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novembro 2013, Brasil 247 http://www.brasil247.com (Brasil)
Em
entrevista ao 247, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que defendeu perseguidos
políticos durante a ditadura militar, diz estar vivendo uma experiência ainda
pior do que a do passado; "hoje, direitos da cidadania duramente
conquistados estão sendo estraçalhados em plena democracia"; segundo ele, o
presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, agiu de modo
"deliberado" para impor um constrangimento ilegal dos réus condenados
ao regime semiaberto; Greenhalgh também demonstra preocupação com o estado de
saúde de José Genoino: "Eu o vi muito doente"; em Brasília, ele
revela bastidores do caso e cobra uma atitude do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo: "um ministro da Justiça não pode se calar diante do
arbítrio"
Brasília 247 - Advogado de
vítimas da ditadura militar, Luiz Eduardo Greenhalgh, que já foi deputado
federal pelo PT, desembarcou em Brasília no fim de semana para acompanhar de
perto o tratamento que seria dado aos réus José Dirceu, José Genoino e Delúbio
Soares, que foram condenados à prisão em regime semiaberto, mas que, na
prática, estão submetidos a um regime fechado, em razão de decisões – segundo
ele, ilegais – tomadas justamente por quem deveria zelar pelo cumprimento das
leis: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. "Estou
estarrecido", disse Greenhalgh ao 247. "Hoje, em plena democracia,
direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros estão sendo estraçalhados".
Segundo Greenhalgh, Barbosa a
transferência dos presos para Brasília foi a primeira ilegalidade, uma vez que
a lei determina que o regime semiaberto seja cumprido onde os réus trabalham e
têm residência, ou seja, São Paulo, no caso dos três ex-dirigentes do PT.
"Colocá-los naquele avião foi um gesto desnecessário, midiático, oneroso
para os cofres públicos e que
será revertido, uma vez que eles não poderão
permanecer em Brasília".
Em seguida, segundo Greenhalgh,
Barbosa encaminhou as ordens de prisão não ao juiz titular da Vara de Execuções
Penais do Distrito Federal, Ademar Silva Vasconcelos, mas ao juiz Bruno Silva
Ribeiro, que estava de férias. "Tudo isso foi deliberado e
milimetricamente calculado para que os presos ficassem mais tempo submetidos a
um regime de prisão ilegal", diz Greenhalgh. Ele afirma ainda que,
enquanto Dirceu, Genoino e Delúbio estavam submetidos a um constrangimento
irregular, Barbosa foi ao Rio de Janeiro, a um clube, e depois embarcou para um
congresso.
Por que razão as cartas de sentença
não caíram nas mãos do juiz titular? Na visão de Greenhalgh, isso impediu que a
defesa tivesse acesso aos documentos e a qualquer possibilidade de defesa.
Durante quatro horas, relata Greenhalgh, os presos ficaram em frente à Papuda
porque as autoridades de Brasília não poderiam acolhê-los. O impasse só foi
resolvido quando se decidiu que eles seriam transferidos para uma área, dentro
do presídio, que fica sob responsabilidade do Ministério da Justiça e da
Polícia Federal.
Greenhalgh afirma ainda que Ademar
Silva Vasconcelos decidiu não abrigar os presos na Papuda porque não tinha
acesso às cartas de sentença. Por isso mesmo, eles dormiram nessa ala do
presídio que ainda fica sob a custódia da Polícia Federal – uma espécie de área
de transição.
Greenhalgh não poupa as palavras ao
se referir a Joaquim Barbosa. "Ele fez uma suprema lambança", afirma.
"Agiu de modo ilegal, arbitrário e movido por desejo de vingança, o que
será ainda mais grave se ficar confirmado seu projeto de se tornar
candidato". O advogado ecoa as palavras de Antônio Carlos de Almeida
Castro, o Kakay, e diz que os demais ministros do STF devem agir rapidamente
para restaurar a dignidade da casa.
O que Greenhalgh define como
"suprema lambança" ainda criou uma situação inusitada. Ele lembra que
a Constituição brasileira determina que nenhuma violação de direitos
fundamentais deixará de ser apreciada pelo Poder Judiciário. No entanto, os
ministros do STF já decidiram que decisões da corte não são passíveis de
revisão. "Estamos diante de uma situação surreal e esdrúxula, onde quem
viola a lei é quem deveria zelar por ela, o presidente do STF, Joaquim Barbosa".
Após visitar os três, Greenhalgh
afirmou que todos mantêm bom estado de espírito, mas se disse muito preocupado
com José Genoino. "Eu o vi muito doente". Ele afirmou que ouviu de
todos que nenhum deles quer qualquer privilégio. "Mas todos exigem que
sejam respeitados integralmente os seus direitos", afirma. "Dirceu e
Delúbio devem cumprir o semiaberto em São Paulo e o Genoino, diante do seu
estado de saúde, tem direito à prisão domiciliar".
Por fim, o advogado cobra uma
posição do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Ele não pode se
calar diante do arbítrio", afirma. "É ministro da Justiça de um país
onde estão sendo cometidas sérias arbitrariedades contra os direitos dos seus
cidadãos". Ou seja: segundo Greenhalgh, não se trata de uma questão partidária,
mas de defesa da própria cidadania. "O ministro tem que vir a público
urgentemente".
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