19 junho 2013, Radio Moçambique http://www.rm.co.mz
Um livro sobre as relações entre
Moçambique e a África do Sul acaba de ser lançado em Maputo, no que é visto
como um contributo para que ambas nações continuem a construir relações viradas
para o bem comum dos dois países.
Da autoria da diplomata Thandi
Lujabe-Rankoe, a obra, “Two Nations One Vision” (Duas nações, uma visão) aborda
vários aspectos da trajectória comum dos dois países, sempre com enforque na
multiplicidade de relações que vêm sendo construídas desde tempos passados.
A autora, tratada carinhosamente
por Mama Thandi, foi alta comissária da República da África do Sul no nosso
país por sete anos até 2009, período em que – disse ela numa entrevista ao
“Notícias” – conseguiu, juntamente com responsáveis do Governo moçambicano,
criar bases para que a cooperação continuasse sólida e atingisse estágios mais
satisfatórios a ambas partes. “Este livro celebra uma certa vitória entre
sul-africanos e moçambicanos. Pelo muito de comum que temos, por exemplo o
facto de juntos termos enfrentado períodos difíceis, conseguimos atingir um
estágio em que podemos conjuntamente para consolidar coisas boas”, afirma,
referendo-se especificamente ao passado em que, por ter apoiado a causa dos
sul-africanos de se libertarem do apartheid, o nosso país foi vítima de ataques
sistemáticos por aquele regime. “Depois do apartheid, para cujo fim Moçambique
contribuiu imenso ao hospedar os nossos combatentes pela liberdade aqui e a
dar-lhes de forma incondicional todo o apoio e tudo em nome da erradicação de
um regime que causava tanto mal ao nosso povo, aos vizinhos e ao mundo”,
complementa.
Em “Two Nations One Vision”, a
diplomata sul-africana faz uma incursão pelo seu tempo de alta comissária no
nosso país e percorre algumas páginas da história dos dois países, dando a sua
visão sobre acontecimentos como o raid das tropas sul-africanas à Matola contra
alvos do ANC ou a 30 de Janeiro de 1981, a morte de Samora Machel a 19 de
Outubro de 1986.
Sobre o ataque do apartheid, que
matou 12 “freedom fighters” (combatentes da liberdade, como eram chamados)
sul-africanos, Thandi Lujabe-Rankoe afirma ter sido dos mais significativos
acontecimentos na luta contra o apartheid. “Ao ponto de perseguirem os nossos
camaradas aonde estivessem, as autoridades do apartheid provavam que realmente
a nossa luta lhes estava a causar muitas dores de cabeça. Nós, por nossa vez,
nos sentíamos mais honrados em dar de nós pela liberdade no nosso país.
Lujabe-Rankoe é também veterana da
luta anti-apartheid. Ele foi sobrevivente em Gaberone, Botswana, de um raide
idêntico ao que vitimou 12 dos seus compatriotas na Matola. Diz recordar-se
“como ontem”, na medida em que escapou “por milagre”. “Eu era responsável por
vários camaradas no Botswana, a 15 de Junho de 1985.
Suspeitávamos que seríamos
atacados, tal é o trabalho que fazia com alguns companheiros. Por causa dessas
suspeitas chegámos a nos mudar das casas que ocupávamos, mas quando baixou o
nível de alerta, sem que houvesse suspeita, fomos severamente atacados pelo
regime (do apartheid). Foi duro sofrer aquelas baixas”, recorda.
Depois do ataque teve que deixar o
Botswana, rumando daí ao Zimbabwe e à Zâmbia.
Os contactos da diplomata com
Moçambique remontam do tempo da guerra para libertação do nosso país das mãos
do colonialismo português. Conta ela que conheceu muitos homens e mulheres da
geração de compatriotas que a partir da Tanzania viriam a desencadear a luta.
Isso porque ela também esteve exilada naquele país. “Tanto a FRELIMO como o ANC
tinham escritórios na Tanzania. Durante esse tempo conheci muitos dos camaradas
da FRELIMO, com quem voltaria a encontrar e trocar impressões nos tempos em que
trabalhei aqui. O que posso dizer é que partilhamos uma história comum e que
conjuntamente também lutamos pelos nossos objectivos comuns, pelos objectivos
comuns do nosso povo.
Quanto às relações entre Moçambique
e a África do Sul, Mama Thandi, como é carinhosamente tratada tanto na sua
África do Sul como em Moçambique, fala de um caminho que produziu muito mas com
muito mais para produzir. “Em todos os domínios produzimos muito. Posso dar
exemplos a nível económico, com acordos laborais, a abertura do Corredor de
Desenvolvimento de Maputo ou mesmo o turismo; como no social, em que a
mobilidade das pessoas é um facto por via da abolição de vistos de entrada. O
que eu posso dizer é que as autoridades dos dois países podem continuar a
consolidar e a desenvolver mais”, conta.
O prefácio de “Two Nations One
Vision” foi escrito por Leonardo Simão, ministro dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação nos tempos de Thandi Lujabe-Rankoe em Maputo.
Simão descreve o livro como um
tributo ao seu papel em prol do trabalho que os dois estados desenvolveram a
partir de então.
Lujabe-Rankou vive actualmente em
Joanesburgo, onde desenvolve uma importante contribuição intelectual
principalmente a nível diplomático. Paralelamente à actividade, vem
regularmente a Moçambique para – conforme diz – alimentar o amor que nutre pelo
nosso país.
Este foi é seu segundo livro,
depois de “A Dream Fulfilled: memories of na African diplomat”, sobre os vários
anos que tem de diplomacia activa. Para além de Moçambique, ela trabalhou, no
pós-apartheid, na Tanzania, nomeada por Nelson Mandela.
Leia aqui: Sekoto,
pai da arte moderna sul-africana
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