25 maio
2013 Presidência da República Planalto.gov.br http://www2.planalto.gov.br
(Brasil)
Adis Abeba-Etiópia, 25 de maio de 2013
Excelentíssimo
senhor Hailemariam Desalegn, primeiro-ministro da Etiópia.
Excelentíssimas
senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo dos países União Africana e
dos países convidados.
Senhora
Dlamini Zuma, presidente da Comissão da União Africana.
Senhor
Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas.
Senhoras
e senhores membros das delegações.
Senhoras
e senhores,
É com
emoção e honra que participo dessa histórica reunião em que se celebram os 50
anos da União Africana. Agradeço ao primeiro-ministro Hailemariam Desalegn,
presidente da União Africana, a calorosa hospitalidade e o felicito pela
liderança que vem demonstrando à frente da organização da União Africana.
Quero
também expressar minha enorme satisfação ao ver uma mulher tão competente à
frente da Comissão da União Africana, a senhora Dlamini Zuma.
Suas
excelências, senhores chefes de Governo,
Hoje
estamos reunidos na histórica Adis Abeba para celebrar meio século desse
grandioso projeto que é a União Africana. Um projeto de integração, um projeto
de solidariedade e um projeto de construção de um destino comum. Minha geração
teve como uma de suas referencias políticas centrais o movimento de
descolonização da África que marcou de forma indelével a segunda metade do
século passado. Os escritos e exemplos dos grandes líderes, dos pais fundadores
da emancipação africana sempre estiveram presentes nas ações e nas reflexões
dos que no Brasil e na América Latina lutaram contra a opressão, pela
democracia e por uma sociedade justa capaz de oferecer. oportunidades iguais a
seus filhos.
Quero, na
pessoa do ex-presidente Kenneth Kaunda, aqui presente, homenagear aos que deram
os primeiros passos nessa caminhada.
Quero
também nesse momento prestar a minha homenagem, a homenagem do meu governo e do
Brasil à grande Luiza Mahin, brasileira, africana nagô que foi escravizada no
Brasil e lutou corajosamente na resistência à escravidão em meu país ajudando a
construir a nossa liberdade. Registro aqui o reconhecimento do governo
brasileiro a todas as heroínas que lutaram e lutam pela igualdade e pela
dignidade humana no Brasil, na América Latina e na África.
Esta
celebração aqui hoje tem significado maior neste momento em que as perspectivas
de desenvolvimento econômico e social e de fortalecimento da democracia se
tornam mais consistentes e promissoras em todo o continente africano e em
todo o continente latino-americano.
Logramos
nos últimos anos o Brasil, a América Latina e a África muitas conquistas. Mas
temos muito o que trabalhar para atingir os níveis desejados de educação, de
saúde, de alimentação, moradia e segurança para os nossos povos. Nós, que fomos
oprimidos e colonizados temos um grande caminho pela frente, demos vários
passos, mas como bem disse o querido Nelson Mandela e eu cito: “após escalar
uma alta montanha descobrimos apenas que há muitas outras montanhas para
escalar”. Por isso, por essa citação de Mandela na tarefa do desenvolvimento
nós temos também grandes ativos. Os grandes ativos e os grandes recursos da
África são decisivos para a África assim como os grandes recursos da América
Latina são decisivos para nós, porque projetam o continente africano e o
continente americano no futuro. Aqui na África suas altas taxas de crescimento
econômico acima da média mundial, a urbanização acelerada por que passa a
áfrica, a juventude de sua população, as suas imensas riquezas naturais e a
consolidação da democracia tem todas as condições para trazer um
desenvolvimento com inclusão social cada vez maior.
Essa
Cúpula tem como temas centrais o pan-africanismo e o renascimento africano.
Essa Cúpula reconhece assim a magnífica diversidade deste continente como
patrimônio a ser protegido, como soberania a ser defendida que complementa o
ideal de unidade deste continente. Esta Cúpula valoriza a relação indissociável
entre desenvolvimento, inclusão social, respeito ao meio ambiente, democracia e
paz.
