26 agosto 2014, Gazeta
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Novo organismo criado em reunião dos
países em Fortaleza oferece alternativa para o domínio econômico do FMI e do
Banco Mundial ю
Não tenho dúvida de que os historiadores do futuro
irão destacar a reunião dos chefes dos Estados membros do grupo BRICS (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul) realizada nos dias 16 e 17 de julho na
cidade brasileira de Fortaleza, como um dos pontos de transformação da
história, comparável à derrota de Napoleão em Waterloo em 1815 e à ascensão do
domínio imperialista britânico, seguido do norte-americano, em todo o mundo. É
evidente que o presidente russo, Vladímir Pútin, está desempenhando um papel de
liderança na criação de uma alternativa histórica para o sistema monetário e
financeiro anglo-americano, no âmbito do BRICS. Presumo que os próximos meses
serão decisivos a esse respeito.
Com certeza, o acordo mais importante alcançado nessa
reunião foi o que se refere à criação do chamado Novo Banco de Desenvolvimento,
com um capital inicial de US$ 50 bilhões e
que mais tarde poderá ser aumentado
para US$ 100 bilhões. Além disso, os países do BRICS concordaram em criar uma
nova reserva em moeda estrangeira no valor de US$100 bilhões.
Em uma extensa entrevista com a agência de notícias
ITAR-TASS, o presidente Vladímir Pútin falou sobre os aspectos básicos da
estratégia dos países do BRICS: "O mundo moderno é realmente multipolar,
complexo e dinâmico, isso é uma realidade objetiva. E as tentativas de
construir um modelo de relações internacionais em que todas as decisões seriam
tomadas no âmbito de um único polo são ineficazes, volta e meia apresentam
falhas e, de modo geral, estão condenadas ao fracasso", declarou o líder
russo.
Em suas avaliações e reflexões, Putin, que sem dúvida
é a força motriz por trás do crescente papel internacional do BRICS, também
destaca o seguinte fato: todos os cinco países, entre os quais há dois membros
do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto e cuja população total chega
a quase 3 bilhões de pessoas, são unânimes em suas declarações sobre
questões-chave das relações internacionais e sobre a Carta da ONU, documento
que, ao que parece, foi esquecido por Washington e Bruxelas. Além disso, o
Banco Mundial e o FMI recusaram-se a financiar alguns projetos porque eles não
satisfazem os interesses de corporações internacionais dos EUA ou da UE, como
por exemplo, a ExxonMobil ou a Monsanto.
Apesar de não ter sido expressa de forma explícita,
essa observação é um ataque ao papel neocolonial do FMI e do Banco Mundial, que
com o seu "Consenso de Washington" (conjunto de medidas de ajuste
macroeconômico formulado por economistas dessas instituições financeiras em
1989) defendem medidas de austeridade, vendem ativamente as empresas estatais e
desvalorizam as moedas nacionais - política que é confortável e propícia para
os interesses financeiros e industriais dos países desenvolvidos.
Realmente, criando o Novo Banco de Desenvolvimento,
com capital de US$ 50 bilhões, com a sua própria gestão, suas próprias regras,
totalmente independente dos ditames do FMI, os países do BRICS, pela primeira
vez no período pós-guerra, fizeram uma revolução referente ao sistema do dólar,
que até hoje estava detendo o desenvolvimento mundial e o guiava por um caminho
unilateral, de acordo com os interesses dos assim chamados países ricos.
Segundo uma regra não escrita, o diretor-gerente do FMI sempre foi um
representante da Europa e o presidente do Banco Mundial deve ser um cidadão dos
EUA, sendo que tanto o banco como o seu presidente estão sediados em
Washington, distrito de Colúmbia.
Todos os países membros do BRICS, com exceção da
China, foram destinatários de empréstimos do FMI, condicionados a obrigações do
devedor para com o credor e a exigências cruéis, mas o mais importante é que
eles são seus duros adversários.
Após a desagregação da União Soviética, que ocorreu em
1991 e não se pode dizer que os EUA não tiveram a sua participação nisso,
Washington conseguiu que todos os investimentos na economia russa fossem
aprovados pelo FMI. O FMI é controlado pelo Ministério das Finanças dos EUA.
Isso permitiu que as corporações internacionais americanas e Wall Street
saqueassem as riquezas da Rússia durante o governo de Boris Iéltsin. Da mesma
forma, durante a crise de endividamento dos t países subdesenvolvidos na década
de 1980, o Brasil e, em seguida, a África do Sul foram forçados a seguir os
ditames do FMI.
Agora, com estas duas novas instituições na qualidade
de “embrião” de um novo sistema econômico mundial justo, os BRICS têm a
oportunidade de formular um "consenso popular" ou, como alguns já o
estão chamando, "consenso do Rio”, que possa contribuir para o
desenvolvimento racional das economias nacionais, melhoria das condições de
vida de toda a população e redução do poder dos oligarcas corruptos. Tudo
indica que o projeto "consenso do Rio" já está em operação.
A Indonésia, a Turquia e uma série de outros países
que estão se desenvolvendo rapidamente já estão na fila para se associar ao
grupo BRICS, apesar de Vladimir Putin ter insinuado que a admissão de novos
membros no grupo deve esperar a consolidação dessas novas instituições. Esse
fato, por sua vez, cria um contrapeso significativo para o mundo de Washington
– o mundo de uma superpotência única. Além disso, a Rússia também propõe a
criação de uma universidade em rede, ou seja, um conglomerado das principais
universidades da Rússia, China, Brasil, Índia e a África do Sul, em primeiro
lugar nas áreas de economia e especialidades técnicas, relatou a agência TASS.
Hoje, a Rússia, o Brasil, a China, a Índia e a África
do Sul estão criando uma nova família, na qual há prudência e pelo menos um
pouco de empatia em relação às dificuldades enfrentadas pelos outros. O grupo
dos “Sete Grandes” é hoje um clube das economias que fracassaram: EUA, Reino
Unido, Itália, França, Canadá e Japão. O único país cuja economia está
funcionando pelo menos pela metade é a Alemanha.
Vladímir Pútin e os seus colegas no BRICS agora podem passar
para a criação da alternativa que levará em conta os interesses de toda a
comunidade internacional. Eu espero e sonho com isso há décadas.
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BRICS, БРИКС: Brasil, Rússia, Índia, China, South Africa, Бразилия, Россия, Индия, Китай, Южная Африка
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