29 maio 2013, Mauro Santayana http://www.maurosantayana.com (Brasil)
Mauro
Santayana
(HD)-A
Presidente Dilma Roussef acaba de voltar da Etiópia, onde assistiu, como
convidada, à Cúpula Presidencial do 50ª Aniversário da União Africana. Lá, além
de reiterar os laços culturais e econômicos que nos ligam àquela região, ela
anunciou, também, a eliminação de antigas dívidas de 12 países africanos com o
Brasil, no valor de 980 milhões de dólares.
Aqui,
muita gente ficou sem entender o gesto, assim como muitos ainda desconhecem as
razões que justificam a nossa política africana.
A aproximação estratégica do
Brasil com a África, como um todo, vem desde o regime militar. Nos anos 1970 e
1980, era para a África e o Oriente Médio que iam milhares de brasileiros, para
forjar seu futuro, trabalhando para empresas como a Mendes Júnior no Iraque e a
Mauritânia, entre outros países. Para lá exportávamos, antes da destruição da
indústria bélica brasileira, tanques da Engesa e da Bernardini, mísseis da
Avibrás e armas portáteis.
A nossa
relação com os países de língua portuguesa é mais antiga. Houve anos,antes da
independência, em que entravam no porto de Luanda mais navios saídos do Rio de
Janeiro do que de Lisboa. Em plena ditadura, o Brasil foi o primeiro país
a reconhecer a independência de Angola.
Na
África, não está apenas o passado de milhões de brasileiros, nos antepassados
que dali vieram, mas também o seu futuro. Não se trata apenas da presença,
naquele continente, de técnicos da Petrobras, e de construtoras e
mineradoras, ali presentes.
Sendo a
África Ocidental, do ponto de vista climático e geológico, um território gêmeo
do brasileiro, é a única região do mundo que oferece ao Brasil a possibilidade
de aplicar e demonstrar o que há de melhor em nosso modelo de desenvolvimento
econômico e social.
Nos
nossos cultivares de cana, na produção de açúcar e álcool, na soja resistente à
seca, no gado tropical para a produção de carne e leite, nos nossos programas
de agricultura familiar, estão soluções que podem levar à ocupação produtiva de
milhões de hectares de cerrado naquele continente. Não só na economia, mas,
também, na política social - como no Brasil - é possível o combate às endemias
e epidemias, a eliminação da fome e o fim da pobreza
absoluta.
Esse
projeto de cooperação Sul-Sul, poderá ser grande e solidária ação
internacional com povos irmãos na História e na geografia.
Os países
africanos foram decisivos para a vitória brasileira na votação da OMC, e sabem
que o Brasil não tem, para com eles, a mesma visão colonialista da Europa e dos
Estados Unidos.
No Brasil
há a consciência histórica de que é prioritário, para estabelecer área de paz e
prosperidade no Atlântico Sul, tratar, de igual para igual, nossos vizinhos e
irmãos do continente e os que habitam o outro lado do oceano.
--------------- Relacionada
24 maio 2013, Mauro Santayana
http://www.maurosantayana.com (Brasil)
Mauro
Santayana
(JB)-Não
foi uma caminhada fácil, nem se iniciou ontem, mas o Brasil deixou para trás a
situação acanhada, quando, de tempos em tempos, nossos ministros da Fazenda
viajavam aos Estados Unidos, de chapéu na mão. A dívida externa nacional,
sempre acumulada, pelos juros brutais, tinha que ser “rolada” de maneira
humilhante. Os que procuraram escapar ao “contrato de Fausto com o diabo”,
conforme Severo Gomes, sofreram a articulação golpista comandada de fora, como
ocorreu a Vargas, a Juscelino e a João Goulart.
Livramo-nos,
durante o governo Lula, do constrangimento de abrir a contabilidade nacional
aos guarda-livros do FMI, que vinham periodicamente ao Brasil dizer como
devíamos agir, em relação à política fiscal ou na direção dos parcos
investimentos do Estado. Ainda temos débitos com o exterior, mas as nossas
reservas cobrem, com muita folga, os compromissos externos.
Não obstante
isso, os nossos adversários históricos não descansam. Ontem, na cidade
colombiana de Cali, os governos do México, do Chile, da Colômbia e do Peru se
reuniram para mais um passo na criação da Aliança do Pacífico — sob a liderança
dos Estados Unidos e da Espanha — claramente oposta ao Mercosul. O Tratado que
reúne, hoje, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e o Uruguai — e que deverá
ampliar-se ao Paraguai e à Bolívia — representa poderoso mercado interno, com
um dinamismo que assegurará desenvolvimento autônomo e relações de igualdade
com outras regiões do mundo.
Os
norte-americanos, em sua política latino-americana, agem sempre dentro do velho
princípio, que Ted Roosevelt atribuía aos africanos, de falar mansinho, mas
levar um porrete grande. Ainda agora, preparam uma recepção de alto nível para
a chefe de Estado do Brasil, que visitará Washington, em outubro — e será
recebida com todas as homenagens diplomáticas. Ao mesmo tempo montam o esquema
de cerco continental ao nosso país.
Sendo
assim, foi importante a visita que fez anteontem a Washington o presidente da
Câmara dos Deputados, Henrique Alves, a convite do Instituto do Brasil, do
Centro Woodrow Wilson, e do US Businness Council. O parlamentar, exibindo
números bem conhecidos em Washington, mostrou que o Brasil deixou de ser país
em desenvolvimento, para tornar-se uma potência consolidada. Ele argumentou que
o Brasil é investidor importante na economia norte-americana, e, embora não o
tenha feito, poderia lembrar que somos o país que tem o terceiro maior crédito
junto ao Tesouro dos Estados Unidos.
Os
espanhóis que, em troca do tratamento privilegiado que lhes damos no Brasil,
tratam de nos prejudicar, estão exultando com a Aliança do Pacífico. No
entender de seus analistas, a nova organização vai sufocar o Mercosul. Ainda
que alguns de nossos parceiros estejam encontrando dificuldades ocasionais, a
pujança conjunta supera, de longe, a economia dos países da Aliança. A economia
mexicana depende de empresas norte-americanas, que se aproveitam de seus baixos
salários e outras vantagens para ali montar seus automóveis e “maquiar” outros
produtos.
A força
da economia brasileira, na indústria de porte — em que se destaca a engenharia
de excelência na construção pesada — reduz a quase nada a importância dos
países litorâneos do Pacífico, em sua realidade interna. Os Estados Unidos os
querem no Nafta, e é provável que consigam esse estatuto de vassalagem. Nós, no
entanto, não podemos deixar os nossos vizinhos da América do Sul isolados, em
troca de uma parceria com Washington que de nada nos serve.
É hora
também de dar um chega pra lá com a Espanha de Juan Carlos, Rajoy e Emilio
Botin, o atrevido presidente do Banco Santander, que consegue ser recebido no
Planalto com mais frequência do que alguns ministros de Estado. O Brasil deve
manter as melhores relações diplomáticas com os Estados Unidos, desde que as
vantagens sejam recíprocas. Mas se, ao contrário deles, não levarmos o big
stick, estaremos advertidos de que “os Estados Unidos não têm amigos: os Estados
Unidos têm interesses”, conforme a frase atribuída a Sumner Welles e
repetida depois por Kissinger.
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