A
saudável diversidade africana também é algo que temos na América do Sul. Com
base nesta diversidade nós também avançamos na América Latina no processo de
unidade entre as nações do nosso continente de forma similar aos êxitos que o
processo de unificação africano foi capaz de revelar. Os avanços da União
Africana assim como os da Unasul, a União das Nações Sul-Americanas, encerram
um ensinamento fundamental, um ensinamento simples, mas fundamental. Quem deve
resolver os problemas das nossas regiões somos nós mesmos respeitando sempre as
diferenças que por ventura existam entre nós.
Eu queria
saudar também a ASA, a reunião biregional da África e da América Latina feitas
por nós e tão estratégica para o futuro dos nossos dois continentes. Somos nós
os responsáveis por resolver os nossos problemas. Nós, que temos o
conhecimento, a perspectiva e a vontade política para superar os obstáculos que
restrinjam nosso desenvolvimento, que avancem no sentido da melhoria de vida da
nossa população e no sentido do amadurecimento da nossa democracia.
Senhoras
e senhores,
O Brasil
vê o continente africano como irmão e vizinho próximo. Temos semelhanças e
afinidades profundas. Mais da metade dos quase 200 milhões de brasileiros se
reconhece com afro-descendentes. E esta descendência é um dos veios mais ricos
que conforma a nação brasileira. Temos muito orgulho das nossas raízes
africanas. Sim, o povo africano está no cerne da construção da nossa nação e
explica muito o que somos e tudo aquilo que nós temos certeza que nos
tornaremos.
Nossos
interesses comum são amplos, buscamos o verdadeiro envolvimento - nós,
Brasil, América Latina e África. Desenvolvimento que exige combate à pobreza,
que exige a promoção da inclusão da nossa população aos ganhos das riquezas dos
nossos paises, que exige educação de qualidade, que exige inovação, acesso à
tecnologia e atenção à saúde dos nossos povos. Um desenvolvimento fundado no fortalecimento
da nossa agricultura e da nossa indústria, no progresso científico e
tecnológico, na expansão de nossas infraestruturas, em nossa segurança
energética e alimentar e, sobretudo, também, na proteção do meio ambiente. Em
suma, afirmando aquela propaganda da Rio+20, é possível, sim, crescer, incluir,
conservar e proteger. É essa a definição de desenvolvimento sustentável que
capaz de levar os nossos povos a uma nova era.
Nos
últimos dez anos o Brasil dedicou-se com muito empenho a fortalecer as suas
relações com a África. O governo brasileiro assumiu liderança essencial nesse
processo, e hoje vemos com orgulho cada vez mais que as relações com o
continente africano se pautam por genuíno interesse da sociedade civil
brasileira e do setor privado. Nosso engajamento com a África é de longo prazo
e tem um sentido estratégico.
Reconhecemos
não só o renascimento africano, mas também a importância estratégica que a
África terá para a humanidade no século XXI.
Sempre
persistirá nosso propósito de assegurar, de tornar disponíveis investimento,
cooperação técnica e transferências tecnológicas, especialmente as sociais para
apoiar o desenvolvimento dos países africanos na base da cooperação Sul-Sul que
assegura avanços, e lucros mútuos para ambas as partes.
A África
escreve hoje uma nova página de sua história e a escreve como uma narrativa
africana sobre questões africanas. Um provérbio da África Ocidental que eu
gosto muito diz o seguinte, eu vou citar: “Até que o leão tenha seu próprio
narrador, o caçador sempre ficará com a parte mais gloriosa da história”. Estou
segura que já chegou a hora do leão africano escrever sua própria história
assim como chegou a hora da onça brasileira escrever também sua própria
história.
O Brasil
quer compartilhar esse novo momento. Será um momento de paz, de liberdade, de
inclusão social e de desenvolvimento, um momento de soberania. Tudo nos leva a
isso. Os laços enraizados no passado comum, o entusiasmo com as realizações do
presente e a visão de um futuro que podemos construir juntos.
Meus
parabéns à África e a cada um dos governos e povos aqui representados.
Viva a
União Africana, viva os povos da África, viva a América Latina. Muito obrigada.
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