O Compromisso de uma longa jornada
Portal do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)/24 setembro 2007
A chamada se faz de pequenas porções de terras, onde hoje vive confinada a população de mais de 40 mil pessoas do povo Guarani Kaiowá, localizado do Mato Grosso do Sul, fronteira entre Brasil e Paraguai.
Uma carta escrita pelas lideranças e professores, Guarani Kaiowá convoca a todas as Mulheres e todos os Homens a uma virada histórica. Não só em prol do Povo Guarani, mas em favor de um novo tempo futuro, em favor de nosso planeta, em favor de toda Humanidade frente ao projeto de morte que impõe o espírito do capitalismo.
Neste primeiro passo da campanha, dados na aldeia Tey´ Kue firmaram a Carta lideranças vindas de diferentes cantos do mundo Guarani desde o Chaco aos pés da Cordilheira dos Andes até o litoral Atlântico, onde depois da chegada dos colonizadores se desenharam fronteiras com o nome de Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil. Vamos seguindo, rumo a Vida, Terra e Futuro.
Carta Compromisso Yvy Poty: Vida, Terra e Futuro
Nós, do povo Guarani, desde os tempos quando nasceram nossas raízes mais profundas, acreditamos que a natureza é vida, assim como a terra é o chão onde pisamos, com muita firmeza, seguro e sem medo.
Para nosso povo não é possível esquecer que a terra é o suporte que sustenta toda natureza, toda vida, porque depois que Tupã fez a natureza percebeu que não tinha quem admirasse os rios, a mata e as montanhas. Foi daí que Tupã pensou e criou o Guarani para admirar toda a beleza que fez.
Por isso, nós somos a flor da terra, como falamos em nossa língua: Yvy Poty. Fomos criados pela natureza, por isso ela está sempre a nosso favor, nos ama, nos alimenta e dá a vida por nós, seres humanos.
A água, tão preciosa, sem cor, sem cheiro, cristalina, que vive dentro da gente, respira em nosso corpo e evapora no ar. Formando nuvens de amor de onde cai a chuva para enverdecer as matas, crescer os brotos; as flores para perfumar o universo e alimentar as abelhas que fazem o doce mel; e as frutas para alimentar os pássaros e outros animais.
O mato traz sombra e vitamina para terra e os rios que correm dentro do corpo da terra, como o sangue em nossas veias.
Mas a maldade cruel faz o fogo da morte passar no corpo da terra, secando suas veias. O ardume do fogo torra sua pele. A mata chora e depois morre. O veneno intoxica. O lixo sufoca. A pisada do boi magoa o solo. O trator revira a terra.
Fora de nossas terras ouvimos seu choro e sua morte sem termos como socorrer a Vida.
Chegou a hora de defender a vida do fogo da morte. Defender a vida como Tupã nos entregou: a vida dos rios, das matas, dos pássaros, de todos os animais, das nossas crianças!
Nessa luta pela vida necessitamos contar com o compromisso, a união, a força e a coragem de todas as mulheres, homens e crianças de nosso Grande Povo Guarani.
Nossos povos irmãos que também nasceram desta terra, e há mais de quinhentos anos resistem em seus sonhos, cantos, rezas, danças e línguas, também devem lutar pela vida.
A lembrança dessa terra imaculada está na memória das pedras, das águas e do sangue que corre nas veias de cada morador deste continente.
Em defesa da vida e da terra fazemos um convite para que cada um resgate essa memória, conheça nossa cultura e lute conosco para traçar juntos o caminho para um futuro de liberdade. O Horizonte é a meta, caminhar juntos é o objetivo.
Comissão de Lideranças e Professores em Defesa dos Direitos Guarani Kaiowá
http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=2768&eid=142
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