Influência dos
países-membros vai aumentar com entrada de brasileiro na direção-geral da OMC
(Organização Mundial do Comércio). Apesar de novos países demonstraram vontade
de aderir ao grupo dos país em desenvolvimento, é preciso estabelecer critérios
mais rigorosos.
Essa é a primeira vez desde a
criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, que um membro do
Brics irá liderar esse órgão internacional. Roberto Azevêdo já representa o
Brasil na OMC desde 2008, e irá suceder o atual diretor-geral, o
francês Pascal Lamy, a partir de setembro deste ano.
“Para o Brasil, é
claro que, devido ao seu empenho e experiência, o país será capaz de conduzir a
organização em direção a uma ordem econômica mundial mais justa e dinâmica”,
saudou a presidente Dilma Rousseff.
A escolha de Azevedo terá impacto
sobre o foco da política do organismo internacional composto por
159 países-membros. As nações em desenvolvimento, lideradas pelos Brics,
terão maior influência sobre questões controversas relacionadas com agricultura
e subsídios; assuntos que não foram resolvidos devido à
polarização entre
países em desenvolvimento e desenvolvidos desde a rodada de Doha no âmbito da
OMC, em 2001. A questão da taxa de juros também é um impasse entre os membros
do organização. Enquanto os países desenvolvidos têm buscado uma taxa de juros
perto de zero para estimular o crescimento de suas economias, os países em
desenvolvimento se opuseram a essas medidas econômicas.
Antes mesmo da votação, a União
Europeia tinha manifestado apoio ao seu concorrente, o ex-ministro do Comércio
mexicano, Herminio Blanco. As relações mais próximas de Blanco com os EUA e
Canadá, por ter sido um dos principais personagens por trás da criação do
Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), faziam
dele predileto também na América do Norte. A derrota do mexicano pode
comprometer as estratégias dos países desenvolvidos do Ocidente. “Precisamos
tentar movimentar a organização para a frente, e que isso não tem nada a ver
com as políticas específicas de um país ou de outro”, declarou Azevêdo.
O perfil crescente dos Brics também
atraiu outros países que desejam aderir ao grupo. O presidente do Egito,
Mohamed Mursi, já tinha comparecido à cúpula dos Brics em Durban, em março
deste ano. Porém, durante visita ao Brasil no início deste mês, Mursi reiterou
que “o Egito está exercendo os esforços possíveis se juntar aos Brics, por
alcançar um desenvolvimento real nas mais diversas aéreas”. Resta agora aos
membros do grupo tomar uma decisão sobre o pedido do presidente egípcio. O
Brics surgiu oficialmente como um bloco único e informal, sem a África do Sul,
na cidade russa de Iekaterinburgo, em 2009. Os sul-africanos se juntaram ao
grupo em 2011. No caso do Egito, o país enfrenta uma grave crise financeira,
especialmente após a revolta popular em 2011, e o déficit orçamentário, de
acordo com estimativa de abril passado, foi cerca de 10,1% do seu PIB. No
entanto, o Egito é um ator crucial no mundo árabe, com potencial para se
transformar em líder econômico da região.
É provável que os líderes do grupo
tenham que fixar critérios para admissão de novos membros. Assim como o perfil
do grupo deverá crescer nos próximos anos, sua atratividade para outras nações
também vai aumentar. O Brics é composto por nações de rápido crescimento que
também apresentam elevada influência geopolítica e econômica no mundo. Mas,
mesmo não podendo fechar as portas para outras nações com perfil semelhante, é
preciso criar certos requisitos para a admissão de novos integrantes.
Os ministros de Finanças dos países
Brics se reuniram em Washington no mês passado e deliberaram sobre a criação do
banco de desenvolvimento do grupo, originalmente proposto pela Índia durante a
cúpula de Nova Déli, em março de 2012. O ministro de Finanças indiano, P.
Chidambaram, após reunião com seus homólogos, declarou que “os ministros
reiteraram o compromisso de estabelecer o banco do Brics”. “Antes de ir para o
Brasil para a próxima cúpula, isto é, daqui menos de um ano, esperamos ter
concluído nossa lição de casa”, acrescentou. Chidambaram ressaltou ainda que as
autoridades dos países estão trabalhando nos detalhes do banco, incluindo as
questões relacionadas ao seu capital e localização.
Ao palestrar no Fórum Econômico
Mundial sobre a África, na semana passada, o presidente sul-africano Jacob
Zuma, disse que a adesão do país ao Brics certamente elevou seu perfil, e
também proporcionou aos outros membros um vasto mercado para investimento na
África. Ele retratou a África do Sul como uma porta de entrada para o
continente, com mais de um bilhão de habitantes e extensos recursos naturais.
Sobre a criação do banco de desenvolvimento do Brics, Zuma disse que “parte da
razão pela qual pensamos ser importante criar o banco é porque precisamos de um
órgão financeiro que responda às oportunidades e as necessidades do mundo em
desenvolvimento, não apenas dos países ricos”. Ele expressou confiança de que
até a cúpula no Brasil, a ideia do banco estará bem próxima à realidade.
Há também o projeto de conectar
todos os países-membros por meio de cabo de fibra ótica para aumentar o volume
e a velocidade de transmissão de informação entre eles e diminuir a dependência
em relação aos países desenvolvidos. Nesse contexto, o perfil dos Brics vai
certamente evoluir com o crescimento dos países-membros. Os integrantes
apresentaram crescimento, apesar da desaceleração econômica global, e seu
status vai aumentar ainda mais com o passar dos anos. Atualmente, os membros
representam 40% da população do planeta e 25% do PIB mundial.
A elevação de um dos seus membros
como o líder da OMC irá definitivamente aumentar o poder de voz dos países em
desenvolvimento e ajudar a moldar a ordem econômica global em evolução. Além de
sua influência econômica, o grupo deve também desempenhar um papel político nos
assuntos globais. Durante a cúpula de Durban, os membros defenderam uma
transição política na Síria e uma resolução pacífica para a questão iraniana.
Seja enfrentando crescentes tensões em várias partes do mundo, incluindo no
Oriente Médio, ou lidando com questões transnacionais como o terrorismo ou o
tráfico de drogas, ou até mesmo reformulando a ordem econômica internacional, o
Brics poderá trazer imparcialidade e igualdade para a discussão dos assuntos
globais.
*Debidatta Aurobinda
Mahapatra é um comentarista indiano, com foco em conflitos, desenvolvimento
e aspectos estratégicos das políticas euroasiáticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário