26 junho 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
(Foto: O
estádio do Maracanã (RJ)
O clamor das ruas é induzido, pela mídia
conservadora, a ver no investimento do país com as copas das Confederações e do
Mundo, e com as Olimpíadas, como gasto de dinheiros que seria melhor aplicado
em saúde e educação. A mídia conservadora manipula os dados, esconde os
benefícios que geram para a economia brasileira e, sobretudo, cala-se,
interesseiramente, face aos juros monumentais pagos aos especuladores
financeiros.
Por José
Carlos Ruy
Os
movimentos sociais das últimas semanas colocaram em pauta os gastos do governo
com as copas das Confederações e do Mundo e com as Olimpíadas. Há, entre tantas
manifestações, inclusive uma que circula pelo YouTube que inclui, entre
"As cinco causas" que movem os manifestantes, duas que envolvem
diretamente este financiamento: ela quer a “investigação de irregularidades nas
obras da Copa do Mundo de 2014” e também uma “CPI da Copa”.
Esta
pauta, que faz parte da agenda conservadora que ganhou as ruas nestes dias, se
alimenta da desinformação ou da má fé - ou de ambas, simultaneamente.
Ela se
ancora em reportagens que manipulam os dados e fazem crer que o governo federal
inunda de recursos retirados de outros investimentos mais prementes, para
preparar os grandes espetáculos esportivos dos próximos anos. As matérias
veiculadas pela mídia conservadora faltam com a verdade neste particular. E o
governo federal foi ao ponto quando, no dia 23 (domingo), divulgou uma nota com
esclarecimentos a respeito, através do Blog do Planalto, assinada pelos
ministérios do Esporte e do Planejamento, Orçamento e Gestão.
A nota
denunciou que a matéria publicada pela Folha de S. Paulo, no mesmo dia,
“distorce informações, faz relações incorretas e induz o leitor a uma
interpretação errada dos fatos”. Esclareceu, entre outras coisas, que “não há
um centavo do Orçamento da União direcionado à construção ou reforma das arenas
para a Copa”; “há uma linha de empréstimo, via BNDES, com juros e exigência de
todas as garantias bancárias, como qualquer outra modalidade de crédito do
banco”, cujo valor máximo é de R$ 400 milhões por estádio; as “isenções fiscais
não podem ser consideradas gastos, porque alavancam geração de empregos e
desenvolvimento econômico e social, e são destinadas a diversos setores e
projetos”.
Na
segunda feira (24), o ministro Aldo Rebelo, do Esporte, voltou à carga, em uma
coletiva de imprensa, para esclarecer que os gastos com os estádios
correspondem a apenas 26% do custo da Copa do Mundo. Explicou que estes gastos
consumirão R$ 7,5 bilhões dos R$ 28,1 bilhões previstos para a Copa. E que não
envolvem dinheiro do Orçamento da União, mas sim de financiamentos do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Não há recursos do
governo federal, apenas empréstimos no valor máximo de R$ 400 milhões [por
estádio] via BNDES”, disse o ministro. Segundo ele, o restante dos
investimentos previstos na Matriz de Responsabilidades (R$ 20,6 bilhões)
destina-se a obras úteis e necessárias para o Brasil, já previstas no Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), e que aconteceriam independentemente da
Copa. Entre estes investimentos estão R$ 8,9 bilhões com mobilidade urbana, R$
8,4 bilhões com melhorias nos aeroportos (sendo R$ 5,1 bilhões do setor
privado) e R$ 1,9 bilhão com segurança.
Os
investimentos são altos, sem dúvida. Mas essa não é a fonte da crítica. A
fonte, inconfessada, é outra. Até recentemente o cerne da crítica conservadora
que envolvia as Copas (da Confederação e do Mundo) e as Olimpíadas dizia que as
obras não ficariam prontas a tempo, levando o país ao vexame mundial. Mas os
calendários foram cumpridos, os estádios ficaram prontos (e elogiados!), e o
complexo de vira-latas dos críticos transformou-se em complexo de cachorro
louco, e ele passaram a babar e uivar contra... os gastos do governo com os
eventos. E, hipocritamente, comparando estes gastos com aqueles previstos para
Educação, Saúde e o adequado, no momento, Transporte Público.
Eles
esquecem alguns aspectos importantes na argumentação fraudulenta com a qual
tentam colocar o governo federal nas cordas. Em primeiro lugar não se referem
ao retorno deste investimento, que é certo, segundo vários estudos
independentes feitos a respeito. Além disso, diz Aldo, para cada dólar público
(do governo) investido há outros 3,4 vindos do poder privado, gerando um efeito
benéfico com a criação de empregos e a melhoria de renda dos brasileiros. “Esta
é uma Copa com recursos privados. O governo investe em obras para a população.
Obras que seriam feitas independentemente da realização do torneio - a maioria
delas faz parte do PAC. Evidente que muitas foram antecipadas para atender as
necessidades da Copa. No caso dos aeroportos, por exemplo, eles seriam
reestruturados mesmo que não houvesse Mundial. A melhoria na mobilidade (metrô,
VLT, trens, viadutos, avenidas) também aconteceria”, disse Aldo Rebelo em
entrevista a Sonia Racy (O Estado de S. Paulo, 10.6.2013).
Os
estudos que se divulgam sobre as perspectivas econômicas dos eventos esportivos
são mais otimistas do que os que choramingam através da grande mídia
conservadora. Cada real investido na viabilização da Copa do Mundo será
multiplicado por cinco, injetando no total R$ 142,39 bilhões até 2014, mostra o
estudo "Brasil Sustentável - Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo
2014", elaborado pela Ernst & Young juntamente com a FGV. Estão
previstos investimentos diretos de R$ 22,46 bilhões na infraestrutura e na
organização, e mais R$ 112,79 bilhões para a realização da competição, levando
em conta os setores interligados. Além disso, serão gerados 3,63 milhões de
empregos por ano, impulsionando o consumo interno. A arrecadação será
beneficiada, com um adicional de R$ 18,13 bilhões para reforçar cofres
públicos. Estes valores terão impacto direto e favorável sobre o PIB: entre
2010 e 2014 serão R$ 64,5 bilhões, correspondendo a 1,5% do valor do PIB para
2010, que foi de R$ 4,3 trilhões. Neste sentido, diz Luiz Fernandes,
secretário-executivo do Ministério do Esporte a Copa e a Olimpíada não devem
ser encaradas “como um custo para o Brasil, e sim como uma oportunidade para alavancar
o crescimento econômico”. (Princípios, nº 120, ago/set 2012).
Esta é a
comparação pelo lado positivo dos investimentos com a Copa e a Olimpíada. Há
outra comparação que precisa ser feita, mas ela não comparece nas análises dos
pessimistas da mídia conservadora - ver estes gastos em relação com o dinheiro
gasto pelo governo federal para aplacar o ganancioso apetite dos especuladores
financeiros. Em 2012, a Saúde ficou com 4,17% do Orçamento da União; a Educação
com 3,34%; Transportes, com 0,7%; ao Esporte coube apenas 0,02%. Ao lado disso,
os juros pagos aos especuladores consumiram 43,98% do Orçamento da União em
2012, informa o portal Auditoria Cidadã da Dívida!
Nenhum comentário:
Postar um comentário