sexta-feira, 12 de setembro de 2014

DRAGUI, OU O FRACASSO DA EUROPA

10 setembro 2014, Resistir.info http://www.resistir.info (Portugal)

por Juan Torres López

Quando há pouco mais de dois anos Mario Dragui acabou com a especulação que fazia subir tão perigosamente o prémio de risco de vários países europeus, dentre eles a Espanha, foi aclamado como um herói ao conseguir travá-la com uma simples frase:  "Farei o que for necessário para salvar o euro, e será suficiente". Escrevi neste mesmo diário que em lugar de aplauso merecia ser processado porque acabava de demonstrar que o Banco Central Europeu podia ter evitado o custo financeiro tão impressionante que se estava a gerar para os governos e que toda a Europa se encaminhasse de novo para a recessão e a crise ( Dragui debe ser procesado ).

Agora torna a passar-se praticamente o mesmo. Aplaudem Dragui e o BCE por ser valente e colocar as taxas de juro num nível histórico, supondo que assim vão facilitar que o crédito flua finalmente às empresas e que isso permita levantar a economia europeia. Mas mais uma vez se vão equivocar aqueles que tenham a ingenuidade de acreditar que as coisas vão ser assim.

Na realidade, esta medida in extremis do BCE é a manifestação palpável do seu fracasso e o de toda a Troika na hora de
manejar a crise.

A aplicação de políticas de austeridade quando a economia carecia de alimentação nos seus principais motores (o consumo, o investimento privado e as exportações) foi "pro-cíclica", ou seja, agravou a falta de actividade e criou mais encerramentos de empresas, mais paralisação e mais dívida, levando a economias a uma nova fase de recessão. Quiseram aliviar os males do enfermo tirando-lhe a vida e agora percebem que está sem remédio e aplicam uma medida que parece radical e contundente mas que, sem dúvida, vai ser mais uma vez ineficaz. Ou melhor dizendo, favorável só aos grandes fundos especulativos que vêm apostando na baixa de taxas há meses.

Será ineficaz, em primeiro lugar, porque as autoridades europeias não fizeram praticamente nada para resolver o mal de fundo do sistema financeiro europeu que não é outro senão a quebra generalizada dos bancos. Portanto, qualquer dinheiro a mais que estes recebem (tal e como tem sucedido até agora) será utilizado só, na imensa maioria, para tentar sanear seus balanços e aumentar artificialmente suas contas de resultados, tal como têm feito até agora.

Em segundo lugar, porque, ainda que com essas taxas mais baixas se conseguisse que os bancos aumentassem o crédito a empresas e famílias, não se conseguirá que o custo efectivo deste financiamento seja suficientemente baixo quando chegue a eles. Os bancos, graças ao seu impressionante poder de mercado, continuarão a aplicar margens brutais que impedirão que se resolva realmente o problema do financiamento ao conjunto da economia.

Em terceiro lugar, porque a carência de ganhos (de clientes nas empresas e de rendimento disponível nas famílias) obriga-os a dedicarem-se de preferência a reduzir dívida (a "desalavancar-se", como se diz na gíria). De modo que, enquanto não se tomarem medidas que garantam que a actividade real e a procura efectiva aumentem para que assim se encaminhem ganhos suficientes para os bolsos das empresas produtivas e dos consumidores, as políticas de taxas de juro continuarão a ser inúteis para fazer que a economia europeia levante voo. Poderão levar o cavalo à água, talvez, mas não poderão fazer com que beba.

As autoridades europeias afundaram conscientemente a Europa com o único objectivo de salvar bancos e grandes empresas e agora não vão poder levantá-la utilizando o mesmo procedimento.

Albert Einstein dizia que "a loucura é fazer a mesma coisa repetida vezes esperando obter diferentes resultados". E isso é o que se passa com Dragui e o resto das autoridades europeias: estão loucos se acreditam que vão conseguir algo diferente fazendo o mesmo de sempre, por mais lucros na bandeja da banca e das grandes empresas.

A Europa necessita de outra terapia diferente que não cabe no âmbito do capitalismo neoliberal que promovem e impõem (certamente, de modo cada vez mais anti-democrático) as autoridades europeias.

Em primeiro lugar, é prioritário que se resolva o problema da dívida artificialmente gerada pela política do BCE e pela acção especulativa dos fundos financeiros. Todas as instituições e políticas europeias funcionam para criar dívida (desde o momento mesmo em que se impediu que o banco central financie a custo zero os governos – naturalmente sob critérios estritos de estabilidade a médio e longo prazo) e isso – juntamente com o grande poder político acumulado pela banca – é a fonte da crise actual e das que vão continuar a produzir-se.

Em segundo lugar, é imprescindível que se recupere a actividade real, os mercados de bens e serviços, e para isso é obrigatório forçar uma repartição diferente do rendimento para que as empresas (e sobretudo as pequenas e médias) voltem a ter clientes às suas portas e possam contratar novos trabalhadores. A desigualdade crescente é a fonte da recessão actual e não se poderá evitar que seja recorrente enquanto não for combatida com decisão.

Em terceiro lugar, é necessário rectificar a orientação produtiva imposta na Europa nas últimas décadas reconduzindo a actividade sectorial, o modo de produzir e consumir, e reforçando os mercados locais e internos para acabar com a estúpida estratégia de competitividade que, como se vê dia a dia, não é senão uma máquina de empobrecimento mútuo. 

