Brasil/OAB pede que Joaquim Barbosa seja investigado
26 novembro
2013, Rota Jurídicahttp://www.rotajuridica.com.br (Brasil)
O Conselho Pleno da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) aprovou ontem, por unanimidade, o envio de ofício ao
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) requerendo a abertura de investigação do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa (foto), por causa
da troca do juiz responsável pela execução das penas do processo do mensalão.
Pela primeira vez na história, o CNJ receberá um pedido de investigação contra
um ato de seu próprio presidente, uma vez que Barbosa, como chefe do STF,
acumula também o comando do CNJ. O pedido da OAB se refere ao afastamento do
juiz titular da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, Ademar
Vasconcelos, que foi substituído por Bruno Ribeiro, filho de um dirigente do
PSDB* do DF. De acordo com a entidade, a medida ocorreu após pressão de
Barbosa.
A decisão, que fere direitos da magistratura e também dos réus, causou espanto
no segmento. Pelo menos outras três entidades ligadas à área repudiaram a
medida. “Eu espero que não esteja havendo politização, porque não vamos
permitir a quebra de um princípio fundamental, que é uma garantia do cidadão,
do juiz natural, independentemente de quem seja o réu”, afirmou João Ricardo
dos Santos Costa, presidente eleito da Associação dos Magistrados do Brasil
(AMB).
Além da AMB, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação
Juízes para a Democracia (AJD) também demonstraram preocupação com o
afastamento do magistrado do caso.
Impeachment
Segundo o jurista Claudio Lembo, já existem razões objetivas para o impeachment
de Joaquim Barbosa. Os juristas Dalmo de Abreu Dallari e Celso Bandeira de
Mello publicaram um manifesto em que defendem uma reação do Supremo, para que a
corte não se torne refém de seu presidente.
A OAB agiu em resposta a uma cobrança pública feita no início da tarde de ontem
por um ex-presidente da entidade, José Roberto Batochio. “Se alguém pode trocar
um juiz, porque acha que este será mais rigoroso com os réus, deveria também
ser facultado aos réus o direito de escolher o juiz pelo qual querem ser
julgados”, disse Batochio.
Santos Costa, da AMB, disse que vê “com preocupação” a troca do juiz
responsável pela execução das penas. Ele afirma que um juiz só pode ser
substituído se for comprovado que cometeu alguma irregularidade e, ainda assim,
após a instauração de um procedimento com garantia de ampla defesa. O Tribunal
de Justiça do Distrito Federal não apresentou justificativa para a substituição
do juiz titular da Vara, Ademar Vasconcelos. O magistrado havia tido desavenças
com Joaquim Barbosa, antes mesmo da execução das prisões dos réus do mensalão.
Constituição
“Ele (o ato) simplesmente tira um juiz de um processo. Não é uma regra
processual, é um princípio constitucional: o juiz não pode ser escolhido de
acordo com interesse desse ou daquele e a pretexto nenhum pode-se buscar uma
justificativa para isso. Temos de proteger os princípios constitucionais. É
evidente que o processo do mensalão envolve uma causa política, mas essa causa
não tem nada a ver com a magistratura”, disse o presidente eleito da AMB.
Santos Costa também afirma que o responsável não pode ser afastado “por essa ou
aquela pressão”. Apesar das críticas manifestadas ontem, o novo presidente da
Associação dos Magistrados diz esperar uma relação “harmônica” com Barbosa, que
comanda o Poder Judiciário no País.
Neste ano, o presidente do STF teve uma discussão tensa em encontro com
representantes das associações de juízes, que, segundo ele, agiam de maneira
“corporativista”. (Redação, com Folhapress)
* PSDB: Partido direitista rival do Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo
com a mídia brasileira, o ministro Joaquim Barbosa foi convidado pelo PSDB para
se candidatar ao cargo de governador do importante estado de Minas Gerais, mas o
seu objetivo é tornar-se presidente do Brasil. Para conseguir eleger-se, terá que
derrotar Dilma Rousseff, do PT, que tem a preferência do eleitorado para um segundo
mandato nas eleições do próximo ano. As irregularidades verificadas durante o julgamento
da Ação Penal 470, conhecida como mensalão, e na aplicação das penas atribuídas
aos réus condenados, visam enfraquecer políticamente o PT perante a
opinião pública. (Nota de Mercosul & CPLP).
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