16 setembro 2014, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
“Acho que os empresários europeus estão decepcionados com as
políticas de seus países", disse o presidente da Rússia.
A curta reunião de cúpula da OTAN em Cardiff, no País de Gales,
confirmou mais uma vez: a Rússia tomou a decisão certa ao restringir a entrada
de produtos de países-membros da organização para “a mesa” dos russos. O
secretário-geral da OTAN, Anders Fog Rasmussen, fez declarações de tal forma
“linha-dura” que os membros da Aliança do Norte escutaram como se estivessem no
início dos anos 1950.
Foi tomada a decisão de implantar forças de rápida reação por parte
da OTAN na fronteira com a Rússia, com uma nova sede dessa força na Polônia –
país que é um dos vizinhos mais próximos da Rússia, mas com certeza não é um
dos melhores amigos dos russos (a russofobia na Polônia, que chama a guerra
civil na Ucrânia de “invasão russa”, chegou ao pico).
O Secretário-Geral Rasmussen afirmou também que pretende adotar um
“pacote de medidas para a inclusão da Geórgia na OTAN”, e juntamente manter a
sua promessa de “conservar as portas da Aliança abertas” para uma Ucrânia já
entregue a uma guerra civil. Isso já se soma a uma boa quantidade de passos não
amigáveis com a Rússia, tal como a Rússia não via desde os tempos da Alemanha
nazista contra a União Soviética em 1941.
(Mesmo sob o comando de Hitler até o
ataque contra a União Soviética em 1941 a Alemanha não interveio nem pela
“defesa da soberania” de Lituânia, Letônia e Estônia por causa de um voo de
três minutos de um caça de Leningrado sobre a Estônia, e muito menos na
construção de um muro entre a Ucrânia e a Rússia. Mas a OTAN está planejando e
prometendo tudo isso.)
Com essas condições , deixar a alimentação dos russos nas
mãos dos mesmos países que cercam a Rússia com bases militares e enviam 15
milhões de dólares em ajuda militar ao regime de Kiev hostil à Rússia – com
essas condições, receber carne e queijo de países da Aliança que fazem tudo
isso seria imprudente por parte de Moscou.
E aqui está uma situação muito favorável ao Brasil.
Recentemente o presidente da Rússia, Vladimir Putin, junto com o
seu ministro dos Negócios Estrangeiros, falou sobre o Brasil, colocando o país
em primeiro lugar entre os países da América Latina, dando-lhe posição
favorável sobre importações de alimentos para a Rússia. Vale lembrar que ainda
em julho, em resposta à aplicação de sanções contra bancos russos por parte da
União Europeia, a Rússia restringiu o acesso aos seus mercados para vários
tipos de alimentos provenientes da União Europeia e de outros países não
membros da OTAN (incluindo a Noruega, de quem deixou de receber pescado).
Enquanto isso, desde o início da década de 1990, o alimento
estrangeiro ocupa um lugar importante na dieta dos russos, e a União Europeia,
em conjunto com os Estados Unidos, tomou um lugar de liderança nesses
suprimentos. O frango dos Estados Unidos, o queijo da França, as salsichas da
Holanda – o fornecimento desses produtos à Rússia há mais de 20 anos tem gerado
um negócio multibilionário. Na verdade, nos últimos anos os russos e os aliados
da União Aduaneira, na Bielorrússia e no Cazaquistão, têm aprendido a fazer
esses produtos por conta própria, mas no mercado de alimentos da Rússia existem
nichos bilionários para os alimentos estrangeiros – e Putin diz que gostaria de
obtê-los do Brasil.
“Por isso, estamos trabalhando com outros produtores, produtores
estrangeiros, países da América Latina, principalmente Brasil, Argentina e
Chile. Os nossos colegas europeus se dirigem a esses países com o pedido de não
fornecerem seus produtos à Rússia. Isso é estranho, e até mesmo difícil de
imaginar que empresários não vão aproveitar esse caso para entrar no nosso
mercado”, disse Putin durante uma entrevista no programa ‘Voskresnoe Vremia”.
