quarta-feira, 29 de maio de 2013

União Africana, Brasil/Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na cerimônia de comemoração do Cinquentenário da União Africana



25 maio 2013 Presidência da República Planalto.gov.br http://www2.planalto.gov.br (Brasil)

Adis Abeba-Etiópia, 25 de maio de 2013

Excelentíssimo senhor Hailemariam Desalegn, primeiro-ministro da Etiópia.
Excelentíssimas senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo dos países União Africana e dos países convidados.
Senhora Dlamini Zuma, presidente da Comissão da União Africana.
Senhor Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas.
Senhoras e senhores membros das delegações.
Senhoras e senhores,

É com emoção e honra que participo dessa histórica reunião em que se celebram os 50 anos da União Africana. Agradeço ao primeiro-ministro Hailemariam Desalegn, presidente da União Africana, a calorosa hospitalidade e o felicito pela liderança que vem demonstrando  à frente da organização da União Africana.

Quero também expressar minha enorme satisfação ao ver uma mulher tão competente à frente da Comissão da União Africana, a senhora Dlamini Zuma.

Suas excelências, senhores chefes de Governo,

Hoje estamos reunidos na histórica Adis Abeba para celebrar meio século desse grandioso projeto que é a União Africana. Um projeto de integração, um projeto de solidariedade e um projeto de construção de um destino comum. Minha geração teve como uma de suas referencias políticas centrais o movimento de descolonização da África que marcou de forma indelével a segunda metade do século passado. Os escritos e exemplos dos grandes líderes, dos pais fundadores da emancipação africana sempre estiveram presentes nas ações e nas reflexões dos que no Brasil e na América Latina lutaram contra a opressão, pela democracia e por uma sociedade justa capaz de oferecer. oportunidades iguais a seus filhos.

Quero, na pessoa do ex-presidente Kenneth Kaunda, aqui presente, homenagear aos que deram os primeiros passos nessa caminhada.

Quero também nesse momento prestar a minha homenagem, a homenagem do meu governo e do Brasil à grande Luiza Mahin, brasileira, africana nagô que foi escravizada no Brasil e lutou corajosamente na resistência à escravidão em meu país ajudando a construir a nossa liberdade. Registro aqui o reconhecimento do governo brasileiro a todas as heroínas que lutaram e lutam pela igualdade e pela dignidade humana no Brasil, na América Latina e na África.

Esta celebração aqui hoje tem significado maior neste momento em que as perspectivas de desenvolvimento econômico e social e de fortalecimento da democracia se tornam mais consistentes e  promissoras em todo o continente africano e em todo o continente latino-americano.

Logramos nos últimos anos o Brasil, a América Latina e a África muitas conquistas. Mas temos muito o que trabalhar para atingir os níveis desejados de educação, de saúde, de alimentação, moradia e segurança para os nossos povos. Nós, que fomos oprimidos e colonizados temos um grande caminho pela frente, demos vários passos, mas como bem disse o querido Nelson Mandela e eu cito: “após escalar uma alta montanha descobrimos apenas que há muitas outras montanhas para escalar”. Por isso, por essa citação de Mandela na tarefa do desenvolvimento nós temos também grandes ativos. Os grandes ativos e os grandes recursos da África são decisivos para a África assim como os grandes recursos da América Latina são decisivos para nós, porque projetam o continente africano e o continente americano no futuro. Aqui na África suas altas taxas de crescimento econômico acima da média mundial, a urbanização acelerada por que passa a áfrica, a juventude de sua população, as suas imensas riquezas naturais e a consolidação da democracia tem todas as condições para trazer um desenvolvimento com inclusão social cada vez maior.

Essa Cúpula tem como temas centrais o pan-africanismo e o renascimento africano. Essa Cúpula reconhece assim a magnífica diversidade deste continente como patrimônio a ser protegido, como soberania a ser defendida que complementa o ideal de unidade deste continente. Esta Cúpula valoriza a relação indissociável entre desenvolvimento, inclusão social, respeito ao meio ambiente, democracia e paz.

