa altura em que numerosas estradas principais e secundárias viabilizaram a circulação de pessoas e bens.
Graças aos esforços do processo de desminagem e o empenho na reabilitação de infra-estruturas, testemunhamos o regresso voluntário de milhares de famílias que viviam sob a condição de refugiados e exilados em países vizinhos. Numa altura em que tem início a abertura de mais um ano lectivo, acreditamos que o ensino constitui a melhor ferramenta para erguermos um país mais justo, equilibrado, fraterno, solidário e democrático. Estes foram os valores patrioticamente defendidos no dia 4 de Fevereiro de 1961e que se consolidam a cada dia que passa.
Toda a sociedade angolana precisa de prestar mais atenção aos revolucionários que fizeram a luta armada de libertação nacional e as gerações mais novas, enquanto continuadoras do processo de desenvolvimento do país, devem conhecer a História para saberem, como diz o poeta, “o que custou a liberdade”.
Não temos dúvidas de que estamos num processo em que há ainda muito trabalho para a criação das melhores condições para todos os angolanos. Temos ainda muitos desafios pela frente.Com coragem e perseverança, enfrentemos de cabeça erguida esses desafios para honrarmos a memória daqueles que não hesitaram em pegar em paus e catanas para dar início a uma luta plena de sacrifícios e que permitiu que hoje estejamos a viver num país livre. Glória eterna aos heróis do 4 de Fevereiro!
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