O presidente moçambicano, Armando
Guebuza, refutou hoje as alegações de certos círculos ocidentais de que China
tenciona recolonizar os países africanos para ter acesso aos seus vastos
recursos, vincando que “este país amigo de Moçambique” já provou que a sua
intenção é ajudá-los e cooperar com eles na base de ganhos mútuos.
Falando em conferência de imprensa,
que marcou o fim da visita de trabalho de sete dias à China, que descreveu como
“muito boa e um sucesso total”, Guebuza explicou que o relacionamento entre a
China e África iniciou nos tempos em que os seus povos lutavam contra a
colonização.
Guebuza recordou que já nessa
altura, o Ocidente acusava a China de estar a apoiar os movimentos de
libertação, incluindo a Frelimo em Moçambique, como pretexto para exportar o
seu comunismo.
Ele recordou que mesmo Eduardo
Mondlane, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que
liderou a luta do povo moçambicano pela independência, explicava aos seus
compatriotas que neste tipo de alegações era imperioso optar pela posição que
melhor servisse os seus interesses.
Mesmo Nelson Mandela disse a alguns
lideres ocidentais, depois de se tornar presidente na África do Sul, que nunca
tomaria por inimigo alguém apenas porque é inimigo deles.
“Os vossos inimigos não são
necessariamente meus inimigos”, dizia Mandela, quando alguns países do Ocidente
exigiam que rompesse relações com alguns estadistas como Fidel Castro e
Muhammar Khadafi, alegando que eram déspotas ou ditadores.
Vincava que continuaria a manter um
relacionamento com estes estadistas porque sempre estiveram do seu lado nos
momentos mais difíceis da sua vida e dos seus compatriotas, contrariamente a
alguns países do Ocidente que estavam do lado do regime que o mantinha
encarcerado.
Guebuza, que respondia à uma
questão colocada pela AIM sobre as tais alegações, mostrou-se tranquilo,
denotando que não vê risco nenhum da alegada recolonização.
Explica que estas alegações são
feitas por pessoas que tratam os dirigentes africanos como se fossem criancas
que não sabem o que é bom para elas.
“Ora, quando alguém já é adulto,
sabe o que quer e como quer, pelo que essas alegações não fazem sentido”, disse
Guebuza, para de seguida acrescentar que quando a China apoiava a luta dos
moçambicanos contra os seus colonizadores, o Ocidente alegava então que Beijing
estava a exportar o seu comunismo.
Aliás, alguns líderes ocidentais,
defensores da teoria de recolonização de África por Beijing, eles próprios
deslocam-se frequentemente à China para implorar apoio de biliões de dólares e
tentar mobilizar investimentos para os seus próprios países, a semelhança
daquilo que Beijing está a fazer para os africanos.
Para a ironia do destino, ainda num
passado recente, muitos lideres ocidentais evitavam a todo o custo tratar esta
mesma China com decência, e muito menos com seu próprio nome, e preferiam
chavões como “A China Vermelha”’ ou “A China Comunista”. Hoje, os mesmos pedem
o seu apoio para ultrapassar a grave crise financeira que se abateu sobre os
seus países e que ameaça a sua estabilidade política e social, como ruir os
seus próprios edifícios democráticos, porque, segundo Mandela, “não há
democracia quando o povo está de barrigas vazias”.
Peritos ocidentais dizem
que China está a ajudar África a prosperar
Muitos peritos, incluindo o
Professor norte-americano Morten Jervern, concluíram que graças à ajuda chinesa
em particular, e da Ásia em geral, África deverá atingir em 2050 um PIB igual
ao EUA e da Europa combinado.
Apontam Moçambique Gana e Nigéria
como sendo alguns países que irão contribuir para que isso aconteça.
Tal como voltou a defender Guebuza
nesta conferência de imprensa, o professor Jerven é também contra as
estatísticas que colocam certos países na cauda das listas de certas avaliações
económicas, como Moçambique e Gana.
Jerven diz, no seu estudo que as
metodologias usadas são ultrapassados porque ignoram os progressos económicos
registados em determinados países.
Refere que economicamente, “o
continente deu um grande salto” comparativamente maior ao pelas estatísticas
dos seus respectivos países.
Defende esta sua tese no seu livro
intitulado “Poor Numbers: how we are misled by African development statistics
and what to do about it”, vincando que a metodologia usada não mostra a
realidade.
Ele sustenta que nos próximos 40
anos, “África será a máquina económica do Mundo’’, não só porque a Europa está
em crise irreversível, e os EUA em declínio, mas, acima de tudo, porque África
tem imensuráveis recursos, como Moçambique que está sentado em muitos deles’’.
Este facto é aliado a sua população
que está sempre a crescer, ao invés dos países ocidentais, que está a
envelhecer.
Diálogo com a Renamo terá
um desfecho a favor do povo porque o contrário seria uma outra tragédia
Questionado se o diálogo com a
Renamo poderá ter um desfecho que evite a eclosão de uma nova guerra, Guebuza
foi categórico, vincando que não vê nada que justifique “um recuo que nos leve
para trás do que éramos há 20 anos, depois nos termos reconciliado”, isto é,
‘’depois de todo este esforço de anos em que o povo soube muito bem
reconciliar-se, e manter a todo o custo a paz de que desfrutamos’’.
“Recuarmos para 20 anos atrás,
seria uma grande tragédia e um novo trauma para o povo’’, disse Guebuza em tom
convicto, frisando que não espera uma nova guerra em Moçambique.
Vincou que “isso seria um grande
erro”, deixando entender que não vê nada que seja insolúvel, desde que haja bom
senso de ambas as partes e, acima de tudo, apego pelo bem-estar dos
moçambicanos que já saborearam a paz e o que de bom e útil ela é capaz de
proporcionar a todos.
Guebuza diz que críticas ao
governo é algo natural
A AIM também quis saber as críticas
proferidas por alguns cidadãos alegando que Moçambique está muito mal. Estas
críticas contrastam com os elogios feitos pelos estrangeiros de que o Pais está
no bom caminho, dado que é um dos 10 países do mundo e um dos sete africanos,
que registaram nos últimos 10 anos um elevado crescimento.
Em resposta Guebuza disse que “isso
é muito normal”. Fez ver que para quem está no poder é normal ser criticado por
uns e aplaudido por outros.
Ele ironizou que estas críticas
surgem mesmo quando o que se está a fazer é bom ou é susceptível de vir a
beneficiar as pessoas que proferiram essas mesmas críticas.
Como exemplo cita a construção da
ponte que ligará a cidade de Maputo ao distrito da Katembe.
Os críticos deste projecto
argumentam que a melhor solução seria a aquisição de cinco batelões. Outros
alegam que a construção da estrada circular de Maputo é um dinheiro mal gasto,
porque melhor seria investir na agricultura.
Guebuza fez ver que há criticas que
são feitas por pessoas que estão contra porque não querem ver nada ser feito
pelo seu governo, ao mesmo tempo que há os que criticam porque ainda não
perceberam a razão de ser das coisas, ou porque pensam que nós estamos pior que
outros países. (RM/AIM)
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