quarta-feira, 29 de maio de 2013

Brasil/Política Migratória: UNILA sedia debate da OIM sobre direitos humanos na política migratória brasileira



28 maio 2013, Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)  http://www.unila.edu.br (Brasil)

Publicado por Renan Xavier

O Colóquio Debate sobre direitos humanos na política migratória brasileira foi realizado nos últimos dias 23 e 24 de maio na UNILA Centro, em Foz do Iguaçu, reunindo mais de 40 atores diretamente envolvidos com migração em um debate sobre políticas migratórias. Representantes da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, de entidades representativas de migrantes (no Brasil e exterior), sociedade civil, setor público e especialistas de instituições acadêmicas foram convidados ao debate.
Além dos participantes de Foz do Iguaçu, estiveram presentes representantes de Curitiba e dos estados vizinhos de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Esta foi a terceira edição do mesmo evento já realizado pela OIM, em São Paulo e Manaus, no âmbito do Projeto Promoção de direitos na política migratória brasileira do Departamento de Estrangeiros (DEEST). De acordo com a professora de Relações Internacionais e Integração, Gisele Ricobom, este foi o último grande encontro do grupo antes da Conferência Nacional de Migrações e Refúgio, agendada para ano que vem. Para ela, há duas principais razões que fizeram com que o curso colaborasse com o evento. "Primeiro porque a UNILA é espaço privilegiado para desenvolvimento de pesquisa na área de migrações e conhecer os atores que cuidam do tema, no âmbito nacional e internacional, é fundamental para fomentá-lo como objeto de estudo em nossa Universidade. Segundo porque o propósito do Colóquio é colaborar com o delineamento de uma política nacional migratória pautada nos direitos humanos, o que é extremamente necessário nesse momento para o Brasil" relatou a professora, que organizou localmente o evento.

O principal objetivo do encontro foi analisar os dados coletados pelo mapeamento das instituições envolvidas com a temática migratória no Brasil, executado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), em parceria com o Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça, com vistas a contribuir para políticas migratórias pautadas pelos direitos humanos. O resultado esperado era de ampliação do debate sobre direitos humanos na política migratória brasileira e o fortalecimento do diálogo social entre os atores que participam do processo de construção e implementação da política. Um diretório com os dados das instituições que participaram do mapeamento pode ser visitado no site www.brasil.iom.int, onde também encontram-se mais informações sobre o projeto.

O conteúdo que foi debatido trata-se do resultado do questionário realizado entre dezembro de 2012 e abril deste ano para mapeamento das instituições envolvidas na temática migratória, em especial, as respostas às quatro perguntas abertas. Os temas principais foram discutidos em quatro sessões que aconteceram durante os dois dias do Colóquio. Foram eles: os serviços fornecidos aos imigrantes, as dificuldades que as instituições enfrentam para assegurar tais serviços, as dificuldades que os migrantes enfrentam referentes a serviços e as prioridades indicadas pelas instituições, nos questionários, para a política migratória atualmente, no país.

O fenômeno da migração
Alguns dados apresentados revelam o quão importante é a discussão deste tema. De acordo com Carmen Lussi, coordenadora do Colóquio, há cerca de 1,6 milhões de imigrantes no país, sendo que 50% morando no estado de São Paulo, 25% no Rio de Janeiro e o restante espalhados pelo país. Os dados são da Polícia Federal. Ainda, estima-se que 500 mil brasileiros que moravam no estrangeiro retornaram ao país nos últimos cinco anos. Os organizadores do evento lembram que os dados estatísticos sobre migração no Brasil são informações que precisam de contextualização e devem ser vistas como dados parciais, pois os registros contém dados que precisam ser interpretados devidamente e devem ser considerados também problemas no processamento e até mesmo na coleta de dados.

As respostas dos questionários aplicados pelo Projeto OIM – DEEST/SNJ permitem outras compreensões. Por exemplo, que os imigrantes e as instituições que atuam com migração sentem falta de serviços fundamentais como educação e informação. Ainda, que mesmo que imigração seja uma questão federal, identificada como um tema específico da polícia federal, a maioria dos aspectos relacionados com a gestão migratória impactam diretamente os âmbitos locais, onde a população migrante mora e trabalha, ou seja, a esfera municipal e, com esta, os governos locais e estaduais.

A diversidade de atores e a qualidade e profundidade do debate, assim como a metodologia participativa adotada no evento, com capacidade de valorizar os sujeitos migrantes como protagonistas, mostraram a pertinência deste projeto ao país. A expectativa expressa pelos participantes na conclusão dos trabalhos, segundo Carmen, foi a de que este processo continue, se amplie e se consolide por ser promissor para a implementação de uma perspectiva de direitos na política migratória brasileira, com foco não só no controle de fronteiras, mas, sobretudo, capaz de pensar e dar respostas aos temas da integração e da qualidade de vida de todos os residentes no país, independente do lugar onde nasceram, como preza a Constituição brasileira.

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