21
novembro 2013, CIMI--Conselho
Indigenista Missionário http://www.cimi.org.br (Brasil)
Fonte da notícia: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
Fonte da notícia: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
À
Presidenta
Dilma Rousseff
Desde
a morte de Oziel Terena, assassinado por forças policiais durante o cumprimento
de uma reintegração de posse na terra indígena Buriti em maio deste ano, uma
série de acontecimentos tem colocado em risco a segurança e a vida das
comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul. Em sua guerra particular contra os
povos indígenas, fazendeiros tem se manifestado de forma cada vez mais
agressiva no discurso e na ação contra estes povos.
Estimulado por declarações violentas e preconceituosas de fazendeiros e seus representantes no Mato Grosso do Sul, o conflito chega a um estado de recrudescimento que exige de nós, organizações indígenas e indigenistas, vir a público mais uma vez denunciar a situação urgente e gravíssima dos povos originários do estado, e exigir uma intervenção federal imediata no Mato Grosso do Sul, de modo a evitar mais uma tragédia anunciada no Brasil.
Em
Campo Grande, durante a invasão da sede da Fundação Nacional do Índio por 150
produtores rurais, no dia 19 de novembro, uma fazendeira gritou, dirigindo-se a
indígenas que estavam no local: "o dia 30 está chegando
(...), e rogo
uma praga a vocês: morram. Morram todos!". Foi aplaudida pelos
manifestantes.
Dia
30 de novembro foi o prazo final estabelecido pelos produtores rurais do Mato
Grosso do Sul para que o governo solucione os conflitos fundiários no estado.
No entanto, prevendo que o Estado não consiga apresentar uma proposta que efetivamente
dê cabo do problema -- e que favoreça o segmento do agronegócio -- os
fazendeiros, através de suas associações, tem pública e repetidamente dado
declarações como esta.
"O
prazo para uma solução final é 30 de novembro. Depois disso, como já é tragédia
anunciada, os fazendeiros irão partir para o confronto legítimo para defender
seu direito de propriedade. E vai haver derramamento de sangue, infelizmente",
declarou o vice-presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul
(Acrissul), Jonatan Pereira Barbosa, na tribuna da Comissão de Reforma Agrária
do Senado Federal, no dia primeiro de novembro, conforme publicado
no sítio eletrônico da entidade.
O
presidente da Acrissul, Francisco Maia, no último dia 8, em
reunião com 50 produtores rurais do estado, disse: “A
Constituição garante que é direito do cidadão defender seu patrimônio, sua
vida. Guarda, segurança, custa dinheiro. Para entrarmos numa batalha precisamos
de recurso. Imagine se precisamos da força de 300 homens, precisamos de recurso
para mobilização”.
Em
nova reunião, no dia 12 de novembro, o vice-presidente da Federação da
Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Nilton Pickler, também
veio à público corroborar a posição da Acrissul: “Estamos em uma terra sem
lei, onde invadir propriedade não é mais crime, alguma reação precisa ser feita”,
afirmou.
As
entidades representativas dos produtores rurais do estado estão organizando,
para o dia 7 de dezembro, em Campo Grande, um leilão de animais, commodities,
máquinas e produtos doados pelos próprios pecuaristas do estado, para arrecadar
recursos para ações contra os indígenas. Deram ao evento o nome de "Leilão
da Resistência". Declararam, no último dia 19, que já receberam 500
cabeças de gado como doação, equivalentes a, no mínimo, 500 mil reais.
O
documento final da Quarta Assembleia do Povo Terena, que contou com a
participação de mais de 300 lideranças Indígenas de todo o estado,
representando os mais de 70 mil indígenas que lá vivem, declarava: "a
tragédia está anunciada em Mato Grosso do Sul (...). É pública e notória a
ameaça concreta intentada contra os povos indígenas pelos ruralistas deste
estado". Para os indígenas, está claro: os “leilões da
resistência" anunciados pelos produtores rurais "tem por objetivo
financiar milícias armadas".
Em
carta, os indígenas criticaram o Estado pelo abandono das negociações, no
sentido de encontrar saídas para a questão indígena. "O governo
federal instalou (...) uma mesa de diálogo na tentativa de resolver a
demarcação de nossos territórios. No entanto, após vários prazos estipulados
pelo próprio ministro [da Justiça], não há nada de concreto a ser apresentado
aos povos indígenas".
