quinta-feira, 28 de junho de 2007

Poetas moçambicanos em Cuba exaltam liberdade cultural

“SE o povo cubano consegue sobreviver até aos dias de hoje, com todos os embargos decretados e implementados, é graças à valorização que o povo daquele país dá à Cultura”. Estas palavras são do poeta Armando Artur, que esteve integrado numa delegação convidada a participar no 12º Festival de Poesia de África e Caraíbas, realizado recentemente na terra de Fidel Castro. Artur proferiu este discurso, na conferência de Imprensa ontem convocada, para o rescaldo da estada de uma delegação moçambicana no festival de poesia onde participaram poetas das Caraíbas e da África.

Maputo, 28 Junho 2007 - A comitiva, chefiada por Juvenal Bucuane, secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, era composta por um grupo que incluía o poeta Marcelino dos Santos –Kalungano ou Lilinho da Micaia – o qual se referiu, na mesma conferência de Imprensa em que esteve presente, ao facto de este festival levar a poesia a todos os locais daquele país caribenho, para além de Havana, onde se situava o epicentro do encontro. “As pessoas andavam com poemas no bolso e, no momento da emoção, tiravam-nos e liam-nos espontaneamente. Toda a Cuba cobriu-se de poesia”.

Kalungano, ou Lilinho da Micaia, relembrou neste festival que em cada um de nós mora um poeta, “só que em alguns brota mais forte que nos outros. Foi bonito, sobretudo quando a gente nota que a pessoa concentra-se mais quando declama um poema não escrito”.

Foi um festival considerado pelo participantes de bastante importante, para a junção dos poetas e dos fazedores da Cultura. Ultrapassou a poesia e chamou a música e o cinema. Foi um festival do povo, como diria Armando Artur. Não de elite. “Eu participei uma vez num festival de poesia na Bélgica e reparei que aquele era um encontro de elite, mas esta era manifestação do povo. Havia camponeses neste encontro da palavra. Lembro-me de um barbeiro que nos abordou e disse que queria conhecer o Pepetela, porque tinha lido o Mayombe, uma obra de grande relevo produzido por aquele escritor angolano”.

Artur, no seu deslumbramento por causa do barbeiro, recordou que “nós aqui em Moçambique temos doutores que nunca leram um romance na vida deles”.

Sangari Okapi era o jovem feliz que fazia parte de uma plêiade que incluía Marcelino dos Santos, Juvenal Bucuane, Armando Artur, Jaime Santos e o cineasta Gabriel Mondlane. Sangari nunca tinha viajado de avião em toda a sua vida. Fê-lo pela primeira vez e logo para um país mítico como Cuba. Ele ficou enfeitiçado com o desenvolvimento da poesia associada ao canto. “A poesia em Cuba é, de certa forma, uma religião. Senti naquele país caribenho o que é fraternidade, o que é solidariedade. É bonito cantar a poesia com camponeses e isso aconteceu em Cuba”.

Jaime Santos, um declamador de grande alma, ficou simplesmente conquistado por este festival que, sendo do Caribe e de África por vocação, tinha poetas da Austrália e dos Estados Unidos.

“Foi extraordinário compreender os problemas dos homens através da poesia. Compreender as suas angústias. Lembro-me de um jamaicano que me disse assim, depois de sentir aquele fervilhar todo e depois de me ter perguntado de onde é que eu era: gostaria de ser africano. Vi, com muito agrado, que ali se faz poesia a sério”.

Cinema
Gabriel Mondlane, secretário-geral da Associação Moçambicana de Cineastas, integrado na delegação, ficou feliz, surpreendentemente, com o casamento que existiu em Cuba entre o cinema e a poesia. “Foi um casamento muito interessante. Vi poetas – incluindo um moçambicano que nem conhecia – a tirar papelinhos do bolso para ler um poema. Mas mais do que isso, para mim foi muito marcante ouvir cubanos a falarem dos nossos poetas. Percebi que afinal o mundo é pequeno.

Inspiração
Mas este festival de Cuba, de acordo com Juvenal Bucuane, terá inspirado os moçambicanos, particularmente o secretário-geral da AEMO, a rever a possibilidade de uma revolução dos M’sahos que se faziam no Jardim Tunduru. “Foi uma boa experiência”.

Aliás, Bucuane, na linha de todos os membros dos poetas que estiveram em Cuba, abordou a questão de Moçambique não ter um espaço próprio naquele país, diferentemente do país de Pepetela, que tem, em Havana, uma Casa de Angola. A propósito disso, Kalungano, respondendo a uma questão colocada na ocasião sobre a inexistência de adidos culturais nas nossas embaixadas, referiu que antes de pensar nessa questão “temos que pensar nos adidos culturais nas províncias, “eu duvido que o próprio ministro da Cultura do nosso país seja capaz de ser adido cultural duma embaixada. Isso acarreta uma preparação muito profunda. Tens que conhecer as manifestações culturais do teu país”. (Notícias)

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