4 de Junho de 2013, 4 junho 2013, Vermelho
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mais que se discuta, qualquer acordo econômico é também um compromisso
político. O pensamento neoliberal apresenta suas opções políticas (por exemplo,
promover um modelo econômico que enriquece os ricos e espolia os pobres) como
se fossem resultado de cálculo técnico ou de alguma racionalidade abstrata,
quando, na verdade são exatamente o contrário.
Por Atilio Borón
Por Atilio Borón
Isso vale tanto para os acordos firmados no plano doméstico quanto no plano internacional. Por isso não surpreende a provocação que vem do governo de Juan M. Santos – que agora diz que tudo não passou de “mal entendido” – ao receber o candidato derrotado da direita venezuelana Henrique Capriles. Ao fazê-lo, o presidente colombiano emprestou alguma legitimidade às escandalosas “denúncias” de Capriles – refutadas por sucessivas auditorias que examinaram os resultados das eleições de 14 de abril – e alinhou-se irresponsavelmente com o líder da ala fascista e mais radical e golpista da direita venezuelana.
Componente fundamental desse projeto é o ataque ininterrupto, a tentativa de deslegitimar e de desestabilizar os governos bolivarianos e progressistas da região. O sonho impossível dos EUA é restabelecer na América Latina a situação que houve antes da Revolução Cubana, quando as ordens da Casa Branca eram obedecidas sem contestação pelos governos da Região.
Esse é o sentido da tão divulgada e propagandeada Aliança do Pacífico, constituída de México, Colômbia, Peru e Chile, que, empurrada por Washington, já organizou nada menos que sete reuniões de cúpula em pouco mais de um ano.
O objetivo desse hiperativismo diplomático é, principalmente, político e, em menor medida, econômico. É político, porque visa a refazer o mapa sócio-político regional, acabando com os governos dos países da Alba e inclusive com seus aliados, como os governos de Argentina e Brasil, “cúmplices”, segundo Washington, no processo que derrotou a Alca. E é objetivo econômico, porque a Aliança do Pacífico é a mais importante peça da contraofensiva imperialista destinada agora, de fato, a tentar conseguir uma “outra” Alca, sob novo nome, e a potencializar o papel dos “cavalos de Tróia” que Washington tem enviado contra os governos “inimigos”, para boicotar, por dentro, projetos que a Casa Branca rejeita visceralmente, como a Unasul, a Celac e, um pouco menos, o Mercosul.
Não surpreende que governos e políticos os mais reacionários da América do Sul – e também os da Europa! – disputem entre si o duvidoso privilégio de ser o primeiro a unir-se à Aliança do Pacífico, concebida e orquestrada pelos EUA para defender seus próprios interesses, servindo-se de seus peões latino-americanos e europeus.
Que sentido teria que países como Espanha, Austrália e Japão, que hoje têm status de observadores, tenham declarado que solicitarão, ainda em 2013, o direito de converter-se em membros plenos da Aliança do Pacífico? Austrália e Japão precisam talvez desse instrumento norte-americano, para vincular-se ao novo centro de gravidade da economia mundial, que está, não distante, mas precisamente em seu entorno? Ou o fazem exclusivamente porque são países submetidos militar, econômica e diplomaticamente à vontade da Casa Branca e, assim, fazem o que são mandados fazer?
Claro está que é movimento engendrado nos EUA, do qual Santos é o principal articulador (não esqueçamos e a última e fundamental reunião da “aliança” aconteceu há poucos dias, 22-23 de maio, em Cali, Colômbia), e que exige de seus protagonistas submissão abjeta aos éditos e prioridades dos EUA.
Para a Casa Branca, hoje, nada é mais importante que aproveitar o momentâneo desconcerto provocado pela morte de Hugo Chávez para “pôr ordem” no que o secretário de Estado John Kerry chamou de “quintal dos fundos de Washington”– expressão que, de tão reveladora, deixara de ser usada há muito tempo. E Santos obedeceu e recebeu um político desprestigiado e já derrotado nas urnas, que é apoiado pelo que há de pior na direita latino-americana e europeia – principalmente pelo corrupto Partido Popular de España (PPE), cujo chefe clandestino é José M. Aznar – culpado por haver instigado a prática de crimes que culminaram no assassinato de onze chavistas e de mais de uma centena de feridos, além da destruição de clínicas populares de atendimento médico e prédios públicos na Venezuela.
O objetivo do giro latino-americano de Capriles é desprestigiar a qualquer custo o governo de Maduro, inclusive deteriorando ainda mais as já difíceis relações entre Colômbia e Venezuela. É Washington fazendo ver aos seus estados-clientes que não haverá limites éticos ou escrúpulo de tipo algum, para tentar isolar o governo da Venezuela, caracterizá-lo como “estado bandido”, e enfraquecê-lo, no confronto com Washington.
Para isso se combinarão estratégias de sedução hipócrita – Joe Biden elogiando o Brasil como potência já “emergida”, mas sem dizer que o Brasil é o país mais cercado por bases militares dos EUA, de toda a América Latina – e outras estratégias mais brutais, como as que Biden com certeza comunicou ao presidente Santos na visita que lhe fez.
E haverá também iniciativas como a da Aliança do Pacífico, que, por causa dos objetivos que tem e da extraordinária mobilização de recursos, será arriscado não levar em conta. Tudo indica que o povo e o governo da Venezuela estão bem conscientes da ameaça que pesa contra eles, que saberão resistir e vencer.
A Venezuela e o povo venezuelano sabem que contarão com a solidariedade militante da maioria dos povos e governos de Nuestra América, os quais, com suas lutas, derrotarão outra vez a velha ideia da velha Alca, que agora reaparece com outro nome. No nauseabundo contexto internacional que se configura, deve-se destacar o honrado gesto do presidente Rafael Correa, o qual, por seu Chanceler, informou que o Equador não receberia Capriles.
Tradução: Coletivo Vila Vudu
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