segunda-feira, 24 de junho de 2013

Livro/TWO NATIONS ONE VISION: A TRAJECTÓRIA COMUM DE MOÇAMBIQUE E ÁFRICA DO SUL



19 junho 2013, Radio Moçambique http://www.rm.co.mz

Um livro sobre as relações entre Moçambique e a África do Sul acaba de ser lançado em Maputo, no que é visto como um contributo para que ambas nações continuem a construir relações viradas para o bem comum dos dois países.

Da autoria da diplomata Thandi Lujabe-Rankoe, a obra, “Two Nations One Vision” (Duas nações, uma visão) aborda vários aspectos da trajectória comum dos dois países, sempre com enforque na multiplicidade de relações que vêm sendo construídas desde tempos passados.

A autora, tratada carinhosamente por Mama Thandi, foi alta comissária da República da África do Sul no nosso país por sete anos até 2009, período em que – disse ela numa entrevista ao “Notícias” – conseguiu, juntamente com responsáveis do Governo moçambicano, criar bases para que a cooperação continuasse sólida e atingisse estágios mais satisfatórios a ambas partes. “Este livro celebra uma certa vitória entre sul-africanos e moçambicanos. Pelo muito de comum que temos, por exemplo o facto de juntos termos enfrentado períodos difíceis, conseguimos atingir um estágio em que podemos conjuntamente para consolidar coisas boas”, afirma, referendo-se especificamente ao passado em que, por ter apoiado a causa dos sul-africanos de se libertarem do apartheid, o nosso país foi vítima de ataques sistemáticos por aquele regime. “Depois do apartheid, para cujo fim Moçambique contribuiu imenso ao hospedar os nossos combatentes pela liberdade aqui e a dar-lhes de forma incondicional todo o apoio e tudo em nome da erradicação de um regime que causava tanto mal ao nosso povo, aos vizinhos e ao mundo”, complementa.

Em “Two Nations One Vision”, a diplomata sul-africana faz uma incursão pelo seu tempo de alta comissária no nosso país e percorre algumas páginas da história dos dois países, dando a sua visão sobre acontecimentos como o raid das tropas sul-africanas à Matola contra alvos do ANC ou a 30 de Janeiro de 1981, a morte de Samora Machel a 19 de Outubro de 1986.

Sobre o ataque do apartheid, que matou 12 “freedom fighters” (combatentes da liberdade, como eram chamados) sul-africanos, Thandi Lujabe-Rankoe afirma ter sido dos mais significativos acontecimentos na luta contra o apartheid. “Ao ponto de perseguirem os nossos camaradas aonde estivessem, as autoridades do apartheid provavam que realmente a nossa luta lhes estava a causar muitas dores de cabeça. Nós, por nossa vez, nos sentíamos mais honrados em dar de nós pela liberdade no nosso país.

Lujabe-Rankoe é também veterana da luta anti-apartheid. Ele foi sobrevivente em Gaberone, Botswana, de um raide idêntico ao que vitimou 12 dos seus compatriotas na Matola. Diz recordar-se “como ontem”, na medida em que escapou “por milagre”. “Eu era responsável por vários camaradas no Botswana, a 15 de Junho de 1985.

Suspeitávamos que seríamos atacados, tal é o trabalho que fazia com alguns companheiros. Por causa dessas suspeitas chegámos a nos mudar das casas que ocupávamos, mas quando baixou o nível de alerta, sem que houvesse suspeita, fomos severamente atacados pelo regime (do apartheid). Foi duro sofrer aquelas baixas”, recorda.

Depois do ataque teve que deixar o Botswana, rumando daí ao Zimbabwe e à Zâmbia.
Os contactos da diplomata com Moçambique remontam do tempo da guerra para libertação do nosso país das mãos do colonialismo português. Conta ela que conheceu muitos homens e mulheres da geração de compatriotas que a partir da Tanzania viriam a desencadear a luta. Isso porque ela também esteve exilada naquele país. “Tanto a FRELIMO como o ANC tinham escritórios na Tanzania. Durante esse tempo conheci muitos dos camaradas da FRELIMO, com quem voltaria a encontrar e trocar impressões nos tempos em que trabalhei aqui. O que posso dizer é que partilhamos uma história comum e que conjuntamente também lutamos pelos nossos objectivos comuns, pelos objectivos comuns do nosso povo.

Quanto às relações entre Moçambique e a África do Sul, Mama Thandi, como é carinhosamente tratada tanto na sua África do Sul como em Moçambique, fala de um caminho que produziu muito mas com muito mais para produzir. “Em todos os domínios produzimos muito. Posso dar exemplos a nível económico, com acordos laborais, a abertura do Corredor de Desenvolvimento de Maputo ou mesmo o turismo; como no social, em que a mobilidade das pessoas é um facto por via da abolição de vistos de entrada. O que eu posso dizer é que as autoridades dos dois países podem continuar a consolidar e a desenvolver mais”, conta.

O prefácio de “Two Nations One Vision” foi escrito por Leonardo Simão, ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação nos tempos de Thandi Lujabe-Rankoe em Maputo.

Simão descreve o livro como um tributo ao seu papel em prol do trabalho que os dois estados desenvolveram a partir de então.

Lujabe-Rankou vive actualmente em Joanesburgo, onde desenvolve uma importante contribuição intelectual principalmente a nível diplomático. Paralelamente à actividade, vem regularmente a Moçambique para – conforme diz – alimentar o amor que nutre pelo nosso país.
 
Este foi é seu segundo livro, depois de “A Dream Fulfilled: memories of na African diplomat”, sobre os vários anos que tem de diplomacia activa. Para além de Moçambique, ela trabalhou, no pós-apartheid, na Tanzania, nomeada por Nelson Mandela.


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