As
comunidades Terena, Guarani-Kaiowá, Guarani Ñandeva, Kinikinau e Kadiwéu em
luta pela garantia de seus territórios tradicionais, tem relatado e denunciado
à Polícia Federal, à Funai e ao MPF um sem número de casos de ataques a tiros,
invasões, intimidações e ameaças de morte que os indígenas vem sofrendo no
último período. Apesar disso, até o momento, nenhuma segurança permanente está
sendo oferecida a estes povos.
Os
indígenas conhecem bem o trabalho da segurança privada que os fazendeiros
pretendem ampliar na região. Em contexto do conflito envolvendo indígenas e
fazendeiros, em novembro de 2011, a empresa de segurança privada Gaspem, que
prestava -- e ainda presta -- serviços a proprietários de terras que incidem
sobre território tradicional indígena, foi acusada de envolvimento na morte do
rezador Guarani-Kaiowá Nízio Gomes, no tekoha Guaiviry, em Aral Moreira. Na
denúncia, o Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul (MPF-MS)
classificou as atividades da empresa como de uma “milícia privada”, exigindo a
suspensão das atividades da companhia. Em função do caso, sete pessoas estão
presas, conforme relatou o MPF.
Jornais
e televisões locais também tem associado o termo "milícias armadas"
ao discurso dos ruralistas sobre o leilão e sobre as ameaças do dia 30 de novembro.
Agências de notícias internacionais categorizaram o caso como "conflito
sangrento (...) com características de guerra territorial".
É
público e notória que, no Mato Grosso do Sul, os fazendeiros estão organizando
força paramilitar para atentar contra a vida de coletividades e contra o Estado
de direito no Brasil.
A
"resistência" dos latifundiários é contra a demarcação das terras
indígenas. É contra a realização de laudos e perícias pela Funai. É contra a
organização política dos indígenas, que avançam na retomada de seus territórios
tradicionais, frente à morosidade do Estado e da Justiça, de toda a violência
que vem sofrendo, das mãos das forças policiais estaduais e federais, e das
seguranças privadas “legais” ou ilegais que atuam na região. A dita
"resistência" é, a rigor, contra a vida destas pessoas.
Em função desta conjuntura, extensão de um violento processo histórico de espoliação, confinamento e extermínio dos povos indígenas desta região, as organizações signatárias vem a público exigir da presidente Dilma uma intervenção federal imediata no Estado do Mato Grosso do Sul. O poder público pode e deve evitar esta “tragédia anunciada”, repetição sistemática do genocídio contra os povos indígenas. E isto precisa ser feito agora. O reconhecimento e a demarcação das terras indígenas é a verdadeira solução para a situação que está posta no Mato Grosso do Sul.
Brasília, 21 de novembro de 2013.
Conselho
Indigenista Missionário – Cimi
Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Articulação
dos Povos Indígenas da Região Sul – ArpinSul
Articulação
dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo –
Apoinme
Aty
- Guassu Guarani Kaiowá
Conselho
de Caciques Terena
Conselho
Indígena de Roraima - CIR
Instituto
Kabu - Nejamrô Kayapó
Associação
dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro - AITSP
CCPIO
AP. Galibi Marworno - Paulo R. Silva
Vídeo
nas Aldeias – Vicent Carelli
Operação
Amazônia Nativa – Opan
Instituto
de Pesquisas e Formação Indígena – Iepé
Instituto
Sócio Ambiental – ISA
Associação
Terra Indígena Xingu – ATIX
Instituto
Indígena para Propriedade Intelectual - Inbrapi
HAY
– Dário Vitória Kopenawa Yanomami
HAY
– Davi Kopenawa Yanomami
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MS -- Mato Grosso do Sul
Não houve ataque a tiros nem
violência física, mas os dois homens teriam deixado uma ameaça de morte,
escrito na terra e mais tarde apagado por eles mesmos, onde lia-se algo como
"nós vamos acabar com...
Nísio vive na continuidade da luta
por sua terra tradicional, o tekoha Guaiviry
Em maio de 2011, os indígenas já
haviam retomado 26 hectares de seu território tradicional reivindicado.
Durante a invasão, trabalhadores da
Funai e indígenas presentes não podiam sair da sede do órgão indigenista. “Eu
não me atreveria a sair de lá”, conta um funcionário da Funai.
“Para uma criança, um dia numa retomada
vale mais do que um ano de aula”. A frase é do indígena Lindomar Terena,
liderança da retomada Charqueado, em Miranda (MS), onde vive com sua esposa e
seus três...
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