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Ivanise Andrade, da Girassolidário* - Agência ViraJovem de Notícias - 22/09/2007 - Um novo capítulo sobre a aproximação entre o poder público federal e as/os adolescentes e jovens indígenas do Brasil começou a ser escrito no dia 20 de setembro, quando foi entregue ao Ministro da Educação, Fernando Haddad, uma carta com desafios e propostas para melhorar a educação, a saúde, e garantir a manutenção da cultura e identidade dos povos indígenas. Também participaram da reunião a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier, e o Secretário Nacional de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro.
Antes de ser entregue, a carta foi lida e comentada pelo jovem Maiko Guajajara, do Maranhão, e pela jovem Pataxó Luciene, da Bahia. Para Maiko, a entrega da carta é um momento muito importante, pois os povos indígenas já lutaram muito para conseguir ter oportunidades de participação política.
O jovem questionou a maneira de pensar e elaborar políticas públicas para os povos indígenas, sempre com uma perspectiva assistencialista. “Não precisamos ser tratados como coitadinhos. Queremos cursinhos para nos preparar para entrar nas Universidades e não cotas. Com isso, vamos continuar sendo tratados com preconceito e discriminação”, afirmou.
Para Maiko, antes da criação e financiamento de novos projetos é preciso qualificar as pessoas que irão trabalhar nas aldeias e ouvir o que os povos indígenas têm a dizer. “Nós é que sabemos o que se passa dentro das aldeias. Devemos e queremos ser consultados”, concluiu. A jovem Luciene também falou sobre a importância de participação das/dos adolescentes e jovens indígenas na definição de ações para suas comunidades e disse que a união dos povos indígenas poderá reduzir a violência nas aldeias.
Construir juntos
Para Marie-Pierre Poirier, do Unicef, é muito importante o governo federal iniciar um diálogo com as/os jovens indígenas que são protagonistas de suas comunidades e sabem o que precisa ser feito. “Essa carta dos sonhos será entregue a várias instâncias e é um documento que mostra o que deve ser feito para melhorar a educação e garantir a preservação da cultura indígena”, disse.
O Ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que a preservação da identidade indígena, que é um patrimônio de todo o País, garante a preservação da cultura brasileira. Haddad propôs uma parceria com as/os jovens indígenas para construir uma agenda que servirá de exemplo para toda a sociedade. “Tomem esse encontro como o primeiro de muitos, pois estamos criando uma agenda de trabalho conjunto. Precisamos compreender o que se passa nas aldeias”.
Para o ministro, os povos indígenas estão mais conscientes de seus deveres e passaram a cobrar o governo federal, mas “o Estado não está acompanhando essas demandas no ritmo desejado. Muitas vezes, nos acomodamos com o estágio das Políticas Públicas. Mas queremos ir além.”, admitiu Haddad.
O Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, quis saber das/dos adolescentes e jovens quais estudavam ou já haviam freqüentado escolas indígenas. Como poucos levantaram as mãos, ele admitiu: “estamos devendo muito a vocês ainda”.
A Girassolidário é parceira da Vira em Mato Grosso do Sul
- Agência ViraJovem de Notícias - 21/09/2007 - Nós, adolescentes e jovens indígenas, representantes de 14 estados brasileiros e 26 etnias, reunidos de 18 a 20 de setembro de 2007, no II Encontro Nacional dos Povos das Florestas, em Brasília (DF), apresentamos ao Governo do Brasil e ao Poder Legislativo nossos desafios e propostas para garantir educação indígena de qualidade, vidas saudáveis para todos os índios, afirmação da nossa cultura e identidade, assegurar integridade e ampliação de nossos territórios, além de construir políticas de geração de emprego e renda para os jovens indígenas.
Queremos educação e autonomia
Mesmo reconhecendo os avanços registrados nos últimos anos, a exemplo da educação bilíngüe em diversas regiões e a inclusão de maior número de alunos em sala de aula, ainda são muitos os desafios a serem superados para assegurar qualidade na educação. Além da necessidade de levar os princípios da educação contextualizada para todas as escolas indígenas, e fundamental ampliar e diversificar as oportunidades de acesso ao ensino superior, perpectiva distante para a maioria dos jovens índios.
Para tornar isso realidade, queremos a criação de um núcleo de educação indígena federal. Este núcleo deve ser todo planejado pelos indígenas, incluindo os jovens, pois nós conhecemos a nossa realidade e sabemos o que precisamos.
O núcleo será responsável por gerenciar os recursos da educação indígena. Os recursos iriam para transporte, merenda, material didático específico de cada cultura. Será preciso uma administração em cada Estado para atender as necessidades que variam de região para região.
As escolas têm que ser construídas nas aldeias, e devem ensinar as tradições desde as primeiras séries. O ensino superior pode ser na cidade desde que as despesas do estudante sejam custeadas.
