quarta-feira, 24 de setembro de 2014

БРИКС, BRICS/EUA-UNIÃO EUROPEIA VERSUS RÚSSIA: “SANÇÕES APRESSAM O PARTO DO MUNDO SEM O OCIDENTE”

21 setembro 2014, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com.br (Brasil)

Rakesh Krishnan SIMHA*Oriental Review (Índia)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

As sanções estão empurrando grandes volumes de comércio e finanças para fora das redes tradicionais, enfraquecendo o contraste do ocidente sobre aqueles fluxos.

As sanções ocidentais estão tendo efeito não desejado. Estão acelerando o nascimento de um ecossistema paralelo, no qual os países não aliados do ocidente podem operar, sem estar expostos à constante ameaça de sanções. Livre do controle ocidental, essa plataforma alternativa vai ganhando tração com surpreendente velocidade.

Vale a pena mencionar, de início, que muitas empresas ocidentais estão muito expostas no mercado russo. E a Rússia, por sua vez, é basicamente exportadora de matérias-primas como petróleo, gás, metais e minerais, cuja demanda é hoje muito forte, sobretudo nos impetuosos mercados asiáticos. Resumo da história: enquanto consumidor e bens de capital ocidentais podem ser substituídos por fabricantes asiáticos, as matérias-primas russas são o próprio sangue que mantém vivas as economias da
Ásia e da Europa.


Movimento rápido-SWIFT move

Na área da finança, o movimento na direção de um mundo não-ocidental está acontecendo ainda com mais rapidez. Assista vídeo no fim do parágrafo. Não é surpresa que assim seja: é sempre mais fácil redirecionar e substituir um fluxo de dinheiro, do que, digamos, um embarque de carvão ou um navio petroleiro carregado


Dentre as dúzias de sanções dirigidas contra a Rússia, a mais extrema foi proposta pela Grã-Bretanha, que pressionou os líderes da União Europeia a bloquear o acesso dos russos à Sociedade para Telecomunicações Financeiras e Interbancárias Mundiais [orig. Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT)  ou “sistema de compensações interbancárias globais”]. A SWIFT, que tem sede na Bélgica, é o sistema de artérias do mundo financeiro.

Restringir o uso, pela Rússia, do sistema SWIFT com certeza interromperia atividades financeiras e comerciais no país, mas, segundo Richard Reid da University of Dundee na Escócia, implicará outros problemas de longo prazo. Grandes porções dos fluxos dos pagamentos internacionais russos se deslocariam para canais menos bem monitorados e conhecidos e inalcançáveis por quaisquer sanções, nem agora nem no futuro – como o professor Reid disse a Bloomberg News

Apesar de a chanceler alemã Angela Merkel ter suavemente [orig. swiftly] rejeitado a proposta britânica como exagerada, o dano já está feito. Moscou já sabe que os demônios gêmeos EUA-UK não estão satisfeitos só com sanções simbólicas, e querem, sim, destruir a economia russa. Então, antes que lhe saltem à jugular, os russos, em julho passado, já esboçaram uma lei que cria um sistema local equivalente ao SWIFT.

As sanções também chamaram a atenção e aceleraram a sinergia entre Rússia e China. Vesti Finance diz que sanções que visem a restringir o acesso dos russos ao sistema financeiro já praticamente não terão efeito algum, porque as empresas russas já negociam na China os capitais de que necessitam. E os chineses têm todo o interesse em ampliar espaços para sua moeda renminbi e fazer dela moeda internacional de reserva.

Des-dolarização
O trânsito para um sistema paralelo de pagamentos está acontecendo ao mesmo tempo em que vários sistemas começam a organizar-se para abandonar o dólar norte-americano, do qual depende toda a economia – e toda a hegemonia – dos EUA.

O status do dólar como moeda de reserva é efeito de essa ser a única moeda aceita no mercado de petróleo, razão pela qual o dólar é também chamado petrodólar.

Tudo isso está já em processo de mudança, com a Rússia e outras potências emergentes planejando separar-se do petrodólar e pôr fim ao status do dólar como moeda de reserva. Mas, porque a dominação do dólar permanece nos negócios de petróleo, fazer mudar essa inércia exigiu negócio realmente muito grande e, precisamente, no comércio do petróleo.

A empresa peso-pesado que está entrando em ação aí é a Gazprom.  

Kommersant noticia que a empresa russa de petróleo já começou a embarcar petróleo do círculo Ártico e os tanques petroleiros estarão chegando aos portos europeus ainda esse mês, com petróleo a ser pago, aos russos, em RUBLOS. A Gazprom também entregará petróleo pelo oleoduto Leste da Sibéria-Oceano Pacífico [gasoduto East Siberia-Pacific Ocean (ESPO)], aceitando RENMINBI chineses como moeda de pagamento.


Eastern Siberia-Pacific Ocean pipeline (ESPO)


(...) a Rússia está tocando ativamente os planos para deixar o dólar norte-americano a comer poeira na estrada, substituído por um sistema livre do dólar – leia-se, num mundo des-dolarizado.

Citando o jornal Voice of Rússia, Zero Hedge diz que o Ministério das Finanças russo já está ponto para dar luz verde a um plano para ampliar radicalmente o papel do RUBLO nas operações de exportação, ao mesmo tempo em que se reduz a fatia das transações denominadas em dólares.

Ainda segundo Zero Hedge,

(...) quanto mais o ocidente antagoniza a Rússia, quanto mais sanções inventa, mais a Rússia será empurrada para bem longe do sistema de negócios e comércio denominados em dólares, na direção que aproximará a Rússia, da China e da Índia.

O mesmo movimento também aproximará a Rússia/ China/ Índia, do BRASIL, mas a revista aqui traduzida é da Índia e, no Brasil NÃO HÁ JORNALISMO QUE PRESTE. Resultado disso; os cidadãos brasileiros são mantidos TOTALMENTE IGNORANTES da importância que eles mesmos têm, hoje, nesse processo planetário. (NTs)

Vale a pena mencionar que o contrato de gás siberiano de US$ 400 bilhões com a China – que Moscou e Pequim negociaram durante mais de uma década – foi finalmente assinado em maio de 2014... depois das sanções e, claro, estimulado pelas sanções do ‘ocidente’ contra a Rússia.

Militares: uma sensação de naufrágio
Sinal eloquente da miséria do pensamento estratégico na França e na Alemanha é que sejam tão facilmente conduzidos pelo nariz, pela dupla EUA-UK na direção de desrespeitarem contratos de venda já firmados e vigentes com a Rússia. Não será tão fácil como talvez pensem: as multas por quebra de contrato são gigantescas; e o prejuízo só aumentará, com futuros compradores alarmados ante o risco de franceses e alemães não cumprirem contratos.


 Modernização do potencial militar da Rússia

Se o interesse de Alemanha e França é espantar seus tradicionais clientes compradores de armas, estão fazendo trabalho excelente. OK, mas... e se isso fosse exatamente o plano dos EUA, desde o início – atrair para os EUA os clientes frustrados de Alemanha e França?!

Como parte da modernização militar em curso, a Rússia contratara a alemã Rheinmetall, para construir moderno campo para treinamento militar. Sob pressão dos EUA, a Alemanha cancelou o contrato. A webpage Strategy Page diz que a Rússia provavelmente procurará a China, para construir aquele campo de treinamento, uma vez que a China adquiriu – ou “obteve” – a tecnologia necessária e já construiu seu próprio campo de treinamento militar de última geração.

A lista crescente de sanções contra a Rússia atingiu pesadamente a indústria russa de armas, porque novas armas russas dependem de fornecedores ocidentais para alguns dos componentes mais high tech – diz Strategy Page.A China está obtendo vantagem disso, fazendo lembrar que se tornou das grandes fabricantes planetárias de componentes mecânicos e eletrônicos finais de alta tecnologia, e pode provavelmente substituir os fornecedores ocidentais bloqueados agora pelas sanções (ocidentais).

Embora a Rússia não compre grande quantidade de armas estrangeiras, o país, sim consome grande quantidade de componentes high-tech (especialmente eletrônicos) do ocidente. Muitos desses itens são itens de duplo uso, que China e outros países do leste da Ásia também fabricam. A China apoia os movimentos russos na Ucrânia e é contra as sanções (que a própria China conheceu, como alvo, durante décadas!).

Pequim acredita que possa substituir número significativo de fornecedores ocidentais para o mercado russo, a ponto de criar cerca de US$ 1 bilhão em negócios extras, para empresas chinesas.

Assim também a Índia assiste – num misto de divertimento e frustração – à França curvar-se aos EUA e fazer gorar seu negócio de US$ 1,6 bilhão, dos Mistral, com a Rússia. A França sempre foi fornecedor confiável de sistemas de combate de alta qualidade e jamais abortou qualquer tipo de acordo ou negócio que tivesse com a Índia. Mas isso foi no passado, quando a França não tinha de obedecer à OTAN. Agora, com Paris sincronizando suas políticas com os senhores da guerra em Washington, os militares indianos têm-se mostrado muito desconfiados da tecnologia “Made in France.

Enquanto EUA e União Europeia batem cabeça no escuro, há atividade considerável em países aliados à Rússia. Além de movimentos comandados pelo mercado (exportadores de comida asiáticos correndo a encher as prateleiras dos supermercados russos), há em marcha também movimentos estratégicos.

Por exemplo, os EUA e a União Europeia têm um monopólio na produção de fuselagens de grandes aviões e dominam também categorias intermediárias. As sanções são o empurrão que faltava para acelerar joint-ventures entre empresas de arquitetura e engenharia aeronáutica, especialmente entre Rússia e China para a construção de grandes aviões e entre Rússia e Índia para aviões de porte médio.

O conceito de um “Mundo sem o Ocidente” foi articulado pela primeira vez pelos professores norte-americanos Steven Weber, Naazneen Barma e Ely Ratner.

Ao darem preferência a aprofundar laços entre eles mesmos e, ao fazê-lo, deixar que se enfraqueçam relativamente os laços que os uniam ao sistema internacional centrado no ocidente, as potências emergentes estão construindo um sistema alternativo de política internacional, cuja meta não é nem o conflito com o ocidente, nem a assimilação pelo ocidente - dizem eles. 

De fato, ao não aceitar o jogo pelas regras e sistemas fixados pelo ocidente, essas potências emergentes estão criando um arranjo alternativo, pelo qual nem entram em situações de conflito com o ocidente, nem aceitam alianças de subserviente (como as que foram oferecidas à Coreia do Sul e ao Japão).

*Rakesh Krishnan Simha é analista e jornalista neozelandês especializado Negócios Internacionais. A característica de seu trabalho é a indignação contra a propaganda política mascarada de jornalismo. Iniciou sua carreira em 1995 na revista Business World em New Delhi. Trabalhou também como jornalista de economia no India Today, Hindustan Times, Business Standard e Financial Express, onde foi o Editor-chefe. Vários de seus artigos tem sido publicados no Oriental Review, Moscou; Foundation Institute for Eastern Studies, Warsaw; e OneWorld South Ásia, um portal sobre o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos. É autor referenciado nos cursos da School of CommunicationRutgersThe State University of New Jersey (Wikipédia) e como parte do curriculum do Anthropology Department of the National University of IrelandMaynooth

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