23 maio 2013, União Brasileira de
Mulheres (UBM) http://www.ubmulheres.org.br (Brasil)
A Rede Latino-Americana de
CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR (integrada por 12 países da América Latina,
incluindo-se Espanha como país associado) expressa sua mais profunda
preocupação diante das afirmações do Papa Francisco durante a marcha com
organizações anti-direitos, autodenominadas Pró-Vida, no dia 12 de maio deste
ano em Roma. Propõe o Papa que se “garanta a proteção jurídica do embrião”, de
maneira que se “proteja o ser humano desde o primeiro instante da sua
existência”.
Em consonância com a grande maioria
de cidadãs e cidadãos católic@s de nossos países, assim como de muitos outros
países em todos os continentes, queremos dizer que o Papa Francisco não fala em
nosso nome e que
dissentimos de suas posições e das posições daqueles setores
religiosos fundamentalistas frente à questão de ampliar o estatuto do embrião,
violando o direito legítimo de decidir das mulheres e colocando em risco sua
saúde e suas vidas.
Com esta declaração, evidencia-se a
pretensão da hierarquia eclesial católica, em uníssono com outras visões
conservadoras e fundamentalistas, de impor às diferentes Constituições e normas
jurídicas nacionais, princípios de moral religiosa, o que seria evidente
violação do princípio de laicidade do Estado e impediria os avanços que se tem
conquistado em matéria dos direitos em saúde sexual e reprodutiva e dos
direitos das mulheres, especialmente frente ao seu legítimo direito de decidir.
A posição do Papa Francisco instala
e reafirma uma visão que despreza a vida e a saúde das mulheres, que diante de
gravidezes de alto risco terminam sendo cruelmente sacrificadas pela obrigação
de continuar uma gravidez não viável e gravidezes não desejadas. Diante dessa
realidade dolorosa nos perguntamos: Por que para aqueles patriarcas e hierarcas
da Igreja Católica a vida das mulheres não tem valor?
Ficamos indignadas com a falta de
sensibilidade do Papa Francisco para com a vida concreta e real de tantas
mulheres, em sua maioria em situação de pobreza e exclusão, que padecem
enfermidades e em muitos casos morrem por causas que podem ser evitadas. Não se
pode falar de justiça social e de opção pelos pobres negando essa realidade
dramática.
Nesse sentido, como CATÓLICAS PELO
DIREITO DE DECIDIR:
Afirmamos que a vida das pessoas é
muito mais do que um código genético, é muito mais que respirar; a vida humana
implica direitos, respeito, condições para uma vida humana digna, com qualidade
e justiça social.
Afirmamos e defendemos a laicidade
do Estado como garantia de proteção da democracia e dos direitos humanos.
Afirmamos que a maioria das cidadãs
e cidadãos católic@s
não nos identificamos com a declaração do Papa Francisco, uma vez
que suas afirmações vulneram os direitos de decidir, a liberdade, a saúde e a
vida das mulheres.
Maio, 2013.
Fonte: Red Latinoamericana de
Católicas por el Derecho a Decidir
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