08/Setembro/2014

Ver também
BCE passa a conceder empréstimos aos banqueiros privados com juros reaisnegativos 

*Catedrático na Universidade de Sevilha, no Departamento de Teoria Económica e Economia Política. 

O original encontra-se em 
juantorreslopez.com/impertinencias/dragui-o-el-fracaso-de-europa/ 

----------


DRAGHI DEBERÍA SER PROCESADO
31 julio 2012, Juan Torres Lopez http://juantorreslopez.com (España)

Publicado en Público.es el 31 de julio de 2012

Los medios de comunicación han festejado que una sola frase de Draghi (“Haré lo que sea necesario para salvar el euro, y será suficiente”) haya bastado para salvarnos, deteniendo la acelerada subida de la prima de riesgo española.

Lo muestran como un todopoderoso dios monetario capaz de paralizar de un solo golpe la furia de los especuladores, la “irresponsabilidad” de los mercados que el Ministro de Economía denunciaba días atrás, cuando sus ataques encarecían la venta de nuestra deuda hasta niveles prohibitivos.

Y lo es. Es el titular de un poder nuevo, pero de un poder no democrático y que, como este mismo caso demuestra claramente, no se ejerce en beneficio de los pueblos sino infligiéndole un sacrifico tan inhumano como innecesario y cruel.

Por eso me parece que lo noticioso no debería ser la acción todopoderosa de Draghi sino que no haya comparecido para explicar por qué no la llevó a cabo antes.

Si el Banco Central Europeo, como a nadie le cabe ya la menor duda y como acaba de ser de nuevo demostrado, puede evitar tan fácilmente el sobrecoste artificial que los mercados imponen a nuestra deuda, lo que tendríamos que preguntarnos es la razón del retraso en la acción salvadora, las causas de una omisión tan flagrante del deber de protección y auxilio económico que las instituciones tienen respecto a las economías y a los pueblos que las han creado.

No se trata de un hecho baladí. De una semana a otra se suceden subastas que al ir encareciéndose aumentan en miles de millones de euros la factura que pagan los estados, y si el Banco Central Europeo no hace nada, pudiéndolo hacer, para que no sea más elevada de lo necesario, lo que está provocando es un daño terrible a las naciones, a las personas y a las empresas concretas, a sus patrimonios y a su capacidad de creación de riqueza y empleo. Un daño, además, que se hace solamente en aras de permitir que los inversores se enriquezcan todavía más simplemente apostando en un casino en donde se juega a costa del bienestar y la paz de las naciones.

No es la primera vez que Draghi se ve inmerso en acciones de este tipo, que ocasionan un daño tan evidente y grave a las economías. Fue directivo de Goldman Sachs e inevitablemente corresponsable, si no responsable directo, de los engaños que el todopoderoso banco urdió en Grecia, y parece que también en Italia, para hacer negocio manipulando sus cifras de déficit. Y su presencia está vinculada igualmente a escándalos (que terminaron también beneficiando a Goldman) relacionados con la privatización de empresas públicas en Italia. Sabe bien lo que significa utilizar recursos públicos para beneficiar a los intereses privados.

Pero en este caso estamos hablando de algo mucho peor y más grave. Es cierto que el comportamiento del Banco Central Europeo y su falta de acciones determinantes para evitar que los problemas de liquidez de los estados se conviertan en uno muy dramático de solvencia viene dado por las restricciones de su estatuto (que lo consolida como un engendro que en realidad no responde a su nombre de banco central). Pero es que incluso en el macro de sus restringida capacidad de actuación puede hacer mucho más de lo que hace, y algo muy distinto a lo que viene haciendo, como el propio resultado de las palabras de Draghi acaba de mostrar.

Los pueblos no pueden continuar en silencio ante este tipo de hechos. Debemos pedir cuentas. El Banco Central Europeo actúa como un auténtico pirómano al servicio de la banca privada, que sin disimulo se ha encargado de poner a su cabeza a unos de sus representantes más conocidos y preeminentes, precisamente porque lo que está ocurriendo no es un accidente sino una estrategia bien urdida para consolidar el poder de los grandes grupos financieros y ocultar a la ciudadanía su responsabilidad criminal en el estallido de la crisis y en las consecuencias que trae consigo.

Estamos hablando de un auténtico crimen porque esa actuación (por activa cuando el Banco Central Europeo toma decisiones tan claramente beneficiosas solo para los bancos privados y por pasiva cuando no hace nada para evitar el daño) produce, como ya es mucho más que evidente, un sacrificio doloroso y cruel a las personas. Es un crimen económico de los que llamamos contra la Humanidad que se debe perseguir y castigarse de modo ejemplar.


Es imprescindible tipificarlos con rigor y crear los tribunales necesarios para que juzguen estos comportamientos evaluando el daño y precisando la responsabilidad concreta de quienes los llevan cabo, así como el grado de complicidad que se da en otras autoridades que asienten o que incluso reclaman que el BCE actúe de esta forma. Y por supuesto, es una exigencia democrática de primer orden que se desvele y difunda la naturaleza real del discurso que envuelve sus actuaciones, que se haga pedagogía y se muestre a la ciudadanía el engaño y la impostura con las que se reviste esta gigantesca operación de saqueo a los pueblos europeos, un crimen que ya se ha llevado a cabo con anterioridad en otras latitudes y cuyas consecuencias muy lesivas para los pueblos son, por tanto, perfectamente conocidas.

Nenhum comentário: