segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Timor-Leste/«Fretilin não assumirá compromissos deste Governo», afirma Mari Alkatiri


Um "futuro governo" da Fretilin não assumirá compromissos do actual Executivo timorense, afirmou o secretário-geral do partido, Mari Alkatiri, à Agência Lusa.

"Não haverá reconhecimento automático das decisões assumidas por este Governo inconstitucional", declarou Mari Alkatiri, entrevistado pela Lusa em Díli.

"Na melhor das hipóteses, os compromissos serão revistos caso a caso por um futuro governo da Fretilin", acrescentou o secretário-geral do maior partido timorense, no regresso de um retiro de dirigentes e quadros no sul do país.

Mari Alkatiri explicou que a revisão recomendada pelo retiro da Fretilin visa "em particular os compromissos internacionais que violem a nossa soberania, ponham em causa a nossa independência e a exploração dos nossos recursos".

O ex-primeiro-ministro reafirmou a sua convicção de que "a Fretilin está condenada a vir ao poder, mais tarde ou mais cedo, e mais cedo do que tarde".

Os três dias de retiro em Holarua, distrito de Manufahi, serviram para a Fretilin "encontrar as brechas que permitiram que o golpe acontecesse em 2006 e que a conspiração, surgida já em 2002, se perpetuasse", afirmou Mari Alkatiri.

Segundo o dirigente da Fretilin, "agora está mais claro que Xanana Gusmão é um dos conspiradores e, se a justiça funcionar, chegar-se-á aos outros".

"Xanana Gusmão tem aliados internos e externos, mas não quero antecipar uma investigação mais séria", respondeu o ex-primeiro-ministro quando questionado sobre a quem se referia.

Mari Alkatiri adiantou que a Fretilin vai continuar a divulgar "provas", referindo a gravação de uma conversa telefónica, sem origem e sem data, que envolve um ex-deputado, o Procurador-Geral da República e o ex-chefe de gabinete de Xanana Gusmão.

"Esperávamos do Presidente da República uma reacção mais sensata à gravação", explicou Mari Alkatiri sobre José Ramos-Horta, que questionou apenas a proveniência da gravação. "Talvez ele esteja comprometido."

"Temos mais dados que, em tempo oportuno, vamos divulgar", prometeu Mari Alkatiri.

Interrogado pela Lusa sobre a origem das alegadas "provas" e o acesso da Fretilin a elas, Mari Alkatiri respondeu apenas que "há muitas coisas".

"Este país é pequeno e as pessoas começaram a ficar frustradas" com o novo Governo", comentou o secretário-geral da Fretilin.

No retiro de Manufahi, a Fretilin "definiu estratégias para ultrapassar as dificuldades e acelerar a queda do Governo de Xanana Gusmão", afirmou Mari Alkatiri.

"De modo algum vamos colaborar com o Governo inconstitucional", sublinhou.

"Temos sido suficientemente tolerantes e tem sido nossa estratégia mostrar que eles são incapazes de governar, para que quando o Governo cair não digam que fomos nós que não permitimos que eles governassem".

A Fretilin, vencedora das eleições legislativas de 30 de Junho, não reconhece o IV Governo Constitucional, da Aliança para Maioria Parlamentar, chefiado pelo ex-Presidente da República Xanana Gusmão.

Os mais de mil participantes no retiro de Manufahi analisaram ainda os "problemas" herdados da luta de libertação nacional.

"A verdade é que a luta foi bem sucedida mas criou alguns problemas mal resolvidos, que nós herdámos nesta geração de liderança", afirmou Mari Alkatiri. "Temos que assumir isso e não podemos passar as culpas para os mortos, como muitas vezes Xanana Gusmão faz. Quem já morreu, já morreu."

Coincidindo com o final do retiro da Fretilin, foram exibidos e homenageados os restos mortais de Vicente Reis, líder da resistência morto em 1979, enterrado em Manufahi.

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