Putin até chegou a ameaçar os fornecedores europeus, alegando que
após a chegada dos brasileiros será difícil para os europeus voltar ao mercado
russo: "O perigo para os nossos fornecedores tradicionais é que, quando
uma ou outra empresa tem suas estruturas fixadas em algum mercado – e nós
estamos falando, em particular, do mercado russo –, em seguida, movê-las para
fora daqui será muito difícil ou mesmo impossível. E eu acho que as empresas
dos países europeus entendem isso. Elas não entendem essas voltas políticas.
Acho que os empresários europeus estão decepcionados com as políticas de seus
países", disse o presidente da Federação Russa.
Como aconteceu que os países europeus tradicionalmente mais
próximos da Rússia acabaram sendo parceiros menos desejáveis do que o Brasil? O
motivo aqui não está vinculado à xenofobia russa, mas à política dos próprios
países europeus. O exemplo mais marcante aqui é o caso da Alemanha, que, desde
o fim da Segunda Guerra Mundial, por quase 70 anos foi o parceiro comercial
mais importante da União Soviética e depois da Rússia. Vejamos este exemplo em
mais detalhes.
Por muitos anos, a comunidade russa de especialistas considerou a
Alemanha como um dos países europeus mais amigáveis da Rússia. Além disso,
nossos analistas vieram de pressupostos bastante pragmáticos. A lógica é esta:
a Alemanha precisa de gás russo e a cooperação econômica com a Rússia fornece
nada menos que 300 mil postos de trabalho na Alemanha (mais milhões de
funcionários de meio-período e outros "beneficiários"); então, a
Alemanha resistiria a toda a óbvia linha antirrussa da União Europeia.
Sim, os interesses nacionais da Alemanha, sem dúvida, estão ligados
à Rússia, e o fundador do centro americano de pesquisa Stratfor, George
Friedman, chega a considerar a associação entre a tecnologia alemã com o
mercado e as matérias-primas russas como a única concorrência em longo prazo
para os Estados Unidos no cenário econômico mundial.
Mas será que os políticos alemães irão atender aos interesses do
país de dar passos ao encontro da Rússia? Esta é uma grande pergunta. A
história recente da União Europeia conhece cada vez mais exemplos de líderes de
grandes países ocidentais ou do Leste da Europa que agiram justamente de forma
contrária aos interesses dos seus povos.
Estava a Alemanha interessada em uma revolução na Ucrânia, na
fragmentação do país e no que se seguiu após essa troca de golpes de sanções
entre a União Europeia e a Rússia? É claro que não. No entanto, a Chanceler
Angela Merkel fez uma enorme contribuição para a desestabilização da Ucrânia.
Em novembro de 2013 Merkel expressou a maior insatisfação com o pedido do
ex-Presidente Yanukovich de adiar a assinatura do Acordo de Associação entre a
Ucrânia e a União Europeia. "Nós esperávamos mais", disse ela a
Yanukovich na conferência de cúpula de Vilnius em novembro de 2013, quando o
presidente ucraniano pediu para adiar a assinatura da associação em março ou
pagar a compensação financeira ao seu país pela quebra dos laços com a Rússia.
Em seguida, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle,
participou pessoalmente dos protestos no Maidan de Kiev – um fato improvável
sem o consentimento de Merkel.
Enquanto isso, quando no Maidan já soavam slogans antirrussos –
ameaças de matar Yanukovich e Putin como “invasores” (embora a Ucrânia seja
independente de Moscou desde 1991), promessa de atacar russos com facas,
chamadas para “pendurar comunistas e russos”, etc. –, Westerwelle pareceu não
notar tudo isso, dizendo apenas que os manifestantes prometiam combater a
corrupção de Yanukovich. Com efeito, Berlim acabou na companhia dos países mais
antirrussos da União Europeia, como a Lituânia e a Polônia.
