16 junho 2013, Vermelho
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No seguimento da série resumos do Portal Vermelho, sobre as intervenções de representantes de partidos comunistas no seminário “A China no Século 21: Presente e Futuro", leia a seguir a fala do secretário internacional do Partido Comunista da África do Sul, Chris Mathlako, sobre o papel da República Popular da China socialista no continente africano.
A realização do seminário sobre a China é uma questão conjuntural,
particularmente importante para as relações Sul-Sul, e ainda mais para o
continente africano.
Partimos da confirmação de que o engajamento da República
Popular da China no continente e com o continente não é “imperialista” nem uma
ameaça aos interesses da África, como alguns comentadores da mídia ocidental e
de outras regiões querem nos fazer crer.
Pensamos
que essa relação é confrontada com algumas contradições, que podem ser
superadas, por um lado, ou vistas como elementos potenciais para catalisar a
aspiração há muito tida pela África de tornar a independência significativa
para a maioria da sua população. E isso pode contribuir com a retirada do
continente de um abismo, através de uma relação mutuamente benéfica, baseada no
respeito, valores compartilhados derivados dos laços históricos que ligam os
povos dessas áreas.
A polêmica que opõe o socialismo chinês à alegação de que o país está embarcando em uma transição capitalista, através de um “socialismo de mercado”, não será resolvida em breve. Mas isso requer que também prestemos atenção às condições materiais conjunturais e busquemos o sentido disso, o que nos ajudará a compreender a conexão complexa que está ocorrendo na China e através das suas interações no exterior.
Este seminário também acontece pouco depois da Cimeira do Brics (agrupamento composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em março, cujo resultado inclui o acordo para o estabelecimento do Banco de Desenvolvimento do Brics. Entretanto, houve rumores de que o banco não funcionará, ou será uma repetição de instituições que já existem, como o Banco Africano de Desenvolvimento, o FMI e o Banco Mundial.
Além disso, também aconteceu recentemente a cimeira que marcou o 50º aniversário do estabelecimento da Organização da Unidade Africana, hoje União Africana (desde 2002). A República Popular da China (RPC), ironicamente, também esteve envolvida, de uma forma ou de outra, nesses desenvolvimentos, e continua a desempenhar um papel predominante atualmente. Na verdade, a China e a África encontram-se desde a Conferência de Bandung, de 1955, quando delineou-se as aspirações dos povos do Sul e desenhou-se as bases do Movimento dos Não-Alinhados.
O engajamento entre a África do Sul democrática e a RPC foi traduzida para uma política governamental quando o Congresso Nacional Africano tornou-se o governo em 1994. Com o passar dos anos, os lações e relações foram crescendo para serem considerados por ambos os países uma “parceria abrangente e estratégica”.
De forma interessante, a China classifica a sua política exterior como uma de “paz, desenvolvimento e cooperação, aderindo a uma política externa independente de paz para lidar apropriadamente com as relações internacionais, e está se tornando uma cada vez mais importante para o progresso da humanidade”, de acordo com a filosofia chinesa para as relações exteriores.
China, a alternativa da paz ao imperialismo
O continente africano tem experimentado rivalidades intra-imperialistas, contradições e militarismo imperialista devido aos seus recursos minerais e petrolíferos. Os Estados Unidos são simpáticos a forjar um hospedeiro no continente para o Comando Estados Unidos-África (Africom, um dos nove comandos unificados dos EUA), enquanto intervenções recentes na Líbia e no Mali mostraram que, onde seu interesse converge, o imperialismo cooperará, mas onde divergem, tomará rumos distintos: a intervenção da França no Mali é apenas um exemplo da divergência de interesses do imperialismo no continente.
A maior parte da Europa, que teve ligações coloniais com a África, tenta forjar relações mais profundas com aquelas regiões e/ou antigas colônias, mas continuam nas mesmas linhas antigas de garantir laços desiguais econômicos e de comércio, através da política dos incentivos e condicionamentos [carrots and sticks, na expressão em inglês, que se refere a medidas recompensadoras contrapostas a medidas de punição ou condicionamento, patentes na política internacional imperialista e colonialista].
