15 maio 2013, Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br
É muita arrogância da elite
brasileira criticar a qualidade da medicina cubana, sem apontar qualquer
solução imediata
Editorial da edição 533 do Brasil de Fato
O Brasil tem 455 municípios sem
médicos, de um total de mais de 5.560 cidades no país. O problema é mais
acentuado em regiões distantes dos maiores centros urbanos, como no Nordeste,
que lidera a lista de cidades sem médicos com 117, 25,7% do total.
Além de nos faltarem
profissionais, 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul
do país. E em geral trabalham nas grandes cidades.
Se a média nacional é de 1,95
médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02
médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São
Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como
Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.
Um município sem médico implica
em mães grávidas sem pré-natal, crianças morrendo de diarreia, enfermidades
facilmente controladas se propagando. Algo inadmissível, que exige respostas
imediatas.
Como enfrentar esse problema?
Construir estruturas de saúde, proporcionar faculdades de medicina nas regiões
carentes, possibilitar melhores condições de trabalho, atrativos de fixação
para os profissionais da saúde. São as medidas de longo prazo que resolverão o
problema. A questão, entretanto, é emergencial.
O que pode ser feito
imediatamente, para atender uma população sem médico e qualquer posto de saúde?
Com certeza investindo na formação de mais médicos. E isso vem sendo feito.
O numero de vagas cresceu de
7.800 (1993) para 16.852 (2011) e a razão entre o número de inscritos por vaga
passou de 25,5 para 41,3 no mesmo período. Portanto, a demanda por vaga em
curso de medicina cresceu mais que a oferta.
Mas o modelo de formação de
profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um
tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia,
aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar
plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas
particulares, alimentados pelos planos de saúde.
Formar mais médicos dentro desse
modelo atual não resolve o problema de levá-los para as regiões distantes que
mais necessitam.
O governo lançou nos últimos anos
o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que
oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira para os
médicos que vão para as periferias e regiões sem médicos. A lógica corporativa
da elite médica, pensando mais nos interesses da corporação do que na saúde do
povo brasileiro organizou uma campanha contra essa iniciativa. Todavia, somente
4 mil médicos aceitaram participar do programa em que terão que trabalhar em
condições precárias e com estruturas mínimas em regiões distantes de seus
domicílios.
Seguimos com um problema grave.
Para enfrentá-lo, o Ministério da Saúde anuncia a intenção de contratar médicos
estrangeiros, com a possibilidade imediata de 6 mil médicos cubanos dispostos a
atuar nas regiões mais carentes do país. Trata-se do Programa “Mais Médicos”.
Diante da notícia, o Conselho
Federal de Medicina e os setores mais conservadores da classe dominante iniciam
uma virulenta campanha preconceituosa, em defesa dos interesses corporativos da
elite médica. E como querem desviar o foco do verdadeiro problema que é a falta
de médicos, utilizam um repertório de mentiras.
A principal delas é a de atacar a
qualificação da medicina cubana. Uma acusação que não suporta qualquer
confronto com a realidade. A expectativa de vida em Cuba é maior do que a dos
Estados Unidos. A relação médico-paciente pode ser comparada a qualquer país da
Europa Ocidental. Há em Cuba um médico por cada 175 pessoas. Ninguém mais em
nosso continente revela essa proporção.
Graças à sua medicina preventiva,
tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo –
4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) –
inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, é a nação melhor dotada do mundo neste setor.
Desde 1963, com o envio da
primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de
populações pobres no planeta. Atuando exatamente nas regiões mais difíceis e
sem infraestrutura. No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de
pessoas e salvaram 615 mil vidas. São os mais experimentados em todo o mundo
para essas missões, conforme reconhece a própria Organização Mundial de Saúde.
É muita arrogância da elite
brasileira criticar a qualidade da medicina cubana, sem apontar qualquer
solução imediata para resolver a falta de profissionais nas regiões carentes.
Demonstram que não estão preocupados com os problemas do povo, mas apenas com
seus interesses corporativos.
Defender o Programa Mais Médicos
é fundamental para responder, no plano imediato, o desafio de proporcionar o
atendimento básico aos brasileiros que mais necessitam.
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