15 novembro 2013, Jornal Vias de Fato http://www.viasdefato.jor.br
(Brasil)
Nós, Quilombolas e Indígenas do
Maranhão, reunidos nos dias 12,13 e 14 de novembro de 2013 no I Encontro de
Indígenas e Quilombolas do Maranhão, no Centro Diocesano de Mangabeira,
município de Santa Helena Diocese de Pinheiro – Maranhão, compartilhamos
nossa alegria de viver, denunciamos as injustiças e anunciamos um novo tempo de
luta e resistência.
Indígenas dos povos Krikati,
Pykobjê – Gavião, Krenyê, Tenetehara/Guajajara, krepumkatjê, Movimento
Quilombola do Maranhão (Moquibom) e comunidades quilombolas do
Tocantins, Amapá, Rondônia, Pará, Mato Grosso e Minas Gerais, Conselho
Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Universidade
Federal do Maranhão – UFMA, Justiça nos Trilhos, Cáritas, CSP-Conlutas, entre
outras entidades de apoio à luta dos povos indígenas e quilombolas,
refletimos,
cantamos, dançamos e decidimos que o momento é união de experiências, de união
de forças para denunciar as constantes violações aos nossos direitos, as
constantes perseguições às nossas lideranças, a persistência do racismo e da
discriminação ao nosso jeito de viver, de sentir, de pensar, de se expressar.
Com nossa cantoria e o toque do
tambor, no gingado da nossa dança reafirmamos nossa identidade quilombola. Com
nossos maracás e nossos pés batendo forte no chão anunciamos que somos povos
indígenas desta terra e é nosso esse espaço. Trocamos experiências de
resistência; compartilhamos nossa dor pela constante discriminação que sofremos
pela sociedade, pela violência e criminalização de nossos movimentos e
prosseguimento do genocídio de nossos povos. Conhecemos a forma de viver e de
celebrar de cada povo; cantamos em nosso própria língua a história
de nossos antepassados e por eles e por nossos filhos e netos que virão,
reafirmamos nossas identidades. O tambor e o maracá soaram em conjunto o
anúncio de novos tempos de resistência e certamente o fogo aceso será sinal de
celebração de novas conquistas.
Nós, lideranças indígenas e
quilombolas denunciamos as constantes invasões de madeireiros e os ataques de
ruralistas, mineradoras, de forças armadas e do agronegócio que querem tomar e
mercantilizar nossos territórios. Repudiamos a constante tentativa de cooptação
de lideranças de nossos movimentos através de políticas compensatórias
ilusórias e da sedução do dinheiro e do poder que dividem e trazem conflitos
enfraquecendo a resistência.
Denunciamos a tentativa de
aprovação de leis que ameaçam retirar direitos historicamente conquistados.
Mostra-se vil a união do governo e dos deputados com o aval do judiciário
em prol de uma proposta de crescimento econômico à custa do sangue dos nossos
povos, da vida dos nossos rios e das nossas matas.
A participação e compromisso da
juventude de nossos povos neste encontro anuncia que a resistência se renova à
luz da sabedoria de nossos ancestrais e da experiência de nossos guerreiros e
guerreiras apontando para um tempo de luta e de conquistas que será celebrado
sobre o chão dos nossos territórios, sob a sombra de nossas árvores, ao som dos
nossos maracás e tambores, cantando nas diversas línguas a chegada de uma nova
era.
Santa Helena-Maranhão, 14 de
novembro de 2013
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