13 maio 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Em
conversa com o jornalista Kennedy Alencar da Rede TV! na madrugada desta
segunda-feira (13), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, falou de sua
infância, trajetória política, relação do Brasil e dos EUA com seu país e
afirmou estar disposto a dialogar com a oposição que, segundo ele, tem
semeado o ódio no país. Na última semana, o presidente visitou o Brasil, a
Argentina e o Uruguai para firmar parcerias estratégicas, principalmente nas
áreas agrícola, industrial e petrolífera.
Quando
questionado sobre qual é sua frase favorita, Maduro mencionou uma que
costumava ser dita por Chávez: “temos lutado e nossa luta valeu a pena. Agora
temos um mundo por fazer e vale a pena lutar por ele”. Acompanhe os
principais temas abordados pela entrevista:
Relações
com o Brasil
Com o
Brasil, temos hoje uma relação política de afeto e relações econômicas de
cooperação integral. Nossa balança comercial subiu para US$ 6 bilhões e
caminha para US$10 bilhões. Os investimentos do capital brasileiro na
Venezuela superam US$ 10 bilhões. Temos com o Brasil um projeto de montar um
parque industrial para produzir fertilizantes e alimentos. Esta reunião foi
extraordinária em todos os sentidos.
Eleições
Nós
triunfamos e foi uma vitória muito importante. O povo venezuelano enfrentou
uma guerra, não uma campanha eleitoral. Durante três meses sabotaram nosso
sistema elétrico. Fizeram isso e deixaram cidades inteiras sem luz. Além
disso, sabotaram o abastecimento de produtos de primeira necessidade. E
travaram uma guerra psicológica brutal.
De 100%
da informação que os meios privados da Venezuela produziram durante a
campanha, 70% eram positivos para Capriles e os 30% que falavam sobre mim,
era tudo negativo. Uma guerra que permitiu provar a fibra do povo
venezuelano.
Neste
sentido, o gesto do Brasil foi fundamental [de ter reconhecido prontamente o
resultado das eleições]. O Brasil é um país que respeita o processo
democrático e a autodeterminação de todos os povos do mundo. Em nossa região
sul-americana, a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] se reuniu em 18 de
abril. Os presidentes foram todos acompanhar minha juramentação. A Unasul, a
Alba [Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América], Celac
[Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], e até a OEA
[Organização dos Estados Americanos] ou seja, todos os organismos
internacionais reconheceram como devem reconhecer as eleições no país.
Oposição
Nós
acreditávamos que o caráter golpista da direita já havia passado. Que o golpe
de 2002 havia sido um acidente histórico. Tanto que Chávez arquivou o
processo movido contra os golpistas. Mas não foi assim. Quando Chávez morreu,
pensaram que era a chance de tentar um golpe de novo.
Hoje
Capriles tenta um golpe e isso é reconhecido por seu pequeno grupo de
direita. Ele tem semeado a Venezuela de ódio, de xenofobia. Tem um projeto
antibolivariano, antilatino-americano. Eles promovem o ódio contra o povo,
contra o pobre, contra os médicos cubanos que têm ajudado a população
venezuelana nas zonas mais pobres. Estão desconhecendo a Constituição, as
instituições.
Estamos
dispostos a conversar até com o diabo pela paz da Venezuela, pela democracia.
Eles [a direita] promovem o ódio. Para nós não resta dúvida do caráter
fascistóide. É uma direita intolerante que pretende destruir a revolução
bolivariana. Fazemos um chamado a todos os movimentos do continente e ao
Brasil particularmente. Para que deem atenção, porque é o mesmo grupo que dirigiu
o golpe de Estado.
Esta
direita, por exemplo, diz que fiz esta visita ao Mercosul [Uruguai, Argentina
e Brasil] para comprar, com petróleo, os presidentes desses países. Então é
assim que eles reagem.
Auditoria
das eleições
O
Brasil deve saber que estão fazendo a auditoria. Venezuela é o único país do
mundo em que é feita uma auditoria de 54% dos votos ainda no dia das
eleições. Os votos da urna física são comparados com o que é emitido pela
urna eletrônica. O resultado foi 100% correto. Mas, a oposição pediu a
auditagem dos outros 46%. O poder eleitoral começou uma nova auditoria e o
que fez a oposição? Retirou-se da auditoria.
Manipulação
midiática
Eduardo
Galeano disse: o país liderado por Chávez que fez sua Constituição por uma
assembleia aprovada pelo povo. Desenvolveu e incorporou milhões de
venezuelanos ao processo político. Um líder [Chávez] que democratizou a vida
pública venezuelana. Mas ainda assim, recebeu uma campanha internacional
inclemente de mentiras.
Na
Venezuela temos uma democracia. Basta ir para lá e ver. Em qualquer parte da
Venezuela encontrará um povo com pensamento próprio, com liberdade de
expressão. Os meios de comunicação, 80% deles estão em mãos de empresas
privadas, são ardentes críticos do processo.
Industrialização
O
resgate do petróleo é um grande feito de Chávez porque o primeiro passo é
recuperar os recursos. Chávez investiu, dos US$ 700 bilhões que entraram, US$
550 bilhões em educação, saúde, alimentação, cultura. Investiu na vida social
de um povo, que passou de 70% de miséria para 20%. Este processo de
industrialização está em curso no país.
Há cem
anos, a Venezuela sofreu uma amputação de sua cultura produtiva para um
modelo rentista petroleiro. Mas uma cultura industrial não se cria da noite
para o dia.
O
Brasil é um grande parceiro, grande aliado para o desenvolvimento industrial,
na produção de alimentos. Temos uma grande extensão de terra para produzir
feijão, arroz, soja, girassol, alimentos para a população.
Estados
Unidos
O que
fazemos é reagir diante do intervencionismo. O que dificulta [nossa relação
com os Estados Unidos] é a obsessão eterna deles de interferir nos assuntos
internos da Venezuela. No mesmo dia que morreu Chávez tivemos que expulsar
dois militares estadunidenses que buscavam militares da Venezuela para
aplicar golpes.
Obama
tem um sorriso simpático, mas segue fazendo o mesmo que Bush, invadindo,
interferindo em assuntos internos. Este conflito só vai terminar quando
entenderem que devem ter ações de respeito com nosso país e de igualdade.
Para
mim não é importante que me reconheçam [os Estados Unidos ainda não
reconheceram sua eleição], mas que a Unasul, o Mercosul, a Celac, a União
Africana, os irmãos do mundo tenham me reconhecido. Só a elite dos EUA não
nos reconhece.
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