25
junho 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Por Altamiro Borges
Nesta
terça-feira (25), as centrais sindicais brasileiras realizam reunião unitária
para discutir o atual quadro político. Há certo consenso de que os recentes
protestos no país, deflagrados a partir da luta pela redução da tarifa de
transporte, expressam um anseio de mudanças da sociedade. As centrais, porém,
estão atentas à atuação dos grupos de direita, que tentam se aproveitar das
mobilizações para impor as suas bandeiras conservadoras. Elas rejeitam a
postura fascista destes grupos, que agridem partidos de esquerda e entidades
populares que sempre estiveram ao lado da juventude na luta por
transformações profundas no país.
Neste
cenário, as centrais sindicais reafirmam seu compromisso com a defesa da
democracia e rechaçam o golpismo dos setores fascistas. Ao mesmo tempo, elas
analisam que o atual ascenso das mobilizações nas ruas pode propiciar o
avanço da luta por reformas estruturais no país. Daí a necessidade do
conjunto do sindicalismo apresentar a pauta dos trabalhadores. Além da defesa
da democracia, contra qualquer tipo de retrocesso, ela inclui várias
reivindicações que foram aprovadas numa conferência unitária em 2010. Elas
foram encaminhadas à presidenta Dilma Rousseff, mas até hoje não tiveram
retorno positivo.
Entre
outras reivindicações, a pauta inclui a luta pela redução da jornada semanal
de trabalho para 40 horas, sem redução de salários; pela ratificação da
Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe as
demissões imotivadas e representaria um forte impulso para a organização
sindical; pelo fim do fator previdenciário, que penaliza os aposentados e
pensionistas; pela rejeição do projeto de lei em tramitação no Congresso que
amplia a selvageria das terceirizações. A pauta dos trabalhadores está bem
definida e não se confunde com as bandeiras oportunistas levantadas pelas
forças neoliberais e direitistas.
Mas não
basta ter uma pauta bem definida. É preciso aproveitar as oportunidades
concretas, avaliando a correlação de forças e a disposição dos trabalhadores,
para viabilizar sua aplicação. O atual momento pode ser propício para ações
mais ousadas, com os operários ocupando um papel mais protagonista num
cenário político tão conturbado e preocupante. Os trabalhadores fariam ouvir
a sua voz, ao mesmo tempo em que dariam um tranco nas manobras golpistas dos
setores fascistas da sociedade.
Aqui
ouso fazer uma sugestão: com suas heróicas greves no final dos anos 1970, os
metalúrgicos do ABC paulista foram decisivos na luta contra a ditadura e
sabem o valor da democracia. Eles também projetaram a principal liderança
operária, Lula, que iniciou um novo ciclo político no país, com seus avanços
e limitações. Os operários valorizam os avanços recentes, mas não abandonam a
perspectiva de novas conquistas. Não seria este um bom momento para os
metalúrgicos do ABC, apoiados por todas as centrais, tomarem a Via Anchieta
na defesa da democracia, dos avanços conquistados e por mudanças mais
profundas no Brasil?
*****
Reproduzo
abaixo as notas da CUT e da CTB sobre o quadro político:
Nota da
CUT em defesa da democracia
A
Central Única dos Trabalhadores manifesta seu total apoio ao Movimento Passe
Livre que, por ter alcançado o objetivo inicial de revogar o reajuste das
tarifas de transporte coletivo, tomou a decisão nesta sexta-feira (21) de não
mais convocar os atos, que liderou de forma legítima, levando milhares de
pessoas às ruas nos últimos dias.
A CUT
repudia as ações violentas de grupos contrários à democracia que, de forma
oportunista, levaram às ruas pautas conservadoras que apontam para o
retrocesso, o preconceito, a intolerância e estimulam o ódio de classe.
Diante
disso, a CUT orienta seus Sindicatos, Federações, Confederações e militantes
a defender de forma pacífica e organizada, como sempre fizemos, bandeiras
históricas fundamentais para a democracia e o desenvolvimento do país, como
transporte, educação e saúde públicos de qualidade, trabalho decente,
fortalecimento da democracia; reforma política que fortaleça os partidos, a
participação popular e a transparência e democratização nos meios de
comunicação.
Em nota
divulgada nesta sexta-feira (21), o MPL comemorou a vitória popular da
revogação do reajuste e lamentou os episódios isolados de violência,
desencadeados por diversos grupos que não pertencem ao Movimento. Em todas as
declarações, os líderes ressaltam que o MPL é um movimento social
apartidário, mas não antipartidário. A nota repudia ações violentas contra as
organizações partidárias e sindicais que participaram dos atos em todo
Brasil.
