3 junho 2013, Global Research http://www.globalresearch.ca (Canada)
Desde a Revolução de 1959, Cuba elaborou uma política para ajudar países pobres; resultados são espetaculares
Global Research, June 03, 2013
Desde 1963, com o envio da primeira
missão médica humanitária à Argélia, Cuba se comprometeu a cuidar das
populações pobres do planeta em nome da solidariedade internacionalista. As
missões humanitárias cubanas se estendem por quatro continentes e apresentam um
caráter único. Com efeito, nenhuma outra nação do mundo, nem sequer as mais
desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária no planeta.
Desde seu lançamento, cerca de 132.000 médicos cubanos, além do pessoal
sanitário, atuaram voluntariamente em 102 países. No total, os médicos
cubanos atenderam cerca de 100 milhões de pessoas no mundo e salvaram um milhão
de vidas. Atualmente, 37.000 médicos colaboradores oferecem seus serviços em 70
nações do Terceiro Mundo.
A ajuda internacional cubana se
estende a dez países da América Latina e às regiões subdesenvolvidas do
planeta. Em outubro de 1998, o furacão Mitch havia assolado a América Central e
o Caribe. Os chefes de Estado da região lançaram um chamado à solidariedade
internacional. Segundo o PNUD, Cuba
foi a primeira a responder positivamente, cancelando a dívida da Nicarágua de
50 milhões de dólares e propondo os serviços de seu pessoal sanitário.
Foi elaborado, então, o Programa
Integral de Saúde, sendo ampliado a outros continentes, como África e Ásia.
Nas
regiões onde foi aplicado, O PNUD aponta uma melhora de todos os indicadores de
saúde, particularmente uma diminuição notável da taxa de mortalidade infantil.
A ALBA
O primeiro país que se beneficiou
do capital humano foi, logicamente, a Venezuela, graças à eleição de Hugo
Chávez em 1998 e à relação especial estabelecida com Cuba. A universalização do
acesso à educação, implementada em 1998, teve resultados excepcionais. Cerca de
1,5 milhão de venezuelanos aprenderam a ler e a escrever graças à campanha de
alfabetização chamada Misión Robinson I. Em dezembro de 2005, a Unesco decretou
que o analfabetismo havia sido erradicado da Venezuela. A Misión Robinson II
foi lançada para levar a população ao alcance do nível secundário. A isso se
somam as missões Ribas e Sucre, que permitiram que dezenas de milhares de
jovens começassem estudos universitários.
(Com
a aliança entre Cuba e Venezuela na área da saúde, foram salvas mais de 100 mil
vidas)
Em 2010, 97% das crianças
venezuelanas estavam escolarizadas.
Em relação à saúde, foi criado o Sistema Nacional Público, para garantir
o acesso gratuito à atenção médica a todos os venezuelanos. A missão Barrio
Adentro I possibilitou a realização de 300 milhões de consultas nos 4.469
centros médicos criados desde 1998. Cerca de 17 milhões de pessoas puderam ser
atendidas, enquanto que, em 1998, menos de 3 milhões de pessoas tinham acesso
regular à saúde. Foram salvas mais de 104.000 vidas. A taxa de mortalidade
infantil foi reduzida a menos de 10 por mil.
Na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Venezuela passou do posto 83 no ano
2000 (0,656) ao posto 73 em 2011 (0,735), e entrou na categoria das nações com
o IDH mais elevado. Além disso,
também segundo o PNUD, a Venezuela ostenta o coeficiente Gini mais baixo da
América Latina, e é o país da região onde há menos desigualdade.
Luis Alberto Matos, economista e
especialista em energia, salientou a “cooperação emblemática” entre Cuba e
Venezuela. “Quem pode negar a imensa contribuição dessa nação à Venezuela em
relação ao aprimoramento do setor de saúde, na agricultura, nos
esportes, na cultura?”
Graças à ALBA e ao programa social
lançado pelo governo de Evo Morales entre 2006 e julho de 2011, a Brigada
Médica cubana presente na Bolívia cuidou de mais de 48 milhões de pessoas e
salvou 49.821 vidas. A Bolívia pôde melhorar seus indicadores de saúde
com uma diminuição da mortalidade infantil de 58 a cada mil, em 2007, para 51 a
cada mil em 2009, ou seja, uma redução de 14% em três anos. Entre 2006 e 2009,
foram criados quase 545 centros de saúde em todo o país. Quanto à educação, a
Unesco declarou que a Bolívia é um território livre de analfabetismo em 20 de
dezembro de 2008, com a alfabetização de 824.000 pessoas. Foram construídos
cerca de 1.540 estabelecimentos escolares. Quanto ao Ensino Superior, foram
criadas três universidades indígenas. A pobreza extrema foi reduzida a 6%,
passando de 37,8% a 31,8%.
