quarta-feira, 29 de maio de 2013

10 ANOS DE KIRCHNERISMO: A DÉCADA GANHA NA ARGENTINA



27 maio 2013, EDITORIAL Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

Milhares de argentinos reuniram-se no sábado (25) para celebrar os dez anos de kirchnerismo e, coincidentemente, os 203 anos da Revolução de 1810, que deu início à Guerra pela Independência do país. Emblematicamente, os governos progressistas de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Fernández de Kirchner, vigente desde 2008, somam-se ao contexto vivenciado por outros governos progressistas latino-americanos que buscam independência econômica, soberania política e justiça social para seus povos.

A década ganha na Argentina, como é chamado no país o período iniciado com a chegada de Néstor à presidência, é marcada pela mudança no rumo, pelo recado claro e contundente às minorias que sempre dominaram o país e que neste período tiveram seus interesses corporativos submetidos ao bem-estar e melhoria de vida das maiorias historicamente apartadas dos centros de decisão e das políticas do Estado. Disso resulta o constante conflito de interesses entre a burguesia, saudosa dos tempos em que a Argentina era parte do quintal dos Estados Unidos, e os trabalhadores, que viram suas condições de vida melhorar nos últimos dez anos.

Ao revisar as leis de impunidade, ao garantir a “Asignación Universal por Hijo” (Bolsa Família argentina), ao aprovar a Lei dos Meios de Comunicação, o matrimônio igualitário, a estatização dos fundos de aposentadoria, a nacionalização da YPF, o governo kirchnerista criou um abismo entre a Argentina do passado e a do presente e do futuro que querem os argentinos: “nem um passo atrás”
era o que diziam os eleitores de Cristina em 2011, quando foi reeleita para seu segundo mandato, deixando claro que não aceitariam retrocesso nas políticas conquistadas e referendadas pelo povo todas as vezes em que os argentinos foram chamados às urnas e apoiaram as mudanças em curso.

Com a guinada rumo à democratização da comunicação, mais do que espectadores, os argentinos passaram a ser protagonistas destes governos progressistas. A maior amplitude e disseminação dos debates nas TVs e rádios do país reacendeu a paixão pela política e colocou temas como o assassinato de mulheres, a desigualdade de gênero, a despenalização do aborto, a discriminação, a violência institucional, a tipificação do genocídio como delito e tantas outras questões, no centro das conversas travadas nas ruas, escolas, bares, centros de reunião, ampliando também a abrangência e o significado do termo democracia.

Vale lembrar que este não é um caminho trilhado sozinho, isolado do contexto internacional e regional. Néstor, ao lado dos demais presidentes progressistas da região, deu novo impulso à integração latino-americana. Ainda candidato, procurou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fortalecer-se e, já eleito, deram outro sentido ao Mercado Comum do Sul (Mercosul). Junto com o ex-presidente venezuelano, Hugo Chávez, Lula e Néstor fortaleceram os laços identitários latino-americanos e criaram novas ferramentas integracionistas como a União das Nações Latino-Americanas (Unasul), a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o Banco do Sul e aniquilaram, em 2005, as tentativas estadunidenses de implantar no continente a neoliberal e neocolonialista Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

O sonho da pátria grande se faz novamente presente em uma América Latina que busca sua segunda independência.

O desafio argentino é seguir consolidando as transformações em curso e aprofundar o modelo, reduzindo os índices de pobreza, de desemprego, de marginalização do Estado em um país que caminha para o futuro. Como a presidenta afirmou, em seu discurso de sábado (25), é preciso que “a esta década ganha siga-se outra década mais. Eu não sou eterna nem quero ser, é necessário que o povo se apodere dessas conquistas para que ninguém possa arrebatá-las (...) se vocês não se organizam, se vocês próprios não participam para defender o que é de vocês, outros vão aparecer no lugar de vocês, como fizeram ao longo de toda a história (...) minha obsessão é que vocês organizem a sociedade unida, de forma solidária e compreendam onde estão seus verdadeiros interesses”.

Que oxalá assim seja.

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