Assim, apresentam a China como o “dragão” que toma o continente, através da lógica dos antigos colonizadores e das nações poderosas, o que sugere que a África não pode buscar políticas alternativas (ao neoliberalismo) e uma trajetória de crescimento que não considera um papel e um lugar das nações poderosas. No contexto da crise econômica e financeira, no centro épico do capitalismo, outros caracterizaram a presença da China como uma tentativa de desenvolver sua postura geopolítica, com o argumento de que se trata de “interesses comerciais pragmáticos, mas o fator de peso e fundamental apoiando essa política externa é a geopolítica”. De acordo com a tese, Pequim “busca ganhar amigos, construir alianças, projetar a sua influência e ser reconhecida como a grande potência emergente que é”.
No Ocidente, a China é retratada como o glutão pelo petróleo da África e outros recursos. De fato, houve algumas contradições em algumas áreas de operação do capital chinês, como a Zâmbia. Neste caso, alguns governos que recebem a assistência e investimentos da China estão desesperados para aumentar suas reservas domésticas limitadas através da mobilização de recursos externos. No processo, muitos deles estenderam incentivos excessivamente generosos a investidores estrangeiros (chineses), o que significou que, a curto e médio-prazo, os cidadãos não conseguiram ver vantagens na hospitalidade a esses investidores. Essa contradição cristaliza a fragmentação do capital chinês (privado e estatal) no continente.
Há muitos aspectos para criticar com relação à presença chinesa na África. Mas os aspectos positivos são os que conduzem as relações, em contraposição às relações entre as metrópoles ocidentais e suas antigas colônias. De acordo com a liderança chinesa, “no século 21, a China continuará a implementar sua política externa independente de paz com o objetivo de manter a paz mundial e promover o desenvolvimento comum e encorajar a cooperação para construir um mundo harmonioso”. Isso será crítico para garantir que os países africanos sejam capazes de transcender períodos de conflito e entrar em um período de estabilidade, crescimento e desenvolvimento.
Por isso, acreditamos que a China deve e vai, em breve, elaborar a sua política externa de maneira mais “ativista”, para assegurar a paz a todos, particularmente nas regiões do mundo em que a maioria dos trabalhadores ainda estão sob o jugo da agressão imperialista e da dominação hegemônica das nações poderosas.
A China deve ser mais proativa na esfera dos assuntos mundiais e contribuir para o multilateralismo, como previsto em suas bases filosóficas para a política externa. A RPC, juntamente com outras nações do Sul, tem grandes responsabilidades com relação ao desenvolvimento pacífico e às relações mutuamente benéficas, e terá que emergir assim quando a hora chegar.
A polêmica que opõe o socialismo chinês à alegação de que o país está embarcando em uma transição capitalista, através de um “socialismo de mercado”, não será resolvida em breve. Mas isso requer que também prestemos atenção às condições materiais conjunturais e busquemos o sentido disso, o que nos ajudará a compreender a conexão complexa que está ocorrendo na China e através das suas interações no exterior.
Este seminário também acontece pouco depois da Cimeira do Brics (agrupamento composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em março, cujo resultado inclui o acordo para o estabelecimento do Banco de Desenvolvimento do Brics. Entretanto, houve rumores de que o banco não funcionará, ou será uma repetição de instituições que já existem, como o Banco Africano de Desenvolvimento, o FMI e o Banco Mundial.
Além disso, também aconteceu recentemente a cimeira que marcou o 50º aniversário do estabelecimento da Organização da Unidade Africana, hoje União Africana (desde 2002). A República Popular da China (RPC), ironicamente, também esteve envolvida, de uma forma ou de outra, nesses desenvolvimentos, e continua a desempenhar um papel predominante atualmente. Na verdade, a China e a África encontram-se desde a Conferência de Bandung, de 1955, quando delineou-se as aspirações dos povos do Sul e desenhou-se as bases do Movimento dos Não-Alinhados.
O engajamento entre a África do Sul democrática e a RPC foi traduzida para uma política governamental quando o Congresso Nacional Africano tornou-se o governo em 1994. Com o passar dos anos, os lações e relações foram crescendo para serem considerados por ambos os países uma “parceria abrangente e estratégica”.
