6 setembro 2014, Leonardo Boff http://leonardoboff.wordpress.com
(Brasil)
Já vai acalorada a campanha presidencial com uma
disputa aberta entre Dilma Rousseff, atual Presdenta e a pretendente Marina
Silva. Trata-se, na verdade, do confronto de dois projetos: a manutenção por
parte do PT de um projeto progressista, marcado por fortes políticas públicas
que permitiram integrar uma Argentina inteira na sociedade organizada. A
prática política, imposta pelas elites, era de os governos fazerem políticas
ricas para os ricos e pobres para os pobres. Mas aconteceu uma viragem em nossa
história. Alguém do povo chegou ao centro do poder e conferiu outra direção ao
Estado. Não se pode negar que o Brasil numa perspectiva geral, especialmente na
ótica dos pobres, melhorou muito. Negá-lo é mentir à realidade.
A este
projeto progressista se opõe o que a candidata Marina chama de “nova política”.
Quando observada de perto, porém, não passa de um projeto conservador e velho
que beneficia os já beneficiados e que alinha o país à macroeconomia voraz que
faz com que 1% dos americanos possua o equivalente ao que juntos 99% da
população ganha. Esse projeto visa a conter o processo progressista,
evidentemente, sem anulá-lo, porque haveria, sem dúvidas, uma rebelião popular.
As opções
do PSB e de Marina Silva representam um retrocesso do que havíamos ganho em 12
anos. A centralidade não será o Estado republicano que coloca a “coisa (res)
pública” em primeiro plano, o estado dinamizador de mudanças que beneficiam as
grandes maiorias a ponto de ter em 12 anos dimiudo a desigualdade social em
17%. Agora com Marina, o foco é o Estado menor para conceder maior espaço ao
mercado, ao livre fluxo de capitais sem lei, reafirmando as teses neoliberais:
o aumento do superavit primário, que se faz com corte dos gastos públicos, com
arrocho salarial e desemprego para assim controlar a inflação e finalmente
impondo a autonomia do Banco Central. Especialmente este último ponto é grave
porque um presidente foi eleito também para gerenciar a economia (que é parte
da política e não da estatística) e não entregá-la às pressões dos capitais,
dos bancos e dos rentistas. Seria um atentado à soberania monetária do pais.
Este
projeto velho, foi aplicado no Brasil pelo governo do PSDB, não deu certo,
quebrou a economia da União Européia e lançou o mundo numa crise da qual
ninguém sabe como sair. O efeito imediato será, como referimos, o arrocho
salarial e o desemprego com o repasse de grandes lucros para os donos do capital
financeiro e dos bancos.
Marina quer
governar com os melhores da sociedade e dos partidos, por cima das alianças
inevitáveis no nosso presidencialismo de coalização. As alianças se farão,
provavelmente, com o PSDB e com o PMDB e terá assim que engulir José Sarney,
Renan Calheiros e Fernando Collor que ela tanto abomina. Sem alianças, Marina corre
o risco de não ver passar no parlamento, os projetos que propõe, por falta de
base de sustentação.
Quem a
escuta e lê seu programa parece que fez um passeio pelo Jardim do Eden: tudo é
harmonioso, todos são cooperativos e não há conflitos por choques de
interesses. Esquece que vivemos num tipo de sociedade de mercado (e não apenas
com mercado) que se caracteriza pela competição feroz e por parca cooperação.
Estimo que Marina, religiosa como é, se inspira no sonho do paleo-cristianismo
dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “a multldão era um só coração e uma só
alma;ninguém considerava sua a propriedade que possuía; tudo entre eles era
comum”(At 4,32)
Estas
opções mostram claramente que ela mudou de lado. Antes quando estava no PT do
qual é uma das fundadoras falava-se na opção pelos pobres, por sua libertação e
se denunciavam os faraós de hoje. Construía no canteiro dos explorados e
injustiçados. Agora ela constroi no canteiro dos seus opressores: os
endinheirados, os bancos, o capital financeiro e especulativo. Leva a eles o
tijolo, o cimento e a água. Seus assessores na economia são todo neoliberais.
Os seringueiros do Acre rechaçarm o fato de Marina colocar entre as elites a
figura de Chico Mendes, pois sabem que foram agentes dessas elites que o assassinaram;
por isso, protestaram veementemente e reafirmaram a tradição do PT apoiando a
candidata Dilma.
Minha
suspeita é de que Marina persegue o poder e visa a alcançar a presidência, por
um projeto pessoal, custe o que custar. Diz-se por ai, que uma profetiza de sua
igreja evangélica, a Assembléia de Deus, profetizou que ela, Marina, seria
presidenta. E ela crê cegamente nisso como crê no que, diariamente lê na
Bíblica, passagens abertas ao acaso, como se aí se revelasse a vontade de Deus
para aquele dia. São as patologias de um tipo de compreensão fundamenalista da
Bíblia que substitui a inteligência humana e a busca coletiva dos melhores
caminhos para o país.
Sou duro na
crítica? Sou. E o sou para alertar os eleitores/as sobre a responsabilidade de eleger
uma presidente com tais ideias. Já erramos duas vezes, com Jânio e com Collor.
Não nos é mais permitido errar agora em que a humanidade passa por uma grave
crise global, social e ambiental e que reverbera em nosso país.
Não devemos desistir do que deu certo e avançou.
Mas devemos cobrar que se inaugure um novo ciclo que aprofunde, enriqueça e
inove para além do que já foi incorporado pela população. Creio que o projeto
do PT com Dilma, não obstante os erros e as decaídas que aconteceram e que podem
e devem ser resgatadas, é ainda o mais adequdo para o povo brasileiro. Por isso
apoio Dilma Roussef.
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