Na Nicarágua, o programa Yo, sí
puedo permitiu que a Unesco declarasse que o país estava livre do analfabetismo
em 2009. Graças à Alba, a Nicarágua também conseguiu resolver sua grave crise
energética, que às vezes provocava apagões de 16 horas diárias. Foram
construídos vários hospitais equipados integralmente em todo o país, com acesso
gratuito à atenção médica para toda a população. Eles operam, em grande parte,
graças à presença do pessoal médico cubano.
No Equador, a chegada de Rafael
Correa ao poder em 2006 também ocasionou uma revolução social sem precedentes.
Dessa forma, o orçamento de saúde aumentou de 437 milhões de dólares em 2006
para 3.430 milhões em 2010. O orçamento de educação passou de 235 milhões em
2006 para 940,7 milhões em 2010. A taxa de escolaridade até o nível
universitário da quinta parte mais pobre da população passou de 30% para 40%
entre 2006 e 2010. A cobertura da cesta básica passou de 68% para 89%. A
pobreza diminuiu 7% no mesmo período em nível nacional, e 13% para os
afroequatorianos. Mais de 70.000 pessoas dos 5 milhões de indigentes que havia
no país em 2006 saíram da pobreza.
Agência Efe
(Equador também se beneficiou dos programas de solidariedade cubanos após Correa chegar ao poder)
Assim, o IDH passou de 0,716 em
2009 para 0,720 em 2011, e agora ocupa a posição 83. O Equador prevê erradicar
a desnutrição infantil em 2015 e assim alcançar Cuba, o único país da América
Latina e do Terceiro Mundo livre dessa praga, segundo a Unicef.
A Brigada Henry Reeve
Em 19 de setembro de 2005, após a
tragédia que o furacão Katrina provocou em Nova Orleans, Cuba criou a Brigada
Henry Reeve, um contingente médico composto por 10.000 profissionais da
saúde e especializado em catástrofes naturais. Naquela época, Havana ofereceu a
Washington o envio de 1.586 médicos para atender as vítimas, mas o presidente
Bush negou a oferta.
A Brigada Henry Reeve interveio em
vários continentes. Assim, após o terremoto de novembro de 2005, que assolou o
Paquistão, 2.564 médicos cubanos viajaram para lá a fim de atender as vítimas
durante mais de oito meses. Foram montados 32 hospitais de campanha, que logo
foram doados às autoridades de saúde do país. Mais de 1,8 milhão de pessoas
foram atendidas e 2.086 vidas foram salvas. Nenhuma outra nação ofereceu uma
ajuda tão importante, nem mesmo os Estados Unidos – principal aliado de
Islamabad –, que estabeleceu apenas dois hospitais de campanha e ficou por oito
semanas. O jornal britânico The Independent ressaltou
o fato de que a brigada médica cubana foi a primeira a chegar ao Paquistão e a
última a deixar o país.
Anteriormente, após o tsunami que
devastou a região do Pacífico em 2004, Cuba enviou várias missões humanitárias
para oferecer atenção médica às vítimas, muitas vezes abandonadas pelas
autoridades locais. Várias áreas rurais em Kiribati, Timor Leste ou Sri Lanka
ainda dependem da ajuda médica cubana. Foi inaugurada uma escola de
medicina no Timor Leste para formar jovens estudantes do país. As Ilhas
Salomão, assim como a Papua-Nova Guiné, acenaram à Havana para se beneficiar de
uma ajuda similar e firmar acordos de cooperação.
Após o terremoto ocorrido em maio
de 2006 em Java, na Indonésia, Cuba enviou várias missões médicas. Ronny
Rockito, coordenador regional para a saúde, elogiou o trabalho dos 135
profissionais cubanos que instalaram dois hospitais de campanha. Segundo ele,
seu trabalho teve um impacto mais importante do que qualquer outro país.
