27
junho 2013, Correio do Brasil http://correiodobrasil.com.br (Brasil)
Por Redação - de São Paulo
Ex-presidente da República e um dos
principais atores políticos da esquerda brasileira, Luiz Inácio Lula da
Silva assume, definitivamente, o seu papel de liderança nos movimentos sociais
que tomaram as ruas do país, em uma série de manifestações que chega à sua
segunda semana. De sua base, na sede do Instituto Lula, nesta capital, o
principal aliado da presidenta Dilma Rousseff na elaboração de uma agenda
política para a realização de um plebiscito, provavelmente em agosto,
intensifica os encontros com os movimentos sociais mais próximos do Partido dos
Trabalhadores (PT).
No mais recente encontro, na
véspera, com jovens de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), a União da Juventude Socialista (UJS), o Levante Popular da
Juventude e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve),
Lula ofereceu o
diapasão para afinar o discurso dos movimentos sociais. Em lugar da esperada
mensagem de conciliação e o pedido de calma aos manifestantes, o momento é de
“ir para a rua”, afirmou o ex-presidente. A reunião, no bairro do Ipiranga, em
São Paulo não contou com a presença do Movimento Passe Livre (MPL), nem do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
– O (ex-)presidente queria entender
essa onda de protestos e avaliou muito positivamente o que está acontecendo nas
ruas – disse a jornalistas André Pereira Toranski, dirigente da UJS, que conta
majoritariamente com militantes do PCdoB.
Outro participante do encontro, que
preferiu o anonimato, afirma que Lula “colocou que é hora de trabalhador e
juventude irem para a rua para aprofundar as mudanças.
Enfrentar a direita e empurrar o
governo para a esquerda. Ele agiu muito mais como um líder de massa do que como
governo. Não usou essas palavras, mas disse algo com ‘se a direita quer luta de
massas, vamos fazer lutas de massas”.
Em nota publicada em seu perfil na
rede social Facebook, na última quinta-feira, Lula já se mostrava favorável às manifestações
ocorridas desde o último dia 13 em várias cidades do Brasil: “Ninguém em sã
consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a
democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em
busca de novas conquistas”, declarou.
Em São Paulo, Lula apoiou a
negociação entre o governo e os manifestantes, que reclamavam do aumento no
preço da passagem de ônibus. Na ocasião, o ex-presidente demonstrou confiança
no trabalho do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ministro da Educação
durante seu governo.
– Estou seguro, se bem conheço o
prefeito Fernando Haddad, que ele é um homem de negociação. Tenho certeza que
dentre os manifestantes, a maioria tem disposição de ajudar a construir uma
solução para o transporte urbano – afirmou. Apenas alguns dias depois, Haddad
revogou o aumento de R$ 0,20 no preço da passagem.
Plebiscito
De sua parte, a presidenta Dilma
também seguiu os conselhos do amigo e antecessor no cargo e vem promovendo,
desde o início desta semana, uma série de encontros com os movimentos sociais.
Na véspera, Dilma recebeu os representantes de oito centrais sindicais e
dedicou 40 minutos da reunião para explicar aos dirigentes como serão norteadas
as ações para os cinco pactos anunciados pelo governo – com vistas à melhoria
dos serviços públicos – e destacou a importância de ser convocado um plebiscito
no país para discussão da reforma política. Embora a presidenta não tenha sido
explícita no apelo às centrais, a sua fala na abertura do encontro foi vista
pela maior parte dos presentes como uma forma de pedir o apoio das entidades
para as medidas divulgadas nos últimos dias.
A presidenta admitiu que é preciso
aprimorar a interlocução com as centrais e disse concordar com as críticas das
ruas sobre a qualidade dos serviços públicos. Afirmou, ainda, que a pressão das
mobilizações está correta e ajuda na transformação do país.
Participaram do encontro
representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores
(UGT), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Força Sindical, bem como
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), CSP-Conlutas e Central dos
Sindicatos Brasileiros (CSB), além de técnicos do Dieese.
Os sindicalistas apresentaram os
principais itens definidos na pauta traçada nos últimos dias com solicitações
ao governo, tais como melhorias na qualidade do transporte público e redução
das tarifas, mais investimentos na educação e na saúde, retirada de tramitação,
no Congresso, do Projeto de Lei 4.330 – referente à regulamentação das
atividades de terceirização, fim do fator previdenciário e aumento dos valores
das aposentadorias, reforma agrária e redução da jornada de trabalho para 40
horas semanais. Dilma deixou claro que essa pauta será negociada como um todo e
que o governo apresentará uma resposta até agosto.
Mesmo lembrando que alguns desses
temas precisam ser discutidos e negociados no Congresso e ressaltando a
importância de as centrais participarem dessas negociações, a presidenta
assegurou, no que se refere ao PL 4.330, que embora não possa vir a vetar o projeto
inteiro, não deixará que sejam retirados direitos dos trabalhadores. Além
disso, ela enfatizou que não aprovará qualquer projeto sem que exista acordo
entre trabalhadores, empregadores e governo e que atenderá à reivindicação das
centrais de estabelecer um canal de diálogo permanente, conforme relatou, ao
final do encontro, o presidente da CUT, Vagner Freitas.
– A reunião não teve o objetivo de
discutir a pauta dos trabalhadores e sim o atual momento político do Brasil.
Colocamos para a presidenta que é preciso levar em consideração, nesse debate,
os interesses dos trabalhadores organizados. Foi um espaço para que
discutíssemos o que está acontecendo e como devemos fazer para que o movimento
crie propostas progressistas – afirmou Freitas.
Durante sua fala à presidenta no
encontro, o dirigente da CUT ponderou que as melhorias nos serviços pleiteados
pela população só existirão com o investimento na rede pública.
– O governo tem de se debruçar
sobre a saúde, transporte, educação e segurança pública de qualidade. Não
adianta querer melhorar privatizando. Apontamos que a resposta tem de vir do
Estado e ela (a presidenta) concordou – disse, ao sair do Palácio do Planalto.
No próximo dia 11, as centrais
prometem ir às ruas em todo o país pela aprovação de sua pauta de
reivindicações.
Das ruas às urnas
Para Luiz Carlos Antero, jornalista
e escritor, colunista e membro da Equipe de Pautas Especiais do sítio
Vermelho.org, o plebiscito pela reforma política é uma das propostas que “podem
surtir um maior impacto”. Em um debate mais amplo, segundo o analista, “pode
contribuir para uma maior participação popular e para aprofundar a democracia
no Brasil, destacando-se em especial aspectos como o do financiamento público
de campanhas”.
“Entretanto, ainda mais que compreender
o que se passa no Brasil no atual momento, é indispensável e urgente o esforço
da apresentação de um afirmativo e unitário programa popular e democrático
enquanto fio condutor das lutas de rua — para as quais qualquer pauta
institucional e toda pausa na movimentação terá um sentido provisório e
cumulativo, distante do improvável êxito do pensamento ou desejo de uma nova
acomodação” afirma.
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