sexta-feira, 21 de junho de 2013

Brasil/MPL se retira de protesto para evitar ser confundido com direita



21 junho 2013, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

O Movimento Passe Livre (MPL), que lidera as manifestações pela redução da tarifa do transporte público em todo o Brasil, tem uma atuação que eles denominam de "horizontal", com 40 ou 50 integrantes. Lucas Monteiro, 29 anos, é uma das lideranças encarregadas de falar com a imprensa.

Em conversa com Terra Magazine, na manhã desta sexta-feira (21), ele informa que, para evitar a apropriação do movimento pela extrema direita, e a violência nas ruas, o MPL não convocará mais protestos em São Paulo. Lucas reafirma que não fala por outros Estados, mas
imagina que, nas cidades em que houve a "vitória", com a redução da tarifa, o mesmo se dará.

Terra Magazine: Lucas, não lhe parece que as coisas estão saindo do controle e que há uma extrema direita indo para as ruas, tentando se apropriar das manifestações?
Lucas Monteiro: Sim, eu concordo. Ontem (quinta-feira, 20) foi a última manifestação, não vamos mais chamar manifestações nas ruas… não vamos chamar mais nesse momento. O movimento conquistou a vitória que a gente buscava. Um vitória popular, da população, e não podemos deixar que isso seja confunfido e apropriado e que a violência tome as ruas…

Ontem, em vários lugares do Brasil, ficou claro uma pregação de ódio contra partidos, na Avenida Paulista era claramente uma gente de extrema direita, ou não?
Em São Paulo, tinha gente de esquerda, mas quem estava atuando daquela forma, com aquela violência, era mesmo gente da direita.

Vocês não temem que porções com esse viés fascista busquem se apropriar das manifestações?

Sim, há essa tentativa desse pessoal, eu concordo que eles estão agindo e não é assim que se faz política. Vamos continuar pautando a questão do transporte, buscando a tarifa zero, mas, no momento, não vamos mais chamar manifestações.

Vocês não acham que erraram ao convocar outra manifestação depois de ter obtido a vitória da diminuição da tarifa?
A manifestação já estava convocada, não tinha como desconvocar, e se a gente não fosse para a rua ontem, aí sim que só teria esse pessoal de direita.

O Movimento Passe Livre não fará mais manifestações só em São Paulo ou no Brasil todo?
São Paulo não fará mais manifestações nesse momento, mas não posso falar pelos outros Estados.

Para não se confundirem com quem está agindo com violência nas ruas?
Também para impedir que eles tentem se apropriar das manifestações.

Vocês estão conversando com o MPL em outros Estados?

Sim, nós conversamos.

E eles também vão parar?
É provável que sim nos lugares onde já foi obtida a vitória. Estamos conversando, mas não falamos por eles.

Fonte: Terra Magazine

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Brasil/MPL: "não seremos manipulados pela pauta da direita"

20 junho 2013, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

Fomos convidados para um encontro com integrantes e apoiadores do Movimento Passe Livre (MPL), que nas últimas duas semanas protagonizaram um episódio histórico: levaram o povo de volta às ruas para reivindicar. Desde crianças a pessoas da terceira idade. Foram vítimas de repressão só comparável àquela empregada pela Polícia Militar paulista na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.

Por Luiz Carlos Azenha


No meio da conversa, a notícia: o governador Alckmin e o prefeito Haddad anunciaram a redução das tarifas conforme o reivindicado pelo movimento.

Houve celebração.

Dentre os convidados, os blogueiros Rodrigo Vianna, Altamiro Borges, Leonardo Sakamoto e este que lhes escreve, o empresário de mídia Joaquim Palhares, o ativista Sergio Amadeu e a jornalista Maria Inês Nassif.

O objetivo era, basicamente, dizer que “sim, somos de esquerda e temos uma pauta de esquerda”. Ou: “Não, não seremos manipulados pela pauta da direita”.

