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Encontro
entre ministros das relações exteriores dos dois países foi marcado pelo avanço
da cooperação nos mais diversos setores. Também foi discutida a postura de
ambos diante do conflito na Síria, que já se estende por mais de dois anos.
O intercâmbio comercial da
Federação Russa com o Brasil deverá alcançar US$ 10 bilhões anuais a curto
prazo. A expectativa russa de um forte aumento nos negócios com o maior
parceiro comercial na América Latina é baseada na
venda de insumos e
equipamentos da área de energia, nuclear e fóssil principalmente, aeroespacial,
tecnologia de ponta, química e fertilizantes.
O Brasil, em contrapartida,
concentra suas fichas na soja e nas carnes bovina, suína e de frango. Com isso,
a corrente de comércio entre os dois países, de US$ 5,93 bilhões ano passado,
praticamente dobrará no máximo até o final da década. A previsão veio a público
no encontro entre os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota,
e da Federação Russa, Serguei Lavrov, no último dia 12.
O chanceler russo lembrou a
discussão da presidente Dilma Rousseff com o colega russo, Vladímir Pútin,
sobre a compra do sistema de defesa antiaérea Pantsir para uso na Copa do Mundo
e nas Olimpíadas. O seu par brasileiro, contudo, evitou confirmar o prazo das
negociações, mas lembrou a visita de uma delegação do Ministério da Defesa
russo em outubro próximo.
Patriota destacou a frequência das
reuniões de alto nível entre os dois países, a mais recente na visita do
primeiro ministro russo, Dmítri Medvedev, ao Brasil em fevereiro. Recebido pelo
vice-presidente da República, Michel Temer, Medvedev retribuiu a visita da
presidente Dilma Rousseff à Rússia em dezembro do ano passado. O chanceler
brasileiro lembrou os longos encontros bilaterais à margem da Assembleia Geral
da ONU, em setembro, e da reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China,
África do Sul), para calçar seu otimismo quanto aos desdobramentos da Comissão
Intragovernamental de Comércio, Investimentos e Cultura.
No ano que vem, serão abertos um
Centro de Cultura Russa no Brasil e um Centro de Cultura Brasileira na Rússia,
com dias de divulgação da cultura de cada país no coirmão.
De olho no futuro
A Rússia deverá ser incluída como
destino do Ciência Sem Fronteiras, programa de bolsas que estimula estudantes
brasileiros a cursar graduações, mestrados e doutorados no exterior. Técnicos
brasileiros e russos poderão se beneficiar de programas de capacitação em
Recursos Humanos, focados em atividades nas quais os dois países mostram
competitividade internacional e interesses comuns, como mineração, siderurgia e
petróleo.
O Brasil apoia as prioridades
traçadas pela Rússia como anfitriã do encontro do G20 em setembro deste ano. A
reforma no sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI), com o fim
da concentração excessiva nos Estados Unidos e na União Europeia pelo reforço
da participação financeira e do correspondente poder de voto dos países
emergentes, é um ponto defendido enfaticamente pela Rússia, junto a políticas
de incentivo ao desenvolvimento.
O chanceler brasileiro espera
entrosamento semelhante na reunião dos Brics em Fortaleza, no início do ano que
vem. Patriota espera avanços no tão falado Banco dos Brics, focado no financiamento
do comércio e no desenvolvimento econômico dos países do grupo. O chanceler
mostrou otimismo também quanto à criação de mecanismos de socorro mútuo entre
os integrantes do grupo, pelo arranjo das reservas monetárias e cambiais. O
colega russo, por sua vez, destacou a expectativa favorável quanto à atuação
brasileira como anfitrião do G8.
Questão síria
Os dois chanceleres procuraram
demonstrar entrosamento nos comentários sobre a crise na Síria. Não há solução
militar para o confronto entre Bashir al-Assad e seus opositores apoiados pelo
Ocidente na avaliação das diplomacias brasileira e russa. Ambas apoiam a
convocação de uma nova Convenção em Genebra, reunindo governo, oposição e
respectivos aliados. Serguêi Lavrov mostrou simpatia quanto à pretensão
brasileira de integrar a nova convenção, mas procurou demarcar prioridades
anteriores.
O chanceler russo reprisou a
necessidade de o Irã e o Egito serem incorporados à discussão, deixando clara
com isso sua discordância da posição americana.
A Rússia insiste no caminho
político para a superação do impasse na Síria. Armar os rebeldes, de forma a
equilibrar o poderio com as forças leais a Assad, resultaria numa escalada
armamentista. É preciso um acordo para a manutenção da soberania e integridade
territorial dos principais países da região, com respeito à diversidade entre
os grupos étnicos e religiosos. Lavrov destacou que o Brasil mostrou grande
afinidade com a Rússia na questão palestina, nos conflitos árabe-israelenses e
na questão africana.
O chanceler russo reafirmou a
disposição do governo Pútin de colocar soldados russos à disposição para
integrar as Forças da Paz da ONU nas Colinas de Golam. Um protocolo de 1974
prevê que países fronteiriços ou membros permanentes do Conselho de Segurança
(caso da Rússia) não devem integrar essas forças, os chamados 'capacetes
azuis'. Lavrov, contudo, avalia que protocolo pode ser substituído, se houver
consenso entre Israel e Síria. “Nossa iniciativa não é para aumentar a
influência na região, mas para garantir a paz. A experiência em Golam tem sido
positiva, não houve escalada do conflito por lá, é importante evitar que se use
a área como base de ataques de parte a parte”, explicou, lembrando a tentativa
de segmentos da oposição síria de estabelecer bases por lá.
Eventos esportivos
A cooperação entre os dois países
será estendida aos megaeventos, pois o Brasil sediará a Copa do Mundo de 2014 e
os Jogos Olímpicos Rio 2016, enquanto a Rússia organizará as Olímpiadas de
Inverno de 2014 e a Copa do Mundo de 2018.Como parte dessa cooperação no
terreno esportivo, o Brasil instalou uma Escola de Futebol em Krasnodar. Lavrov
prometeu uma contrapartida russa para o ano que vem, com o envio para o Brasil
de técnicos de hóquei sobre o gelo, esporte que começa a ganhar adeptos no
interior paulista.
Patriota repetiu o apoio brasileiro
à convocação de uma Conferência de Paz. No último encontro com a secretaria
geral da ONU, ficou acertada nova rodada para o próximo dia 25. Nos encontros
prévios, a perspectiva é de chegar-se a um acerto sobre a representação da
oposição síria, superando o impasse em torno dos segmentos fora da Coalizão
Nacional, como o Exército Livre da Síria e os curdos.
A pauta inclui ainda a presença ou
não de países outros que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança
da ONU (Rússia, China, EUA, Reino Unido e França). “A presença do IBAS (Índia,
Brasil, África do Sul) no Conselho de Segurança, com seus integrantes acolhidos
como membros provisórios ao mesmo tempo, contribuiu para a busca de novos horizontes
diplomáticos na região”, argumentou Patriota.
O ministro brasileiro reafirmou as
principais posições do país, como a condenação simultânea das violações de
direitos humanos pelo regime sírio e da atuação de grupos extremistas que
dificultam o entendimento diplomático.
A Rússia defende a constituição de
um órgão transitório de união nacional, com base no acordo entre a oposição e o
regime sírio. A transferência imediata do poder à oposição não atende aos
princípios de equidade. Lavrov reafirmou a posição russa contrária à criação de
uma zona de exclusão sobre o espaço aéreo sírio. “A Conferência não pode ser só
para legitimar uma intervenção militar”, advertiu.
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