15 de Maio, 2013, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao
África
perde, a cada ano, 38 mil milhões de dólares (3,8 triliões de kwanzas) a
favor de empresas estrangeiras em contratos injustos para a exploração de
recursos naturais, refere um relatório divulgado pelo ex-secretário geral da
ONU Kofi Annan.
“É
inconcebível que algumas empresas, frequentemente apoiadas por dirigentes
desonestos, estejam a utilizar a evasão fiscal imoral, a transferência de
preços e a propriedade anónima das empresas para maximizar o seu lucro,
enquanto milhões de africanos vivem sem alimentação, saúde e educação
adequadas”, disse Annan.
O
diplomata ganês resumiu assim o relatório do Painel para o Progresso da África
(APP, na sigla em inglês), do qual é presidente, que foi apresentado
sexta-feira, no último dia do Fórum Económico Mundial sobre a África, na Cidade
do Cabo (África do Sul).
De
acordo com o estudo anual sobre o estado do continente, a quantidade de
dinheiro que África perde por ano com concessões injustas representa mais do
dobro da ajuda que recebe de doadores.
O
relatório cita como exemplo mais sombrio o caso da República Democrática do
Congo (RDC) que, segundo os cálculos do APP, deixou de arrecadar 1,36 mil
milhões de dólares em cinco concessões “opacas e secretas” de explorações de
mineração entre 2010 e 2012.
Os
direitos de exploração dos recursos da RDC foram vendidos por um sexto do seu
valor final no mercado. Na apresentação do documento, Annan pediu aos países
africanos a obrigar com leis as empresas mineradoras estrangeiras a serem mais
honestas nos seus negócios no continente, informou a agência de notícias
sul-africana Sapa. O APP denuncia também a falta de transparência nas empresas
públicas que administram os recursos naturais e as práticas de sonegação fiscal
como dois dos principais problemas dos países africanos.
Nesse
sentido, o relatório define a empresa petrolífera estatal da Guiné Equatorial,
GEPetrol, como “uma das companhias energéticas mais opacas”.
O APP
lembra que Espanha, França e Estados Unidos apresentaram queixas à Comissão
Africana dos Direitos Humanos pelo mau uso que a GEPetrol faz dos lucros
petrolíferos e as transferências de parte desse dinheiro para contas
estrangeiras.
Exortação
O Painel exortou os países africanos a “melhorar” a sua “governação” e a incluir as “indústrias de extração” numa “estratégia económica e de desenvolvimento mais ampla”, que repercuta no bem-estar dos seus cidadãos.
O Painel exortou os países africanos a “melhorar” a sua “governação” e a incluir as “indústrias de extração” numa “estratégia económica e de desenvolvimento mais ampla”, que repercuta no bem-estar dos seus cidadãos.
Os
cálculos dizem que, a cada ano, saem da África “fluxos financeiros ilícitos” -
dinheiro obtido de forma ilegal ou quantias não registadas no fisco - no valor
de 25 mil milhões de dólares (,5 triliões de kwanzas).
“O
impacte para os governos do G8 (grupo de países ricos e a Rússia) é uma perda
de receita, mas em África isso tem um impacte directo na vida das mães e das
crianças”, declarou Koffi Annan sobre a sonegação fiscal. O relatório pede à
cimeira que o G8 realiza no próximo mês que impulsione o
“desenvolvimento de um sistema global baseado nas regras da transparência e os
impostos”.
“Cada
jurisdição fiscal devia ser obrigada a revelar publicamente a estrutura de
titularidade plena das empresas registadas”, pede o APP, que menciona a Suíça,
Reino Unido e Estados Unidos como “principais canais para serviços financeiros
extraterritoriais”. A esposa do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela,
Graça Machel, integrante do APP e presidente da Fundação para o Desenvolvimento
Comunitário de Moçambique, declarou que “este relatório representa uma
contribuição essencial para o debate sobre a riqueza da África em recursos
naturais”.
Para
Machel, o cumprimento das recomendações do texto vai fazer com que “mais
crianças frequentem a escola, menos mães morram ao dar à luz os seus filhos e
mais crianças vivam além da infância”.
O APP,
cujo secretariado foi criado em 2008 e tem sede em Genebra, é formado por dez
personalidades do sector público e privado, entre as quais Kofi Annan, Graça
Machel, o cantor Bob Geldof e o ex-presidente nigeriano Olusegun
Obasanjo. O seu objetivo é de fomentar a “responsabilidade compartilhada
entre os líderes africanos e os seus parceiros internacionais para promover o
desenvolvimento equitativo e sustentável do nosso continente berço”.
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