quarta-feira, 27 de junho de 2007

Brasil / Carta da XXXI Assembléia do Cimi Regional Sul

XXXI Assembléia do Conselho Indigenista Missionário / Cimi Regional Sul

Curitiba (PR), 18 a 22 de junho de 2007.

Na esperança dos povos indígenas e na força do Espírito que nos une no compromisso de construção de um mundo que manifeste o Reino de Deus, nós missionárias e missionários do Cimi Regional Sul, nos reunimos em Curitiba para avaliar e planejar a caminhada.

Olhando para a história de resistência e luta, recolhemos frutos de vida que fortalecem nossa ação missionária e que nos animam a prosseguir na defesa desta causa. A coragem guerreira de tantos líderes indígenas e missionárias e missionários que fizeram parte dessa trajetória é força viva que nos impulsiona para um compromisso mais efetivo com a vida dos povos indígenas.

Dentre estes testemunhos, queremos lembrar Dom Manoel João Francisco, bispo de Chapecó que, por sua postura de defesa dos direitos de indígenas e pequenos agricultores, está sofrendo ameaças e perseguições. Conforme palavras de Jesus: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o Reino do céu” (Mt 5,10). Dom Manoel dá testemunho da prática evangélica pela busca da justiça. A ele, nossa solidariedade.

Assim como nestes últimos 500 anos, em que houve sofrimento, luta e resistência dos povos indígenas, hoje a realidade não é diferente. A equivocada política desenvolvimentista do atual governo, através do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC), significará mais uma violência contra os povos indígenas. Os espaços ainda preservados nas suas terras poderão ser destruídos pelos projetos de desenvolvimento que priorizam o grande capital em detrimento da vida. Esse mesmo sistema impede a demarcação de terras indígenas e exerce pressão para que áreas já demarcadas sejam inseridas na monocultura, beneficiando exclusivamente o agronegócio.

Causa grande preocupação a morosidade governamental em relação aos procedimentos administrativos de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas. Em conseqüência disso, os grupos políticos e econômicos regionais, historicamente inimigos dos povos indígenas, têm reforçado suas ações de violência contra esses povos e seus aliados. Além disso, as poucas conquistas no campo administrativo têm sido sistematicamente questionadas nas diversas esferas do poder judiciário.

Verificamos também negligência no atendimento à saúde nas comunidades indígenas, provocando até mesmo casos de morte como a de Valdemar Salvador, Cacique Kaingang da Aldeia Kondá, em Chapecó – SC.

Reafirmamos nosso compromisso com o fortalecimento da autonomia dos povos indígenas, apoiando seus direitos originários, contribuindo em seus processos formativos e sua articulação com outros povos e movimentos sociais, valorizando a vivência de práticas tradicionais e seu protagonismo na construção de uma sociedade plenamente democrática, igualitária e plural.

Cremos que o Deus da Vida está no meio de nós, caminha a nossa frente e inspira o projeto utópico que sustenta nossas práticas transformadoras. Nele, somos capazes de ver o futuro do Reino já desabrochar entre todos os povos e na criação toda.

Curitiba, PR, junho de 2007.

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