30 abril 2013, ADITAL
Agência Frei Tito para a America Latina http://www.adital.com.br (Brasil)
A jovem Kadiwéu Carla Mayara
Alcântara Cruz foi aprovada na última prova da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e tornou-se a primeira advogada indígena de Mato Grosso do Sul. O estado
tem a segunda maior população indígena do país - cerca de 72 mil pessoas de
oito etnias diferentes. Atualmente, contando com Carla, há apenas quatro
advogados indígenas. Ela foi a primeira mulher indígena a conseguir o título.
Filha de mãe Terena e pai Kadiwéu,
a advogada nasceu e cresceu na aldeia Kadiwéu
Alves de Barra, que pertence ao
município de Porto Murtinho.
A oportunidade de ingressar no
Ensino Superior aconteceu quando a mãe, professora, conheceu o historiador
Antônio Brand durante um curso de capacitação. "O professor Brand disse
para a minha mãe que estava começando um projeto de apoio a acadêmicos
indígenas na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e sugeriu que eu viesse
estudar em Campo Grande”, explica. Carla ingressou no curso de Direito em 2004
e foi uma das pioneiras no desenvolvimento do projeto Rede de Saberes de apoio
à permanência de acadêmicos indígenas no ensino superior. Concluiu a graduação
em 2009.
Segundo Carla, os desafios passaram
pela adaptação à cidade até à dificuldade com as matérias "uma das
principais dificuldades dos acadêmicos indígenas é a língua. Estamos mais
acostumados com nossas línguas tradicionais, então ás vezes é mais difícil
compreender os conteúdos. Além disso, a rotina da faculdade é muito diferente,
a adaptação foi complicada.
Na época éramos poucos indígenas na
UCDB, no máximo dez. Eu consegui superar graças ao professor Brand e o projeto
Rede de Saberes. Os cursos de extensão e monitorias e também os encontros
ajudaram muito”.
Passar no exame da Ordem foi o
último desafio para realizar o sonho de ser advogada. "Agora eu pretendo
advogar em prol dos indígenas. O direito indígena ainda é muito desconhecido
pelos profissionais da área, muitos não sabem como aplicar. Quero continuar
estudando. Fazer mestrado, doutorado e ajudar minha comunidade”, afirma.
Projeto Rede de Saberes
O Rede de Saberes é um projeto de
apoio à permanência de indígenas no ensino superior viabilizado com recursos da
Fundação Ford. Teve início em 2005 e é uma parceria entre a UCDB por meio do
Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (NEPPI), a Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), a Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul de Aquidauana
(UFMS).
Ele estimula e orienta a iniciação
científica, tem laboratório de informática e oferece cursos de extensão e
monitorias. O coordenador geral é o professor Antônio Hilário Aguilera (UFMS).
Na UCDB, o projeto é coordenado pela professora Eva Ferreira e atualmente
atende 85 acadêmicos indígenas.
Por Equipe de Comunicação e Design
NEPPI/UCDB
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