HOTERÔ TOKERÊ’A APIRAB
Saúde
Para assegurar vidas saudáveis aos povos indígenas é preciso universalizar o atendimento imediato dos índios de todas as etnias, cujo maior obstáculo são os meios de transporte em caráter permanente, como barcos e veículos. Para assegurar a qualidade desse atendimento na própria comunidade, é preciso formar, qualificar e contratar agentes de saúde e agentes sanitários indígenas.
Outra proposta fundamental para a saúde dos índios é a criação e ampliação, onde já existe, de sistemas de tratamento de águas. O financiamento para trabalhos de prevenção as drogas e DSTs/HIV com trabalhos conjuntos dos agentes de saúde, cacique, parteiras e pajes.
Maior agilidade na marcação de exames através de convênios com hospitais também e uma necessidade urgente nas aldeias, bem como disponibilizar remédios suficientes para uso imediatos. No início da vida sexual, os jovens precisam ter acesso a conhecimentos sobre saúde sexual a serem difundidos por meio de debates e encontros sobre saúde sexual reprodutiva, com o devido intercâmbio de aldeias.
Mas é preciso ir além da medicina convencional do homem branco. Multiplicar e aprofundar os conhecimentos medicinais tradicionais das aldeias, ministrados pelos pajes e parteiras e um anseio expresso por todos os jovens indígenas preocupados em resgatar o modo de tratar e curar dos seus povos.
Trabalho e geração de renda
Nós, jovens indígenas do Brasil, queremos a oportunidade de permanecer em nossas aldeias, a partir da implantação de políticas públicas de geração de trabalho e renda, em nossas comunidades.
Temos potencial de fonte de renda, mas precisamos de incentivos técnicos para a criação de cooperativas e associações. Algumas das atividades que podem se tornar fonte de renda são: artesanato, agricultura, psicultura, artes e turismo.
Uma das nossas sugestões e a liberação de bolsas para nossos grupos artísticos, pois além de esta ser uma forma de valorizar e dar visibilidade a nossa cultura, é também um meio de garantir renda para nossos adolescentes. Podemos ter projetos de geração de renda ligados a preservação do meio ambiente.
Também consideramos fundamental a inclusão digital indígena com instalação de computadores e pontos de internet nas aldeias.
Território e desenvolvimento
Devido aos constantes conflitos motivados pela ocupação e posse das terras indígenas, exigimos a demarcação e ampliação de territórios com a presença e a participação de toda a comunidade e a agilidade nos processos. Além de garantir a consulta aos povos indígenas antes da elaboração de qualquer tipo de projeto dentro e nas proximidades do território. E que sejam criados dentro das reservas indígenas. É preciso conter a expansão agropecuária dentro das áreas indígenas.
Cultura e identidade
Temos orgulho de ser índios e expressar nossa cultura, queremos preservar e defendê-la. Por isso, queremos que as políticas públicas também contribuam com esse fortalecimento e revitalização na cultura da aldeia, construindo centros culturais indígenas e divulgando nossa cultura para que todos possam respeitar nossa religião, espiritualidade, alimentação, dança, cantos etc. Promover o ensino da cultura indígena nas escolas é necessário, a transmissão de conhecimentos tradicionais dos velhos para os jovens, adolescentes e crianças também.
Precisamos ter acesso aos conhecimentos e informações que os jovens não-índios possuem. E nessa relação com as cidades, é necessário o apoio para superarmos a discriminação e promover uma cultura de paz para o respeito a todo tipo de diversidade.
As nossas culturas, as nossas diferenças também devem ser respeitadas pelos profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, que precisam estar capacitados para compreender e atuar nas nossas aldeias.
Os nossos costumes e tradições também podem ajudar a diminuir a violência que tem se apresentado de diversas formas nas aldeias. É urgente a devida punição para os crimes cometidos contra os indígenas e a limitação da influência das igrejas nas aldeias.
Sabemos que uma pedra sozinha não faz um caminho, mas muitas pedras juntas fazem. Lutamos pelo nosso povo e temos certeza de que todos, unidos, podemos mudar a realidade em que se encontram as criancas, adolescentes e jovens indigenas.
Assinado: Etnia Baré, Etnia Bararé, Etnia Bororó,Etnia Dessano, Etnia Galibi Marboro, Etnia Genipapo Kanindé, Etnia Guajajara, Etnia Guarani, Etnia Kambiwá, Etnia Krahô-kanela, Etnia Manxinere, Etnia Pataxó, Etnia Pitaguary, tnia Potyguara, Etnia Saterê, Etnia Tapeba, Etnia Tremembé, Etnia Tucano, Etnia Tupinamba, Etnia Tupiniquim, Etnia Wanana, Etnia Wapichana, Etnia Xavante, Etnia X-Cariri e Etnia Xucuru.
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