6 novembro 2013, Rádio Moçambique
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Os Chefes de Estado e de Governo da
Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) e dos Grandes Lagos,
instaram, duramente, a Renamo, a parar imediatamente com os ataques que tem
protagonizado desde Abril último a esta parte, e que acabaram forçando o
governo a passar da defensiva para uma ofensiva militar que culminou com o
assalto e tomada da base de Santunjira, onde vivia o seu líder, Afonso
Dhlakama, a 21 de Outubro último.
Num comunicado emitido pouco depois
do término, por volta da meia-noite da última segunda-feira, da sua primeira
Cimeira conjunta, que realizaram em Pretória, e que tinha como única agenda
analisar a situação político-militar na RDC, em que Moçambique se fez
representar pelo seu Primeiro-Ministro, Dr. Alberto Vaquina, os estadistas dos
20 países ou seus representantes, “condenaram fortemente os recentes actos de
violência que estão sendo perpetrados pela Renamo em Moçambique, e instam a
(mesma) Renamo a parar imediatamente com estes actos de violência”.
A Cimeira contou com a participação
de muitos dos estadistas das duas regiões, destacando-se os presidentes Joseph
Kabila Kabange, da RDC, Uhuru Kenyatta, do Quénia, Joyce Banda, do Malawi,
Hifikepuenye Pohamba, da Namíbia, Jacob Zuma, da Africa do Sul, Jakaya Kikwete,
da Tanzânia, Yoweri Musseveni, do Uganda, Robert Mugabe, do Zimbabwe, e ainda
alguns vice-presidentes e vários primeiros-ministros, como é o caso de Alberto
Vaquina, de Moçambique e os seus homólogos da Swazilândia e do Lesotho.
Pouco depois da leitura desse
comunicado, em que se expressa uma forte solidariedade com Moçambique e o seu
povo que
é forçado a sentir de novo o espectro da guerra 21 anos depois de
saborear a paz e os seus frutos, o Primeiro-Ministro Vaquina disse a
jornalistas moçambicanos, que de facto Moçambique não constava como um dos
pontos da agenda desta Cimeira.
Vaquina vincou que com esta clara e
directa exigência à Renamo, de que deve parar imediatamente com os ataques que,
de forma gratuita, começou a protagonizar em flagrante violação ao Acordo de
Roma que assinou com o governo em 1992, os estadistas das duas regiões
quiseram, com isso, deixar mais do que claro, que repudiam essa atitude da
Perdiz.
Ele disse que com esta condenação à
Renamo, e este instar para que pare com as suas incursões, os estadistas da
SADC e da CIRGL, sigla com que são mais conhecidos os 11 países da região dos
Grandes Lagos, é legitimo interpretar isto como que a avisar que não irão
permitir que haja mais uma guerra que venha perturbar a paz, segurança e
estabilidade na região. No caso do Zimbabwe já fez saber antes desta Cimeira
que poderá intervir a favor do Governo moçambicano se a Renamo persistir nas
suas incursões. Mesmo Zuma deixou claro a mesma posição no discurso com que
procedeu a abertura desta Cimeira na sua qualidade de anfitrião.
A AIM cita uma “fonte digna de
crédito” a dizer que igual posicionamento da do Zimbabwe e da Africa do Sul
teriam sido também expressados por vários outros estadistas nesta Cimeira, como
é o caso do Presidente Uhuro Kenyatta.
Esta posição destes lideres é vista
como justificando-se, porque está mais do que provado, que uma guerra num dos
países da região, acaba afectando todos os outros, para além de que qualquer
conflito armado, causa sempre o sofrimento desnecessário e morte nas populações
civis, como já está a acontecer de novo aqui em Moçambique desde que a Renamo
desencadeou escaramuças há cerca de sete meses já.
Na sua inteiração com jornalistas
já pouco depois da meia-noite ou melhor, começo desta terça-feira dia 05, a AIM
perguntou a Vaquina se o governo moçambicano estaria a considerar pedir o apoio
militar dos outros membros da SADC e mesmo da CIRGL para estancar estas
escaramuças da Renamo, como o fez a RDC, para combater os vários grupos
rebeldes que actuam naquele País como o M23, face à aparente escalada das
incursões da Renamo, ao que ele respondeu, categoricamente, que “por enquanto,
entendemos que ainda é um assunto interno que podemos resolver entre nós moçambicanos'.
Pouco depois do Dr. Vaquina ter
dado esta resposta, a AIM recebeu um comunicado da Presidência moçambicana,
assinado por Edson Macuácua, Assessor e Porta-voz do Presidente Armando
Guebuza, em que o estadista moçambicano convida oficialmente, uma vez mais, o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a vir a Maputo, para se reunirem no dia 8 com
vista a tentarem juntos encontrar uma resolução às questões que devem
apoquentar a Renamo.
Contudo, o porta-voz da Renamo,
Fernando Mazanga, já reagiu a esse comunicado, dizendo que não há condições
para que Afonso Dhlakama retome o diálogo com Guebuza, alegadamente porque o
governo está a optar pela guerra, quando os factos mostram que quem primeiro
optou pelas armas é a própria Renamo.
Apesar de não ser detalhado, como é
óbvio neste tipo de documentos que são mais para satisfazer a avidez dos
jornalistas que, como se sabe, querem sempre saber sempre o que se discute a
porta-fechada, como foi o caso desta Cimeira, com a sua leitura atenta,
ficou-se, mesmo assim, com a clareza de que foi reiterado o princípio de que um
ataque a um dos membros, é um ataque a todos, porque não só põe em causa as
vidas das pessoas do país vítima, como há um cortejo de vários outras
consequências que acabam afectando todos os outros membros, como é o caso dos
refugiados a e paralisação das vias de comunicação que ligam os diferentes
países.
Um dos pontos em que fica claro que
o espírito de defesa comum da paz, segurança e estabilidade de cada um dos
países, está patente em vários dos seus 22 pontos deste comunicado. Este é o
caso do 18.o, em que, taxativamente, se diz o seguinte: Esta Cimeira conjunta
orientou os dois secretariados a harmonizarem e concertar as suas sinergias de
trabalho da CIRGL e da SADC, na implementação, monitorização e avaliação do
Plano da paz, segurança e cooperação (dos Estados membros), bem como
estabelecer um mecanismo que permita que os ministros da defesa e dos negócios
estrangeiros e cooperação internacional, se reúnam a cada seis meses, para
rever os progressos conducentes a realização de uma Cimeira Anual dos chefes de
estado e de governo da SADC-CIRGL´´.
O que deixa ainda mais claro que a
defesa mútua de cada um dos países membros foi uma das decisões mais
importantes reiterada, se bem que o comunicado se limita a fazer uma breve
referência, é quando nos dois pontos seguintes, que são o 19.o e o 20, se faz,
respectivamente, uma condenação firme contra o recente ataque terrorista no
Quénia, em que o alvo foi um supermercado da capital Nairobi, que vitimou 67
pessoas, e os ataques que a Renamo tem levado a cabo desde Abril último e que
causaram a morte de varias pessoas, entre civis, policias e militares.
Há que referir que muitos dos
moçambicanos que estiveram nesta cimeira, incluindo nós jornalistas, éramos
constantemente interpelados pelos estrangeiros que queriam saber de nós o que
terá levado a Renamo a violar o Acordo de Roma, e a reiniciar a guerra.
Mesmo os jornalistas que já
cobriram a guerra que a Renamo moveu entre 1976-1992 com o apoio dos então
regimes racistas de Ian Smith, na então Rodésia do Sul, e do apartheid, na
Africa do Sul, como é o caso de Pascal Fletcher, da Reuter, disse que estava a
custar-lhe muito acreditar que Dhlakama tenha optado por voltar às matas, e
retomar a guerra, 21 anos depois do Acordo de Paz.
“É me muito difícil acreditar e só
posso ver isto no contexto da tese que diz que a Historia repete-se”, disse,
visivelmente incrédulo aquele jornalista que disse ter coberto intensamente a
guerra dos 16 anos da Renamo, quando era da Agencia Francesa AFP.
Alguns dos que procuravam saber de
nós o que se terá passado, dizem que a Renamo arrisca-se a perder toda a sua
credibilidade, porque não vai conseguir convencer ninguém, que o Governo é que
é o mau da fita, quando viveu em paz com o mesmo durante 21 anos e, mais,
quando é o único partido que diz que não há condições para uma acção politica
pacifica, numa situação em que todos os outros partidos, incluindo o MDM, que
foi criado por antigos membros da cúpula da mesma Renamo, estão a com concorrer
agora às eleições municipais que terão lugar a 20 deste mês, e a se preparar
para as gerais do próximo ano.
Dizem que mais do que tudo isto, é
que foi a Renamo quem começou com os ataques contra civis e forças militares e
policiais, acabando por forçar o Governo de Guebuza a passar da defensiva para
a ofensiva. “Isto levara vários outros países a estar do lado do Governo, ao
invés daquela dos 16 anos que a Renamo se valia da falta da democracia e outras
liberdades, ou de estar a lutar contra um regime comunista, e que só isto,
valia à Renamo o apoio tácito e às vezes aberto de alguns países ocidentais que
eram muito aversos a tudo o que espelhasse a cor comunista”, assim comentou
outro jornalista queniano cujo nome não fui a tempo de registar.
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