Todos esses acontecimentos dizem respeito ao fato que a Alemanha de
hoje e a União Europeia de uma forma geral preferem não lembrar: a República
Federativa da Alemanha e a União Europeia como um todo têm sua parcela de
responsabilidade na guerra civil da Ucrânia. Pelo seu apoio à derrubada de
Yanukovich, que foi legitimamente eleito em 2010, a Alemanha contribuiu para a
destruição do equilíbrio político entre o leste e o oeste da Ucrânia. De 1991
até 2014, o leste tendendo para a Rússia e o oeste orientado para a União
Europeia resolviam suas diferenças nas eleições presidenciais, assim como no
Parlamento, onde frequentemente chegavam a brigar. Agora, após a deposição de
Yanukovich e a perda da Crimeia com os seus dois milhões de eleitores para a
Rússia, a Ucrânia ocidental ganhou o controle absoluto no Parlamento e na
escolha do futuro presidente. E as diferenças entre o ocidente e o oriente
passaram a ser decididas no campo de batalha no Leste ucraniano.
É possível que, justamente por isso, pela sensação de própria
responsabilidade, Merkel fuja da expressão “guerra civil”, preferindo falar de
“invasão russa” e "meios de contenção" que devem ser aplicados contra
o supostamente responsável por tudo, Putin.
Dos seus colegas na Polônia e do Báltico, Merkel se diferencia
apenas por uma grande hipocrisia. Ela frequentemente fala do seu amor pela
Rússia e do desejo de "cessar as hostilidades na Ucrânia" (por alguma
razão, nunca menciona a responsabilidade das autoridades de Kiev por esses
mesmos atos de guerra, embora o lado agressor seja exatamente Kiev). Um exemplo
dessa hipocrisia foi a entrevista ao canal alemão ARD:
“Eu quero encontrar um método que não prejudique a Rússia. Nós na
Alemanha queremos ter boas relações comerciais com a Rússia, assim como com
outros países... Nós dependemos um do outros, e no mundo existem tantos
conflitos que devemos agir juntos para evitá-los, por isso espero que
consigamos atingir um progresso.”
É interessante como Merkel pretendia “não prejudicar” a Rússia,
discursando a favor das sanções, destinadas a interromper o acesso da Rússia ao
crédito e à tecnologia europeia. E como ela pretende “trabalhar junto” com o
presidente russo, se o seu país adota sanções contra indivíduos pertencentes a
seu "círculo interno" apenas porque eles são "amigos de Putin”?
Qual é a lei da Europa que permite que as pessoas tenham a propriedade retirada
porque elas se tornaram amigas de um político censurável pela União Europeia?
Existe o temor de que a “amizade” de Merkel com a Rússia soe como
hipócrita, assim como seu “incômodo” de muitos anos sobre as escutas no seu
telefone particular feitas pelos serviços de inteligência americanos (apesar de
todas as promessas, este "incômodo" não resultou em sanções contra os
Estados Unidos).
Agora Merkel vai enfrentar um novo desafio – os países do Leste
Europeu (especialmente a Polônia e os Países Bálticos) vão exigir elevar o seu
status na OTAN a um nível comparável com o da Alemanha. Eles também pretendem
buscar a implantação de bases da OTAN em seu território, o que vai realmente
ser controlado pelos americanos, sem a participação da Alemanha e de outros
gigantes europeus ocidentais da OTAN. Outro elemento será o pedido da Polônia e
dos Estados bálticos para colocar o sistema de defesa antimísseis
norte-americano no Leste Europeu direcionado à Rússia. Isso foi evidenciado
pelo vazamento de informações antes da cúpula da OTAN, agora em setembro, no
País de Gales.
Com a sua política antirrussa seguindo cegamente a política
aventureira da Comissão Europeia na Ucrânia, Merkel estragou as perspectivas de
negócios alemães no mercado russo. Infelizmente, com o mesmo espírito agiu a
aliança da OTAN, fechando as suas perspectivas de negócios no mercado russo.
Assim, vamos esperar a abertura dessa perspectiva para os negócios no Brasil. (Diário
da Rússia)
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