A CUT,
ao longo de seus 30 anos, sempre esteve nas ruas e foi uma das principais
protagonistas das transformações na história recente de nosso país, lutando
por democracia e por uma sociedade justa. A derrota da ditadura e a
democracia que conquistamos indo para as ruas se devem à organização e à
responsabilidade que os movimentos social e sindical sempre tiveram. É
incontestável que não há democracia sem partidos, sindicatos e instituições
livres. É a política que organiza a sociedade.
Na
próxima terça-feira (25), a CUT se reunirá com as demais centrais sindicais,
representantes legítimas da classe trabalhadora, para definir uma ação
conjunta em relação às mobilizações. Não podemos permitir que grupos
reacionários direcionem as manifestações para uma agenda conservadora,
contrária aos interesses da classe trabalhadora e da sociedade. Esses grupos
demonstram a clara intenção de desestabilizar o projeto de desenvolvimento
que defendemos e que ajudamos a construir, tentam impor o retrocesso às
conquistas e aos avanços sociais.
A CUT
continua nas ruas em defesa da pauta da classe trabalhadora e da democracia,
contra o conservadorismo. Repudiamos todo e qualquer retrocesso!
São
Paulo, 21 de junho de 2013.
-
Vagner Freitas - presidente nacional da CUT
-
Sérgio Nobre - secretário-geral da CUT
***
Nota da
CTB: Direita se infiltra e busca manipular as manifestações populares
Mais de
um milhão de pessoas, jovens em sua maioria, ocuparam as ruas do país ao
longo dos últimos dias em atos de protesto cujo objetivo inicial era
conquistar a redução das passagens ou transporte público de qualidade e
gratuito. O movimento sindical apoiou as manifestações, em larga medida
espontâneas, que angariaram amplo respaldo e apoio popular e resultaram em
vitórias com a redução dos preços das tarifas de ônibus e Metrô em várias
cidades.
A CTB,
em aliança com as demais centrais sindicais, compreende que a mobilização
popular é essencial para que o país possa avançar em direção a transformações
sociais mais profundas que o povo reclama, com destaque para serviços
essenciais de saúde, educação, moradia, transporte e para as justas
reivindicações da classe trabalhadora.
Todavia,
o movimento vem saindo do seu trilho original, sob a influência de forças
obscuras de direita e da mídia golpista, que buscam manipular as
manifestações espontâneas das massas imprimindo-lhes um sentido político
reacionário com o objetivo de isolar e desmoralizar os partidos e
organizações progressistas e desestabilizar o governo Dilma, abrindo caminho
para o retrocesso neoliberal.
É
visível a infiltração de provocadores de direita no movimento, o recurso a
depredações e à violência gratuita para criar um clima de caos e
ingovernabilidade; as hostilidades grosseiras contra bandeiras de partidos e
centrais sindicais. Na quinta, 20, em Brasília, o Itamaraty, que pratica e
defende uma política externa soberana e democrática, foi alvo de vandalismo e
de uma tentativa de invasão. Alguém duvida de que isto serve a interesses
antinacionais?
Em
função do novo e perigoso rumo que as manifestações vêm tomando o próprio
Movimento pelo Passe Livre (MPL) em São Paulo, que convocou os atos pela
redução da tarifa e transporte gratuito, anunciou a suspensão dos atos
denunciando a infiltração da direita e a presença de neofacistas agredindo
manifestantes. “É inconcebível esta onda oportunista da direita para tomar os
atos para si”, disse Rafael Siqueira, ativista e membro do MPL desde 2006.
Certamente
não é por amor à democracia e ao povo que a mídia golpista, liderada pela
Rede Globo, vem ajudando a convocar as manifestações ao mesmo tempo em que
instiga o ódio popular contra os partidos políticos e a política em geral,
organizações dos movimentos sociais, governos e instituições. A direita
neoliberal, reiteradamente derrotada nas urnas, quer pescar em águas turvas,
manipulando o movimento espontâneo das massas no momento em que este está sem
rumo e sem direção.
Os
problemas sociais no Brasil, alguns deles seculares, são gigantes e, apesar
dos avanços registrados nos últimos dez anos, demandam solução urgente. É
esta a leitura que devemos fazer do sentimento de revolta popular. O
movimento sindical não deve sair das ruas nem abdicar da luta, pois só com
mobilização e luta conseguiremos avançar na direção de um novo projeto
nacional de desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do
trabalho. Mas não vamos ser cúmplices nem fazer o jogo da mídia golpista.
É nossa
obrigação alertar a classe trabalhadora para os riscos de retrocesso e lutar
para desmascarar e derrotar as forças de direita que se dedicam a manipular e
desvirtuar o movimento espontâneo do nosso povo por um Brasil melhor, com
mais democracia, igualdade e justiça.
São
Paulo, 21 de junho de 2013
Wagner
Gomes, presidente nacional da CTB
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