10 setembro
2014, Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz
(Moçambique)
A assinatura do acordo, semana finda, pondo termo às
hostilidades entre o Governo e a Renamo resulta da confiança que os
moçambicanos depositaram na cultura política e capacidade dialogante do
Executivo, para que a paz voltasse a reinar no nosso país.
As hostilidades que duraram cerca de dois anos
criaram, algumas vezes, situações de desespero aos moçambicanos que clamavam,
sempre pela paz. Mas, mesmo assim, segundo o Presidente da República, Armando
Guebuza, falando no acto da autenticação do acordo, sexta-feira, em Maputo, o
povo esperou, paciente e firmemente por este momento, consciente de
que as
soluções para os nossos desafios deveriam ser encontradas no diálogo.
Armando Guebuza, que não se esqueceu de felicitar
também ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama e ao seu partido por terem
compreendido e assumido, finalmente, que seria apenas na mesa do diálogo e à
luz do Estado de Direito democrático que as suas inquietações seriam avaliadas
e atendidas, realçou também a capacidade interna de resolução de conflitos,
através da equipa de observadores nacionais e de todas as organizações e
personalidades que se envolveram no processo. Este facto, segundo o Chefe do
Estado, demonstra que “temos e devemos confiar na nossa capacidade endógena
para também realizar o nosso sonho colectivo de prosperidade e bem-estar”.
Com base naquele acto que entrou na história de
Moçambique despertam-se, de acordo com o Presidente Guebuza, justas e legítimas
expectativas da sociedade que se resumem a uma vida melhor do que antes,
esperando que todos os actores políticos se conformem, escrupulosamente, com os
ditames da Constituição da República, na orientação da sua vida.
Tendo em conta o fim das hostilidades, segundo
explicou o mais alto magistrado da Nação, os moçambicanos nada mais esperam
senão usufruir de todas as suas liberdades e garantias constitucionais, tais
como consolidar os ganhos alcançados e continuar a construir o seu bem-estar,
entregando-se ao trabalho; realizar as suas cerimónias religiosas e de outra
índole; organizar as suas festas e outras actividades sociais; produzir nas
suas machambas e noutros sectores de actividade, aplicando os seus
conhecimentos e rendimentos e circulando com os seus bens a qualquer hora do
dia e da noite, tudo isso em paz, pois o bem maior para qualquer sociedade é a
paz.
Dirigindo-se, em particular, aos parceiros de
desenvolvimento do nosso país, Guebuza realçou o facto de que o acordo assinado
entre o Governo e a Renamo abre, a partir de agora, muitas e importantes
perspectivas para que connosco continuem a se concentrar no apoio à agenda
nacional de luta contra a pobreza e pelo bem-estar, para além de reforçar o
ambiente propício para negócios, em que os investidores nacionais e
estrangeiros têm vindo a operar no país.
No seu reconhecimento aos intervenientes do processo
que levou à assinatura do acordo de fim das hostilidades, o Chefe do Estado
mencionou a prontidão demonstrada pelos países que foram convidados, por
consenso, a assumirem a missão de monitoria da implementação do pacto, ao mesmo
tempo que reconheceu a entrega das Forças de Defesa e Segurança na defesa da
pátria, dos cidadãos e dos seus bens.”Que todos os compatriotas, do Rovuma ao
Maputo e do Zumbo ao Índico sejam actores importantes e permanentes da
materialização, fiscalizando e facilitando a implementação do acordo”, apelou o
Presidente Guebuza.
Fundo não visa distribuir dinheiro
Na sua alocução, o Chefe do Estado anunciou o início,
nos próximos dias, do processo de reflexão sobre o estabelecimento,
estruturação, organização, funcionamento de um fundo da paz e reconciliação
nacional. Trata-se, segundo Armando Guebuza, de uma iniciativa que visa
oferecer oportunidades de geração de renda, espevitando o espírito empreendedor
que habita em cada um dos moçambicanos, devidamente desmobilizados, incluindo
elementos das forças residuais da Renamo, sublinhando que tal fundo não visa “distribuir
dinheiro”. Os beneficiários, tal como explicou, serão capacitados de modo a
realizarem da melhor maneira os seus projectos.
Guebuza referiu que o governo fará a sua contribuição,
na medida que os recursos disponíveis o permitirem, demonstrando assim, uma vez
mais, o seu compromisso com a paz e escoando o princípio que reverbera no seio
do nosso povo: “a única alternativa à paz é a própria paz”. Neste contexto,
Armando Guebuza convidou aos partidos políticos, confissões religiosas e outras
organizações da sociedade civil, bem como o sector empresarial, a participarem
na reflexão e na sua operacionalização.
Ao mesmo tempo, o mais alto magistrado da Nação
moçambicana disse esperar que o Presidente da Renamo e o seu partido se
coloquem à altura das expectativas criadas com a assinatura deste acordo e dos
desafios inerentes à materialização dos seus desígnios.
Acordo
num momento peculiar
Entretanto, no mesmo acto, o Presidente da Renamo,
Afonso Dhlakama, referiu-se dentre vários assuntos, ao facto de o acordo ter
sido assinado num momento peculiar para o país: decurso da campanha para as
eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais de 15 de
Outubro próximo. Segundo Dhlakama, os moçambicanos todos, nomeadamente os
partidos, cidadãos, estruturas do Estado envolvidas no processo eleitoral e
cidadãos eleitores têm que se empenhar para que as eleições decorram num clima
de tranquilidade, sem violência, com debate de ideias e propostas, sem apelos
ao ódio e à confrontação.
Dhlakama acrescentou que “cada candidato deve ter as
mesmas oportunidades de se apresentar livremente aos eleitores e de propor as
soluções que considera melhores para o progresso de Moçambique”.
De acordo ainda com o líder da Renamo, o futuro é de
esperança se, entre irmãos, cada um assumir as suas responsabilidades e os
compromissos forem respeitados, dia a dia, nas palavras e nos actos. É para
esse futuro de esperança, acrescenta Dhlakama, “que todos os moçambicanos, com
os olhos postos em nós, nos estão a chamar”.
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