quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Brasil/Subsídio indireto em energia garante competitividade da Vale, diz campanha

Daniel Merli e Stênio Ribeiro / Repórteres da Agência Brasil

Brasília, 5 setembro 2007 - Segunda maior siderúrgica do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce teve seu valor de mercado multiplicado por oito desde que foi privatizada, em 1997. No primeiro semestre deste ano, a empresa obteve o maior lucro da América Latina, segundo levantamento da consultoria Economática. Um dos motivos da alta competitividade da Vale, segundo os movimentos sociais que defendem a reestatização da empresa, é a abundância e qualidade da bauxita encravada em solo brasileiro, usada como matéria-prima para o alumínio.


Outro ponto, segundo essas organizações, é o fato de a empresa pagar, em média, R$ 0,05 por kilowatt-hora, enquanto o preço máximo em outros países é de R$ 0,72, segundo organizadores da campanha A Vale é Nossa. O baixo preço da tarifa é uma vantagem comparativa importante no mercado internacional de siderurgia, um setor chamado de eletrointensivo por consumir altos volumes de energia. A Vale, sozinha, consome 5% da energia produzida no país.


Além de obter energia mais barata que suas concorrentes no exterior, a Vale paga até 80% menos que o cidadão comum. Essa diferença é fruto do modelo energético brasileiro, segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das organizações integrantes da campanha. E é modelo energético brasileiro que garante parte do poder de concorrência internacional da companhia.


“Sem dúvida, esse baixo preço da energia é um diferencial competitivo para a Vale”, avalia Gilberto Cervinski, do MAB. Para ele, o fato de os consumidores pagarem até 500% a mais pela energia representa uma espécie de subsídio indireto. "Todos nós pagamos a conta pela geração e distribuição de energia elétrica, enquanto alguns poucos tiram proveito".


O potencial hidrelétrico do país faz da energia brasileira uma das mais baratas do mundo, segundo Cervinski. E, junto com as reservas minerais, torna o país o ponto de partida ideal para a exportação de alumínio. “Essa empresa, que atualmente tem a maior parte de seu capital na mão de estrangeiros, aproveita o baixo custo da energia brasileira, enquanto o povo mais uma vez paga a conta”.

"Há um modelo de organização da indústria elétrica brasileira que cria as condições para que os grandes consumidores consigam energia a um preço bem menor que o consumidor comum", concorda Dorival Gonçalves Jr., professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).


O modelo descrito por Dorival é dividido entre 700 empresas, que consomem 25% da energia brasileira, e o resto do país, que é responsável por 75% do consumo. “Essas grandes empresas não compram energia das distribuidoras. Pelo modelo energético brasileiro, vão ao mercado livre de energia, onde conseguem comprar praticamente a preço de custo”. As distribuidoras que entregam energia às residências não compram no mercado livre, mas em leilões organizados pelo governo.

Cervinski considera que as estatais de energia aceitam a barganha dos grandes consumidores no mercado livre, vendendo a energia quase a preço de custo. “O Estado acaba oferecendo, via estatais, um preço muito baixo”, afirma o militante do MAB, que vê ligação entre esse fato e as doações de campanha das empresas eletrointensivas

Procurada pela Agência Brasil, a Vale não quis comentar seu consumo de energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que determina as tarifas, e o Ministério de Minas e Energia, que determina a política energética do país, também não quiseram comentar a crítica. O modelo energético brasileiro é regido pela lei 10.848, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004.


O Plebiscito da Vale, que está sendo realizado entre os dias 1º e 7 de setembro, é a terceira consulta popular organizada por movimentos sociais no Brasil. Seis milhões de brasileiros votaram na consulta sobre dívida externa, em 2000, e 10 milhões votaram na consulta sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em 2002.


http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/09/04/materia.2007-09-04.5742590058/view

Leia mais

Plebiscito sobre reestatização da Vale inicia semana com pelo menos 4 mil urnas

PT apóia Constituinte, aborto, plebiscito da Vale e revisão de concessões de TV

Venda a preço menor que o patrimônio justifica anular privatização, para advogado

Dez anos depois, 107 ações judiciais questionam privatização da Vale do Rio Doce

Para "refrescar a memória", ativistas levam plebiscito da Vale a feiras e estádios

Movimentos iniciam campanha pela reestatização da Vale

Movimentos sociais pedirão que Justiça se manifeste sobre leilão da Vale do Rio Doce

Passeata do Grito dos Excluídos é contraponto ao Grito da Independência, anunciam organizadores

CNBB anuncia em São Paulo atividades do Grito dos Excluídos 2007

Economista defende investigação sobre fraudes na privatização da Vale, sem reestatização

Semana da Pátria terá plebiscito sobre privatização da Vale do Rio Doce

Plebiscito sobre privatização da Vale é uma das campanhas do MST para 2007

Dia do Trabalho dá seqüência a agenda de movimentos sociais no ano

Movimentos sociais marcam plebiscito sobre privatização da Vale do Rio Doce

Evento da CNBB termina com recomendação de apoio a comunicação alternativa contra "influência negativa" da mídia



Nenhum comentário: