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novembro 2013, Boletim Nº 1843 - Ano 40, Universidade
Federal de Minas Gerais https://www.ufmg.br (Brasil)
Pesquisadora obtém novo nanomaterial e propõe metodologia inédita para análise de nanotubos de carbono
Ana Rita Araújo
Um novo
material obtido a partir da modificação estrutural do grafeno e uma técnica
simples e rápida para caracterização de nanotubos de carbono são alguns dos
resultados obtidos pela física Ana Paula Moreira Barboza com a pesquisa
ganhadora do Grande Prêmio UFMG de Teses, edição 2013, na área de Ciências
Exatas e da Terra e Engenharias. Orientada pelo professor Bernardo Ruegger
Almeida Neves, ela também conseguiu confirmar previsões teóricas sobre a
possibilidade de manipular as propriedades eletromecânicas de nanomateriais
utilizando técnicas de Microscopia de Varredura por Sonda (Scanning Probe
Microscopy – SPM, em inglês).
“É muito bom quando conseguimos
demonstrar algo previsto pela teoria ou quando a teoria consegue explicar algo
que observamos no laboratório”, comenta a pesquisadora. Segundo ela, os
resultados obtidos na tese são um passo importante na caracterização desses
namomateriais, e existem possibilidades de aplicações práticas, sobretudo em
dispositivos eletrônicos.
Aluna do Departamento de Física da UFMG desde a
graduação, passando pelo mestrado, Ana Paula Barboza conta que nunca teve
dúvidas sobre a área em que iria atuar. “No colégio tive um professor muito bom
de Física, o que reforçou meu interesse pelo tema”, relembra.Diamondol
Material isolante, ainda não
totalmente caracterizado, o Diamondol é resultado de modificação estrutural do
grafeno, a partir da aplicação de grande compressão em áreas extremamente
pequenas. “Conseguimos uma evidência experimental indireta dessa alteração em
condições ambientes”, relata a pesquisadora. A principal vantagem dessa
descoberta é a possibilidade de criação de junções condutoras
(grafeno)/não-condutoras (Diamondol) em áreas de um circuito eletrônico.
A pesquisadora também enfrentou o
desafio de caracterizar nanotubos de carbono isolados quanto ao seu caráter
metálico ou semicondutor. Segundo ela, existem algumas metodologias de
caracterização bastante conhecidas na comunidade científica.
Entretanto, elas são trabalhosas e
demandam muito tempo e paciência. A metodologia proposta por Ana Paula pode ser
aplicada em qualquer laboratório que trabalhe com técnicas de SPM.
“Caracterizar um nanotubo isoladamente é muito difícil, principalmente por
causa do seu tamanho. Às vezes demoramos mais de um dia para localizar apenas
um tubo na amostra”, informa.
Além de mais ágil, a nova
metodologia também dispensa condições específicas, como a disposição do
nanotubo na superfície da amostra.
“Observamos diferenças nas
respostas elétricas de tubos metálicos e semicondutores a um campo elétrico
aplicado. Não apenas a intensidade das respostas é diferente, mas o perfil nas
imagens de Microscopia de Força Elétrica é qualitativamente diverso para tubos
metálicos e semicondutores, permitindo sua identificação”, explica.
Previsões confirmadas
Um mesmo nanotubo pode se comportar
como condutor ou semicondutor de eletricidade, dependendo da superfície com a
qual esteja em contato, previam cálculos teóricos. Mas esse material de fato se
comporta assim na natureza? Em intensa colaboração com grupo de pesquisa do
Departamento de Física que estuda cálculos de estruturas eletrônicas, Ana Paula
Barboza confirmou a previsão, fazendo testes com diferentes materiais. Para
entender o funcionamento dessa técnica,“basta fecharmos os olhos e começarmos a
descrever as coisas em termos do nosso tato”, ensina a pesquisadora. No
microscópio, uma ponta muito fina, de poucos nanômetros, tateia a superfície a
ser estudada – um nanômetro é o tamanho que se obtém quando se divide um
milímetro da régua em um milhão de partes. “Nessa escala existem novas e
desafiadoras propriedades na matéria”, observa.
Com o intuito de controlar o
comportamento elétrico de nanotubos de carbono semicondutores a partir de sua
superfície de contato, a pesquisadora encontrou, em amostras de grafeno de duas
ou mais camadas, evidências teóricas e experimentais da chamada diamantização.
Induzido por compressão, tal processo dá origem a um novo material, uma
monocamada de diamante hidroxilado, ou Diamondol, que se comporta como isolante
ferromagnético.
Para a pesquisadora, um dos méritos
do seu trabalho foi a possibilidade de utilizar o microscópio de varredura por
sonda “não apenas como uma poderosa lente de aumento” para visualizar uma
superfície, mas, sobretudo, como ferramenta de modificação dessas superfícies.
“Isso nos permitiu obter a confirmação experimental de algumas previsões
teóricas e a explicação teórica de alguns resultados experimentais até então
desconhecidos”, destaca.
Tese:
Propriedades eletromecânicas de nanoestruturas por Microscopia de Varredura por
Sonda
Autora: Ana Paula Moreira Barboza
Orientador: Bernardo Ruegger Almeida Neves
Defesa: março de 2012, no Programa de Pós-Graduação em Física, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx)
Autora: Ana Paula Moreira Barboza
Orientador: Bernardo Ruegger Almeida Neves
Defesa: março de 2012, no Programa de Pós-Graduação em Física, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx)
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