segunda-feira, 3 de junho de 2013

Brasil/OS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO SUL



29 maio 2013, Mauro Santayana  http://www.maurosantayana.com (Brasil)

Mauro Santayana

(HD)-A Presidente Dilma Roussef acaba de voltar da Etiópia, onde assistiu, como convidada, à Cúpula Presidencial do 50ª Aniversário da União Africana. Lá, além de reiterar os laços culturais e econômicos que nos ligam àquela região, ela anunciou, também, a eliminação de antigas dívidas de 12 países africanos com o Brasil, no valor de 980 milhões de dólares.

Aqui, muita gente ficou sem entender o gesto, assim como muitos ainda desconhecem as razões que justificam a nossa política africana.
A aproximação estratégica do Brasil com a África, como um todo, vem desde o regime militar. Nos anos 1970 e 1980, era para a África e o Oriente Médio que iam milhares de brasileiros, para forjar seu futuro, trabalhando para empresas como a Mendes Júnior no Iraque e a Mauritânia, entre outros países. Para lá exportávamos, antes da destruição da indústria bélica brasileira, tanques da Engesa e da Bernardini, mísseis da Avibrás e armas portáteis.

A nossa relação com os países de língua portuguesa é mais antiga. Houve anos,antes da independência, em que entravam no porto de Luanda mais navios saídos do Rio de Janeiro do que  de Lisboa. Em plena ditadura, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola.

Na África, não está apenas o passado de milhões de brasileiros, nos antepassados que dali vieram, mas também o seu futuro. Não se trata apenas da presença, naquele continente, de técnicos da Petrobras,  e de construtoras e mineradoras, ali presentes.

Sendo a África Ocidental, do ponto de vista climático e geológico, um território gêmeo do brasileiro, é a única região do mundo que oferece ao Brasil a possibilidade de aplicar e demonstrar o que há de melhor em nosso modelo de desenvolvimento econômico e social.

Nos nossos cultivares de cana, na produção de açúcar e álcool, na soja resistente à seca, no gado tropical para a produção de carne e leite, nos nossos programas de agricultura familiar, estão soluções que podem levar à ocupação produtiva de milhões de hectares de cerrado naquele continente. Não só na economia, mas, também, na política social - como no Brasil - é possível o combate às endemias e epidemias,  a eliminação da fome e o fim da pobreza absoluta.        

Esse projeto  de cooperação Sul-Sul, poderá ser grande e solidária ação internacional com povos irmãos na História e na geografia.

Os países africanos foram decisivos para a vitória brasileira na votação da OMC, e sabem que o Brasil não tem, para com eles, a mesma visão colonialista da Europa e dos Estados Unidos.

No Brasil há a consciência histórica de que é prioritário, para estabelecer área de paz e prosperidade no Atlântico Sul, tratar, de igual para igual, nossos vizinhos e irmãos do continente e os que habitam o outro lado do oceano.

--------------- Relacionada


24 maio 2013, Mauro Santayana http://www.maurosantayana.com (Brasil)

Mauro Santayana

(JB)-Não foi uma caminhada fácil, nem se iniciou ontem, mas o Brasil deixou para trás a situação acanhada, quando, de tempos em tempos, nossos ministros da Fazenda viajavam aos Estados Unidos, de chapéu na mão. A dívida externa nacional, sempre acumulada, pelos juros brutais, tinha que ser “rolada” de maneira humilhante. Os que procuraram escapar ao “contrato de Fausto com o diabo”, conforme Severo Gomes, sofreram a articulação golpista comandada de fora, como ocorreu a Vargas, a Juscelino e a João Goulart.  
   
Livramo-nos, durante o governo Lula, do constrangimento de abrir a contabilidade nacional aos guarda-livros do FMI, que vinham periodicamente ao Brasil dizer como devíamos agir, em relação à política fiscal ou na direção dos parcos investimentos do Estado. Ainda temos débitos com o exterior, mas as nossas reservas cobrem, com muita folga, os  compromissos externos.

Não obstante isso, os nossos adversários históricos não descansam. Ontem, na cidade colombiana de Cali, os governos do México, do Chile, da Colômbia e do Peru se reuniram para mais um passo na criação da Aliança do Pacífico — sob a liderança dos Estados Unidos e da Espanha — claramente oposta ao Mercosul. O Tratado que reúne, hoje, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e o Uruguai — e que deverá ampliar-se ao Paraguai e à Bolívia — representa poderoso mercado interno, com um dinamismo que assegurará desenvolvimento autônomo e relações de igualdade com outras regiões do mundo.

Os norte-americanos, em sua política latino-americana, agem sempre dentro do velho princípio, que Ted Roosevelt atribuía aos africanos, de falar mansinho, mas levar um porrete grande. Ainda agora, preparam uma recepção de alto nível para a chefe de Estado do Brasil, que visitará Washington, em outubro — e será recebida com todas as homenagens diplomáticas. Ao mesmo tempo montam o esquema de cerco continental ao nosso país.

Sendo assim, foi importante a visita que fez anteontem a Washington o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, a convite do Instituto do Brasil, do Centro Woodrow Wilson, e do US Businness Council. O parlamentar, exibindo números bem conhecidos em Washington, mostrou que o Brasil deixou de ser país em desenvolvimento, para tornar-se uma potência consolidada. Ele argumentou que o Brasil é investidor importante na economia norte-americana, e, embora não o tenha feito, poderia lembrar que somos o país que tem o terceiro maior crédito junto ao Tesouro dos Estados Unidos.

Os espanhóis que, em troca do tratamento privilegiado que lhes damos no Brasil, tratam de nos prejudicar, estão exultando com a Aliança do Pacífico. No entender de seus analistas, a nova organização vai sufocar o Mercosul. Ainda que alguns de nossos parceiros estejam encontrando dificuldades ocasionais, a pujança conjunta supera, de longe, a economia dos países da Aliança. A economia mexicana depende de empresas norte-americanas, que se aproveitam de seus baixos salários e outras vantagens para ali montar seus automóveis e “maquiar” outros produtos.

A força da economia brasileira, na indústria de porte — em que se destaca a engenharia de excelência na construção pesada — reduz a quase nada a importância dos países litorâneos do Pacífico, em sua realidade interna. Os Estados Unidos os querem no Nafta, e é provável que consigam esse estatuto de vassalagem. Nós, no entanto, não podemos deixar os nossos vizinhos da América do Sul isolados, em troca de uma parceria com Washington que de nada nos serve.

É hora também de dar um chega pra lá com a Espanha de Juan Carlos, Rajoy e Emilio Botin, o atrevido presidente do Banco Santander, que consegue ser recebido no Planalto com mais frequência do que alguns ministros de Estado. O Brasil deve manter as melhores relações diplomáticas com os Estados Unidos, desde que as vantagens sejam recíprocas. Mas se, ao contrário deles, não levarmos o big stick, estaremos advertidos de que “os Estados Unidos não têm amigos: os Estados Unidos têm interesses”, conforme a frase atribuída a  Sumner Welles e repetida depois por Kissinger.

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