“Aprecio muito as brigadas médicas cubanas. Seu estilo é muito amistoso e seu
nível de atenção médica, muito elevado. Tudo é gratuito e não há nenhum apoio
por parte do meu governo para isso. Agradecemos Fidel Castro. Muitos moradores
suplicaram aos médicos cubanos para que ficassem”, enfatizou.
O caso mais recente e mais
emblemático da cooperação médica cubana diz respeito ao Haiti. O terremoto de
janeiro de 2010, de magnitude 7, causou dramáticos danos humanos e materiais.
Segundo as autoridades haitianas, o balanço foi de 230.000 mortos,
300.000 feridos e 1,2 milhão depessoas sem teto.
A brigada médica cubana, presente desde 1998, foi a primeira a auxiliar
as vítimas e atendeu cerca de 40% delas.
Em outubro de 2010, soldados
nepaleses das Nações Unidas introduziram inadvertidamente o vírus do cólera no
Haiti. Segundo a ONU, a equipe médica do doutor Jorge Luis Quiñones descobriu a
epidemia. Cerca de 6.600 pessoas perderam a vida e 476.000 foram infectadas, o
que representa 5% da população de um total de 10 milhões de habitantes. Era a
taxa de cólera mais elevada do mundo, segundo as Nações Unidas. O New York
Times ressaltou, em uma reportagem, o papel chave dos médicos cubanos: “A
missão médica cubana, que desempenhou um papel importante na detenção da
epidemia, ainda está presente no Haiti e recebe a cada dia a gratidão dos
doadores e dos diplomatas por sua presença nas linhas de frente e por seus
esforços de reconstrução do carcomido sistema de saúde do país”.
Por sua vez, Paul Farmer, enviado
especial das Nações Unidas, salientou que, em dezembro de 2010, quando a
epidemia atingiu seu pico, com uma taxa de mortalidade sem precedentes e o
mundo estava com os olhos em outros lugares, “a metade das ONGs haviam ido
embora, ao passo que os cubanos ainda estavam presentes”. Segundo o Ministério
da Saúde haitiano, os médicos cubanos salvaram mais de 76.000 pessoas nas 67
unidades médicas sob sua responsabilidade, com apenas 272 falecimentos, ou
seja, 0,36%, contra uma taxa de 1,4% no resto do país. Desde dezembro de 2010,
não faleceu nenhum paciente tratado pelos médicos cubanos.
Nações Unidas saúdam uma
política solidária
Segundo o PNUD, a ajuda humanitária
cubana representa, proporcionalmente ao PIB, uma porcentagem superior à média
das 18 nações mais desenvolvidas. Ressalta, em um informe, que:
“A cooperação oferecida por Cuba se
inscreve em um contexto de cooperação Sul-Sul. Não persegue um objetivo de
lucrar, mas, ao contrário, se oferece como a expressão de um princípio de
solidariedade e, na medida do possível, a partir de custos compartilhados. No
entanto, durante anos, Cuba proporcionou ajuda de qualidade com doações aos
países mais pobres, e se mostrou muito flexível quanto à forma ou à estrutura
da colaboração […]. Em quase a totalidade dos casos, a ajuda cubana foi
gratuita, ainda que, a partir de 1977, com alguns países de alta renda,
principalmente os petroleiros, se desenvolveu uma cooperação sob uma forma de
compensação. O desenvolvimento elevado que Cuba alcançou nos campos da saúde,
educação e esporte fizeram com que a cooperação contemplasse esses setores,
ainda que tenha havido uma participação em outras áreas, como, por exemplo,
a construção, a pesca e a agricultura”.
O internacionalismo humanitário
elaborado por Cuba demonstra que a solidariedade pode ser um vetor fundamental
nas relações internacionais. Assim, uma pequena nação do Terceiro Mundo com
recursos limitados e vítima de um estado de sítio sem precedentes por parte dos
Estados Unidos consegue reunir os recursos necessários para ajudar os mais
pobres e oferece ao mundo um exemplo, como diria o herói nacional cubano José
Martí, que Pátria pode ser Humanidade.
* Doutor em Estudos Ibéricos e
Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é
professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas
relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado The
economic war against Cuba. A historical and legal perspective on the U.S.
Blockade (A guerra econômica contra Cuba. Uma perspectiva histórica e legal
sobre o bloqueio norte-americano), Nova York, Monthly Review Press, 2013, com
um prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
Contato: lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr
Página Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
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