A saudável diversidade africana também é algo que temos na América do Sul. Com base nesta diversidade nós também avançamos na América Latina no processo de unidade entre as nações do nosso continente de forma similar aos êxitos que o processo de unificação africano foi capaz de revelar. Os avanços da União Africana assim como os da Unasul, a União das Nações Sul-Americanas, encerram um ensinamento fundamental, um ensinamento simples, mas fundamental. Quem deve resolver os problemas das nossas regiões somos nós mesmos respeitando sempre as diferenças que por ventura existam entre nós.

Eu queria saudar também a ASA, a reunião biregional da África e da América Latina feitas por nós e tão estratégica para o futuro dos nossos dois continentes. Somos nós os responsáveis por resolver os nossos problemas. Nós, que temos o conhecimento, a perspectiva e a vontade política para superar os obstáculos que restrinjam nosso desenvolvimento, que avancem no sentido da melhoria de vida da nossa população e no sentido do amadurecimento da nossa democracia.

Senhoras e senhores,

O Brasil vê o continente africano como irmão e vizinho próximo. Temos semelhanças e afinidades profundas. Mais da metade dos quase 200 milhões de brasileiros se reconhece com afro-descendentes. E esta descendência é um dos veios mais ricos que conforma a nação brasileira. Temos muito orgulho das nossas raízes africanas. Sim, o povo africano está no cerne da construção da nossa nação e explica muito o que somos e tudo aquilo que nós temos certeza que nos tornaremos.

Nossos interesses comum são amplos, buscamos o verdadeiro envolvimento -  nós, Brasil, América Latina e África. Desenvolvimento que exige combate à pobreza, que exige a promoção da inclusão da nossa população aos ganhos das riquezas dos nossos paises, que exige educação de qualidade, que exige inovação, acesso à tecnologia e atenção à saúde dos nossos povos. Um desenvolvimento fundado no fortalecimento da nossa agricultura e da nossa indústria, no progresso científico e tecnológico, na expansão de nossas infraestruturas, em nossa segurança energética e alimentar e, sobretudo, também, na proteção do meio ambiente. Em suma, afirmando aquela propaganda da Rio+20, é possível, sim, crescer, incluir, conservar e proteger. É essa a definição de desenvolvimento sustentável que capaz de levar os nossos povos a uma nova era.

Nos últimos dez anos o Brasil dedicou-se com muito empenho a fortalecer as suas relações com a África. O governo brasileiro assumiu liderança essencial nesse processo, e hoje vemos com orgulho cada vez mais que as relações com o continente africano se pautam por genuíno interesse da sociedade civil brasileira e do setor privado. Nosso engajamento com a África é de longo prazo e tem um sentido estratégico.
Reconhecemos não só o renascimento africano, mas também a importância estratégica que a África terá para a humanidade no século XXI.

Sempre persistirá nosso propósito de assegurar, de tornar disponíveis investimento, cooperação técnica e transferências tecnológicas, especialmente as sociais para apoiar o desenvolvimento dos países africanos na base da cooperação Sul-Sul que assegura avanços, e lucros mútuos para ambas as partes.

A África escreve hoje uma nova página de sua história e a escreve como uma narrativa africana sobre questões africanas. Um provérbio da África Ocidental que eu gosto muito diz o seguinte, eu vou citar: “Até que o leão tenha seu próprio narrador, o caçador sempre ficará com a parte mais gloriosa da história”. Estou segura que já chegou a hora do leão africano escrever sua própria história assim como chegou a hora da onça brasileira escrever também sua própria história.

O Brasil quer compartilhar esse novo momento. Será um momento de paz, de liberdade, de inclusão social e de desenvolvimento, um momento de soberania. Tudo nos leva a isso. Os laços enraizados no passado comum, o entusiasmo com as realizações do presente e a visão de um futuro que podemos construir juntos.

Meus parabéns à África e a cada um dos governos e povos aqui representados.
Viva a União Africana, viva os povos da África, viva a América Latina. Muito obrigada.

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