19 junho
2013, Soletrando a liberdade! http://soletrandoaliberdade.blogspot.com.br (Brasil)
Por Caio Botelho
Desde a
semana passada grandes mobilizações estão sacudindo o Brasil. Inicialmente se
tratavam de protestos contra o aumento na tarifa de ônibus, metrô e trem na
cidade de São Paulo, mas que se tornaram nacionais e resultaram em um movimento
com imensa pluralidade de reivindicações, de todos os tipos. Um dos fatos que
contribuíram para a multiplicação desses atos foi a indignação do povo com a
truculenta reação da Polícia Militar do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB,
contra os que protestavam por um transporte público de qualidade.
Ainda é
impossível fazer avaliações detalhadas sobre o que está acontecendo e, por
vezes, sentimentos contraditórios chegam a ocupar lugar nos corações de muitos
dos que, honestamente, desejam que as lutas de rua não sirvam à outros
interesses senão o de garantir que o Brasil se torne uma nação mais justa. São
em momentos como esses que a capacidade de compreender o contexto em que
estamos inseridos é decisiva e o direito de errar deixa de existir.
Estamos
diante das maiores manifestações que o Brasil presenciou em muitos anos, e
nelas cabem de tudo: desde pautas avançadas até palavras de ordem que beiram o
fascismo.
E a esquerda, as organizações populares, as entidades estudantis e
juvenis progressistas, qual posicionamento devem adotar?
Certamente
não é o de abandonar a nossa juventude em um momento tão importante. Fazer isso
é deixá-la se tornar massa de manobra da mídia e da direita, que sonham em
ressuscitar a "Marcha da Família com Deus pela Propriedade",
repetindo o roteiro que em 1964 desaguou no golpe militar que instaurou um
trágico período de terror em nosso país. Acertadamente, entidades como a UNE,
UBES e UJS optam por participar desse processo, buscando influenciá-lo.
O
caminho, portanto, é a luta de ideias, é a disputa da consciência da sociedade
e a participação ativa em cada um desses grandes atos, sempre com o objetivo de
qualificar as reivindicações e dar consequência às mobilizações. Devemos lutar
para abalar as velhas estruturas, para exigir mais mudanças, para elevar o grau
de consciência política do povo, e isso tudo não combina com fazer o jogo da
direita e, ainda que com um discurso aparentemente radical, jogar água no
moinho dos conservadores.
Muitas
inquietações são justas: nem tudo são flores no processo de organização da Copa
das Confederações e do Mundial de 2014, embora se tratem de eventos importantes
para o país; o governo Dilma precisa ter mais ousadia e colocar o pé no
acelerador para promover mais mudanças; a corrupção em todos os níveis (não
apenas na política) causa enorme prejuízo; e por aí vai. Nesse cenário, cabe
aos setores avançados terem capacidade de dialogar com esses sentimentos, da
mesma forma que cabe ao governo da presidenta Dilma encontrar caminhos que
tragam mais transformações. Ficar parado e fingir que tudo isso não está a
acontecer poderá trazer terríveis consequências à nação.
A tarefa
não é fácil. Com o apoio da grande mídia, buscam desqualificar os partidos
políticos de esquerda. Atacam as bandeiras que, no passado, ajudaram a derrotar
a ditadura para que hoje nós pudéssemos viver um clima de maior liberdade.
Hostilizam legendas que, no presente, participam das lutas populares. Nesse
cenário, é preciso inteligência para não cair em provocações, mas sem
deixar de defender os símbolos pelos quais muitos já tombaram.
Estamos a
presenciar um jogo que ainda está aberto e cujo resultado ainda é impossível de
precisar. Cabe às forças avançadas ter a capacidade de ensinar e aprender com
essa juventude que, sem dúvidas, está mais uma vez a imprimir as suas digitais
em nossa história.
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