De forma interessante, a China classifica a sua política exterior como uma de “paz, desenvolvimento e cooperação, aderindo a uma política externa independente de paz para lidar apropriadamente com as relações internacionais, e está se tornando uma cada vez mais importante para o progresso da humanidade”, de acordo com a filosofia chinesa para as relações exteriores.
China, a alternativa da paz ao imperialismo
O continente africano tem experimentado rivalidades intra-imperialistas, contradições e militarismo imperialista devido aos seus recursos minerais e petrolíferos. Os Estados Unidos são simpáticos a forjar um hospedeiro no continente para o Comando Estados Unidos-África (Africom, um dos nove comandos unificados dos EUA), enquanto intervenções recentes na Líbia e no Mali mostraram que, onde seu interesse converge, o imperialismo cooperará, mas onde divergem, tomará rumos distintos: a intervenção da França no Mali é apenas um exemplo da divergência de interesses do imperialismo no continente.
A maior parte da Europa, que teve ligações coloniais com a África, tenta forjar relações mais profundas com aquelas regiões e/ou antigas colônias, mas continuam nas mesmas linhas antigas de garantir laços desiguais econômicos e de comércio, através da política dos incentivos e condicionamentos [carrots and sticks, na expressão em inglês, que se refere a medidas recompensadoras contrapostas a medidas de punição ou condicionamento, patentes na política internacional imperialista e colonialista].
Assim, apresentam a China como o “dragão” que toma o continente, através da lógica dos antigos colonizadores e das nações poderosas, o que sugere que a África não pode buscar políticas alternativas (ao neoliberalismo) e uma trajetória de crescimento que não considera um papel e um lugar das nações poderosas. No contexto da crise econômica e financeira, no centro épico do capitalismo, outros caracterizaram a presença da China como uma tentativa de desenvolver sua postura geopolítica, com o argumento de que se trata de “interesses comerciais pragmáticos, mas o fator de peso e fundamental apoiando essa política externa é a geopolítica”. De acordo com a tese, Pequim “busca ganhar amigos, construir alianças, projetar a sua influência e ser reconhecida como a grande potência emergente que é”.
No Ocidente, a China é retratada como o glutão pelo petróleo da África e outros recursos. De fato, houve algumas contradições em algumas áreas de operação do capital chinês, como a Zâmbia. Neste caso, alguns governos que recebem a assistência e investimentos da China estão desesperados para aumentar suas reservas domésticas limitadas através da mobilização de recursos externos. No processo, muitos deles estenderam incentivos excessivamente generosos a investidores estrangeiros (chineses), o que significou que, a curto e médio-prazo, os cidadãos não conseguiram ver vantagens na hospitalidade a esses investidores. Essa contradição cristaliza a fragmentação do capital chinês (privado e estatal) no continente.
Há muitos aspectos para criticar com relação à presença chinesa na África. Mas os aspectos positivos são os que conduzem as relações, em contraposição às relações entre as metrópoles ocidentais e suas antigas colônias. De acordo com a liderança chinesa, “no século 21, a China continuará a implementar sua política externa independente de paz com o objetivo de manter a paz mundial e promover o desenvolvimento comum e encorajar a cooperação para construir um mundo harmonioso”. Isso será crítico para garantir que os países africanos sejam capazes de transcender períodos de conflito e entrar em um período de estabilidade, crescimento e desenvolvimento.
Por isso, acreditamos que a China deve e vai, em breve, elaborar a sua política externa de maneira mais “ativista”, para assegurar a paz a todos, particularmente nas regiões do mundo em que a maioria dos trabalhadores ainda estão sob o jugo da agressão imperialista e da dominação hegemônica das nações poderosas.
A China deve ser mais proativa na esfera dos assuntos mundiais e contribuir para o multilateralismo, como previsto em suas bases filosóficas para a política externa. A RPC, juntamente com outras nações do Sul, tem grandes responsabilidades com relação ao desenvolvimento pacífico e às relações mutuamente benéficas, e terá que emergir assim quando a hora chegar.
Leia
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Resumo
e tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho
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