O professor de História Lucas Oliveira, o Legume, falou em nome do MPL. Ele e ativistas ligadas ao movimento descreveram a unidade que conseguiram forjar com integrantes de partidos de esquerda nos últimos dias — PSOL, PSTU e PCO, entre outros — além de militantes do PT e de um grande número de movimentos sociais, dentre os quais o MST, a UJS (do PCdoB) e a UNE.

Sim, sim, estavam todos extremamente preocupados com a possibilidade de infiltração e manipulação da pauta do movimento por grupos de direita, que buscam se apropriar das manifestações para atacar o governo federal.

Negaram que os anarquistas estavam na origem da tentativa de retirar as bandeiras de partidos do movimento, dizendo que a iniciativa era de “caras-pintadas” recém-chegados.

Lembraram que era impossível controlar as multidões que se juntaram às manifestações — segundo uma pesquisa do Datafolha, a grande maioria saiu às ruas pela primeira vez.

Confirmaram o ato desta quinta-feira, comemorativo, na avenida Paulista.

Para as próximas mobilizações, pretendem reforçar os coletivos de segurança, comunicação e primeiros socorros.

O ativista digital Sergio Amadeu exibiu um gráfico mostrando que nos últimos dias o MPL tinha perdido protagonismo nas redes sociais relativamente a grupos de direita, que passaram a ter maior poder de mobilização de seguidores com seu perfil ideológico — o que talvez explique a aflição de muitos apoiadores do Passe Livre.

A próxima mobilização talvez tenha relação com a PEC 90, de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que torna o transporte um direito social. Além disso, trabalhando com o vereador petista Nabil Bonduki, o MPL pode tentar aprovar o passe livre na Câmara Municipal de São Paulo.

Todos estavam certos da presença de provocadores e agentes infiltrados durante as manifestações. Alguns, provavelmente da Polícia Militar, encarregados da coleta de imagens e informações. Outros, de grupos de extrema-direita, empenhados em promover vandalismo atribuído posteriormente ao MPL.

Numa avaliação coletiva, os blogueiros presentes concordaram que o prefeito Fernando Haddad foi o grande perdedor no processo — poderia, por exemplo, ter anunciado sua disposição de reduzir as tarifas depois de ouvir opiniões do Conselho da Cidade, que praticamente endossou a pauta do MPL.

O papel desempenhado por Haddad — que foi ao Palácio dos Bandeirantes para acompanhar o anúncio, falando depois do governador Geraldo Alckmin — também causou estranheza. Como a redução das tarifas foi anunciada quase ao mesmo tempo no Rio de Janeiro, especulou-se sobre um acordo de governantes para aliviar o establishment da pressão das ruas.

A celebração foi grande, tendo em vista que o MPL tem um núcleo duro bastante reduzido de militantes, com idade média calculada no chute em 23 anos de idade. Ainda assim, conseguiu a maior vitória desta geração de jovens militantes nas lutas sociais.

Nota do MPL
A cidade não esquecerá o que viveu nas últimas semanas. Aprendemos que só a luta dos de baixo pode derrotar os interesses impostos de cima. A intransigência dos governantes teve de ceder às ruas tomadas, às barricadas e à revolta da população.

Não foi o Movimento Passe Livre, nem nenhuma outra organização, que barrou o aumento. Foi o povo.

O povo constrói e faz a cidade funcionar a cada dia. Mas não tem direito de usufruir dela, porque o transporte custa caro. A derrubada do aumento é um passo importante para a retomada e a transformação dessa cidade pelos de baixo.

A caminhada do Movimento Passe Livre, que não começa nem termina hoje, continua rumo a um transporte público sem tarifa, onde as decisões são tomadas pelos usuários e não pelos políticos e pelos empresários. Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados.

Por uma vida sem catracas!

Movimento Passe Livre São Paulo

Fonte: Viomundo

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